sexta-feira, 15 de março de 2013

Hospitalidade cativante atrai estrangeiros para intercâmbio em BH


Quando decidiu embarcar para o Brasil em um programa de intercâmbio de ensino médio (high school) patrocinado pelo Rotary Club, o dinamarquês Magnus Schou Madsen, de 16 anos, pretendia imergir em uma cultura diferente, experimentar novos hábitos. O jovem não quis escolher a cidade para a qual seria enviado, preferiu a surpresa. “Deixei que decidissem o meu destino, pois não queria criar expectativas”, diz. Sem nunca ter ouvido falar da capital mineira, o estudante foi enviado a Belo Horizonte em julho de 2012. O processo de adaptação foi complicado nos primeiros meses, mas o convívio com uma família belo-horizontina facilitou a estada. “Nunca vivi em um lugar tão grande. Venho de uma cidade com 8 mil habitantes, e a grandeza das coisas por aqui me assustou no início. Mas fui muito bem recebido por todo mundo e isso me deixou mais à vontade”, diz.

Como Magnus, jovens vindos de vários cantos do mundo têm desembarcado em Minas para participar de programas de intercâmbio. O estado não tem dados oficiais sobre o número de estrangeiros que frequentam as escolas mineiras anualmente. O único dado da Secretaria de Estado de Educação (SES) diz respeito à equivalência de diplomas de estudantes estrangeiros no ensino médio. Segundo o órgão, 130 alunos estrangeiros tiveram os diplomas validados em 2012. Longe dos pais e de seus costumes, e sem intimidade com a língua portuguesa, grande parte desses jovens é acolhida em casas belo-horizontinas e experimenta a tão famosa hospitalidade mineira. Bem diferente dos grandes cartões-postais brasileiros, que atraem pela beleza das praias de cidades como o Rio de Janeiro ou pela vida extremamente agitada de São Paulo, os estudantes estrangeiros afirmam que BH cativa pela forma como são recebidos.

Depois de permanecer durante os primeiros quatro meses com uma família e dar os passos iniciais no processo de adaptação à vida na capital, Magnus se mudou em dezembro do ano passado para a casa de Rita Luzia Martins, que vive com dois filhos, de 12 e 14 anos, no Bairro Fernão Dias, Região Nordeste da cidade. No lar da funcionária pública, o dinamarquês foi acolhido como um integrante da família, recebendo tanto o carinho quanto as broncas necessárias a um adolescente de 16 anos. “Num primeiro momento foi complicado, porque estava acostumada com a rotina dos meus filhos, que estão saindo da fase infantil e ainda não me pedem para sair. De repente me vi cuidando de um rapaz de 16 anos querendo passear à noite com os amigos, e eu não sabia muito bem como lidar com isso”, conta Rita. Para ela, impor limites está entre as obrigações de quem acolhe um estudante estrangeiro. “A gente recebe um intercambista como filho, então tem de pensar em tudo para fazer com que ele se sinta em casa, inclusive chamar a atenção quando preciso”, considera.

Nova rotina

Para o intercambista belga Pierre Hennen, de 18, que frequenta o curso de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ser bem recebido em Belo Horizonte não foi surpresa. A irmã do estudante já havia participado, há sete anos, de um programa de estudos na cidade de Curvelo, Região Central do estado, e falou a Pierre sobre as características do povo mineiro. Nascido em Theux, cidade com pouco mais de 11 mil habitantes, o intercambista conta que, no início, teve dificuldade de se adaptar à rotina de uma grande capital. “Na minha cidade todo mundo se conhece e a gente cumprimenta a todos na rua. Aqui não dá para agir assim”, compara. No entanto, aos poucos, o jovem se sentiu mais à vontade. “Quando você conhece as pessoas daqui, percebe que elas são muito calorosas. Se descobrem que você é estrangeiro, convidam você para entrar na casa delas,  oferecem comida e querem saber tudo sobre você”, observa Pierre, que diz não perceber tanta hospitalidade em seu país de origem.

Depois de receber três estudantes estrangeiros em menos de um ano em sua casa, no Bairro Concórdia, o engenheiro eletricista Valério Oscar de Albuquerque já se considera um pai adotivo dos intercambistas. O primeiro jovem a ser acolhido por Valério foi um japonês, em 2012, a pedido de uma de suas filhas. Como o estudante e a família se adaptaram bem, o engenheiro decidiu repetir a experiência. Pouco tempo depois ele recepcionou um rapaz francês e atualmente hospeda a estudante Tereza Flegrová, da República Tcheca. Na avaliação de Valério, a melhor forma de recepcionar um jovem estrangeiro é fazendo com que ele se sinta parte da família. “Eles têm de entender que precisam se adaptar aos nossos costumes, e não o contrário. Os adotamos como filhos, com os mesmos direitos e deveres. Mas, acima de tudo, dedicamos tempo a eles, dando muito carinho e conversando bastante”, afirma. 

Improviso diante do português

Mesmo acolhidos pelas famílias, a disparidade de costumes pesa no processo de adaptação desses jovens. O primeiro grande desafio, na maioria dos casos, é conseguir se comunicar. Sem saber uma única palavra em português, o jeito encontrado por Magnus foi improvisar. “Assim que cheguei a Belo Horizonte, já fui à escola e tive de conversar com os colegas e professores em inglês, para que eles pudessem me entender. O problema é que nem todo mundo falava aquela língua e tive de me esforçar para aprender o português”, conta o jovem. 

Demorou cerca de três meses para que Magnus vencesse o obstáculo do idioma, mas falar português era apenas uma das etapas em um processo de adaptação bem mais complexo para o dinamarquês. “Todo mundo olhava para mim por causa das minhas roupas. No meu país usamos short acima do joelho, e não bermudas como os homens daqui, o que chamava muito a atenção das pessoas nas ruas”, lembra o intercambista, que relutou durante os primeiros meses antes de aderir ao vestuário brasileiro.

O calor também ainda é um fator que o incomoda. “Em um dia muito quente, vi que o Magnus não estava na cama e fui encontrá-lo dormindo no chão da varanda, tentando diminuir a sensação de calor”, conta Rita, que diz prestar atenção aos hábitos do jovem, numa tentativa de facilitar a estada dele na cidade. “Observo os hábitos alimentares e sei o que ele gosta de comer. Sei, por exemplo, que ele adora feijão e fica superfeliz quando faço pão de queijo.”

Adaptar-se aos métodos de ensino brasileiro é um obstáculo para alguns intercambistas. “Na Bélgica, os professores não escrevem tanto no quadro, porque as aulas são mais interativas”, compara Pierre. “Estou acostumado com aulas que nos convidam a ser mais criativos, elaborar projetos. No Brasil, é tudo baseado em decorar o conteúdo”, estranha o dinamarquês Magnus, que revela ainda ter dificuldade em entender a gramática do português, embora já domine a pronúncia do idioma.

Interesse cada vez maior

O Brasil atrai cada vez mais o interesse de estudantes estrangeiros. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, que emite os vistos para quem quer passar uma temporada estudando no país, colombianos, portugueses, franceses e angolanos são os que mais buscam o intercâmbio. Em 2012, segundo balanço do ministério, foram emitidos vistos para 1.333 estudantes colombianos, 944 portugueses, 934 franceses e 745 angolanos. As representações brasileiras em 156 países estão aptas a orientar os estrangeiros que querem estudar aqui. A curiosidade sobre aspectos da cultura brasileira e as oportunidades de emprego e estudo de melhor qualidade são os principais atrativos para os jovens estrangeiros.

EM.COMBR  

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