Os estrangeiros que queiram ser espanhóis terão de passar por um
“exame oficial” em que mostrem conhecer a língua e estar socialmente
integrados. É o que prevê a versão preliminar de um anteprojecto de lei que
também admite a perda da nacionalidade por razões de segurança nacional ou
ordem pública, o que está a preocupar defensores da imigração
O Código Civil espanhol já determina que a concessão da
nacionalidade depende de “boa conduta cívica e suficiente grau de integração na
sociedade”. Mas, como explica o diário El País, quem avalia as
situações são os juízes de cada região. E os seus critérios não são uniformes.
O
estrangeiro deve procurar mostrar que está integrado, mas só é submetido a
“exame” quando os juízes o exigem. Alguns obrigam a uma prova de cultura geral,
outros entrevistam os requerentes para avaliar o conhecimento que têm do país.
Segundo
a agência Europa Press, que revelou as linhas orientadores do anteprojecto, a
nacionalidade continuaria a ser concedida pelo Ministério da Justiça, mas o processo
burocrático correria no registo civil competente. As mudanças pretendidas pelo
Governo constam precisamente do anteprojecto de Reforma Integral dos
Registos.
A
ideia de criar um “exame oficial” fazia parte do programa eleitoral do Partido
Popular, liderado pelo actual chefe do Governo, Mariano Rajoy, nas eleições que
em 2011 lhe deram a vitória.
Os
documentos e provas apresentadas pelo requerente de nacionalidade devem fazer
parte de uma “acta notarial” da qual deve constar declaração que confirme aaprovação
no “exame oficial”. Seria também o notário a atestar que foi feito
correctamente o juramento de fidelidade ao Rei e obediência à Constituição.
Fonte
do ministério da Justiça citada pelo diário El País disse que “o anteprojecto ainda está
em elaboração e o exame não é assunto encerrado”. “Estamos a falar com o
Ministério da Educação para ver se se pode fazer e quais seriam os conteúdos. A
ideia é acabar com a discricionariedade actual, estabelecer uma prova objectiva
e homogénea para todos”, acrescentou. Caso vá para a frente o exame terá um
nível “básico”, afirmou também.
O
Governo quer também modificações nos motivos de perda de nacionalidade para
quem não é originariamente espanhol. Actualmente, isso podem acontecer nos
casos em que alguém continue a fazer uso da nacionalidade a que declarou
renunciar, se for militar ou desempenhar um cargo político num país
estrangeiro, ou se tiver falsificado informações ou declarações para obter a
nacionalidade de Espanha.
No
caso da função militar a ideia é alargar o impedimento, porque a prevista
revisão do Código Civil passaria a determinar a perda da nacionalidade em todas
as situações. Agora isso só acontece se o exercício de funções for feito
contra a “proibição expressa do Governo” de Madrid.
Aos
motivos actuais para a perda de nacionalidade seria somado outro: “razões
imperativas de ordem pública, de segurança ou interesse nacional”. É este que
preocupa particularmente a Plataforma de Imigrantes de Madrid. A associação vê
no anteprojecto “uma nova tentativa para coarctar os direitos das pessoas
estrangeiras”.
“Senhores
[Mariano] Rajoy e [ministro da Justiça, Alberto Ruiz] Gallardón, que fique
claro que continuaremos a denunciar os vossos atropelos”, refere um comunicado
da associação, divulgado pelo diário El Mundo.
“Pretende-se
atemorizar os nacionalizados para que não participem na política nem nos
movimentos sociais. “Quer criar-se uma segunda categoria legal de espanhóis, os
que têm plenos direitos civis e os que estão limitados a exercê-los, porque correm
o risco de o Governo de turno lhes retirar a nacionalidade de modo
discricionário”.
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