A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que pelo menos 10 milhões de
pessoas no mundo estejam infectadas pela doença de Chagas, que em 2008 matou
mais de 10 mil pessoas. A grande maioria dos infectados ou em risco de
desenvolver a doença vive em países latino-americanos, mas o problema já atinge
outras regiões e tem chegado a países desenvolvidos.
No Japão, a doença de Chagas é uma realidade que começa a desafiar o
setor de saúde, segundo Tsutomu Takeuchi, diretor do Instituto de Medicina
Tropical da Universidade de Nagasaki, um dos pesquisadores convidados pelo
Simpósio Japão-Brasil sobre Colaboração Científica, organizado pela FAPESP e
pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência (JSPS) nos dias 15 e 16 de
março, em Tóquio.
" Fatores como a estagnação econômica e a repressão política
resultaram no significativo fluxo de pessoas de 17 países latino-americanos
endêmicos para a doença de Chagas rumo a países desenvolvidos. Por causa dessa
migração, a doença de Chagas tem se tornado uma ameaça à saúde em nível
global" , disse.
Segundo Takeuchi, estima-se que 3,8% dos cerca de 150 mil imigrantes que
chegaram à Austrália em 2006, provenientes de países endêmicos para o
Tripanossoma cruzi (o parasita causador da doença), estavam infectados com o
protozoário.
" Em 2008, a Espanha acomodou cerca de 1,68 milhão de imigrantes,
legais e ilegais, de países latino-americanos endêmicos para a doença de
Chagas. Entre esses imigrantes, estima-se que 5,2% estavam infectados com o T.
cruzi e 17,4 mil desenvolveram sintomas da doença" , disse.
De acordo com Takeuchi, na Espanha a maioria desses imigrantes estava na
cidade de Barcelona. " De 2007 a 2009, de 766 pacientes de um centro de
saúde na cidade, 22 foram diagnosticados com infecção por T. cruzi, com uma
taxa de prevalência de 2,87%. Entre os infectados, 21 eram da Bolívia, com taxa
de prevalência para os imigrantes do país de 16,5%" , disse.
O problema também atinge os Estados Unidos,
país que recebe grandes contingentes de latino-americanos a cada ano.
" Nos Estados Unidos, em 2005 o número de imigrantes latino-americanos
residentes era de 22,8 milhões, com estimados 300 mil infectados por T. cruzi.
As maiores prevalências foram demonstradas em imigrantes da Bolívia, com 6,75%,
seguida pela Argentina, com 4,13%" , disse Takeuchi.
" No Japão, em 2010 havia cerca de 300 mil imigrantes que vieram de
países da América Latina, dos quais a grande maioria, 76,6%, era do Brasil.
Infelizmente, no Japão testes em doações de sangue e verificação sorológica
para infecção por T. cruzi não têm sido extensivamente adotados da mesma forma
que em países ocidentais" , disse.
O pesquisador contou que o Departamento de Medicina Tropical e
Parasitologia da Escola de Medicina da Universidade Keio tem sido o centro de
diagnóstico sorológico e vigilância preliminar para a doença de Chagas.
" Os números ainda são pequenos, mas significativos. Esse
departamento analisou 42 casos suspeitos e confirmou que 16 deles eram
positivos para a doença. Cinco desenvolveram sintomas cardíacos associados ao
Chagas" , disse.
Takeuchi destacou que, além do desconhecimento sobre a doença, outro
problema importante da presença de Chagas no Japão é a pouca disponibilidade de
medicamentos para o tratamento aos infectados, que não são produzidos no país.
" A doença de Chagas tem sido ignorada no Japão, assim como em
outros países desenvolvidos, o que traz uma série de estigmas e mal-entendidos
contra imigrantes latino-americanos.
Por causa do grande número de pessoas nessa população sem seguro-saúde,
da dificuldade de comunicação, bem como pela ausência de medidas preventivas
contra a infecção por T. Cruzi, uma série de preconceitos surgiu em comunidades
japonesas contra os portadores da doença, levando à possibilidade de
discriminação social" , disse.
" Por conta disso, é essencial que sejam adotadas medidas urgentes
para melhorar a compreensão e o tratamento médico da doença de Chagas e de
outras doenças negligenciadas no Japão e em outros países desenvolvidos" ,
destacou Takeuchi.
Portal LJ
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