sábado, 18 de agosto de 2012

Ódio e intolerância: Corações sujos revive história da migração japonesa no Brasil


Filmes que colocam sentimentos como a vingança e a traição em primeiro plano não raras vezes esbarram em clichês ou falsos moralismos e se aproximam facilmente do lugar-comum. Corações sujos, longa-metragem de Vicente Amorim, adaptado do livro homônimo de Fernando Morais, é exceção à regra. O filme é baseado na real e inusitada situação vivida pelos imigrantes japoneses e seus descendentes, que, morando no Brasil e sem notícias confiáveis da terra do Sol Nascente, não acreditavam na derrota de seu país na Segunda Guerra Mundial. Aos que duvidavam da verdade, restavam o ódio, a perseguição e até a morte.
Com um ótimo roteiro de David França Mendes, Corações sujos  tem sua narrativa ambientada no interior de São Paulo, nas origens daquela que viria a se tornar a maior comunidade japonesa, no mundo, fora do Japão. Entre 1945 e 1946, quase 80% dos cerca de 200 mil imigrantes estavam em cidades do Oeste paulista e do Paraná, acreditando ainda na vitória de seu país. Para eles, os japoneses que aceitavam a notícia da rendição eram traidores. Uma desonra que só poderia ser lavada com sangue. Assim começaram os ataques dos “vitoristas” (ou kachigumi) contra aqueles que aceitavam a derrota (os “derrotistas”, ou makegumi), apelidados pejorativamente de “corações sujos” pelos opositores.

Por mais de um ano, dezenas de atentados ocorreram nos municípios que abrigavam as comunidades japonesas em São Paulo, desafiando as autoridades policiais. Na ficção, o recurso usado para recuperar o clima de vingança e traição foi centrar os conflitos na história de um homem comum, o imigrante Takahashi, dono de uma pequena loja de fotografia, casado com a professora primária Miyuki, que se envolve nessa guerra e é afetada pela intolerância, o radicalismo, a manipulação e o medo. 

Filmado em locações nas cidades de Paulínia e Campinas entre abril e maio do ano passado, Corações sujos aposta em inovações de linguagem, como o uso de câmera em movimento e imagens desfocadas para dar a sensação de alucinação e cegueira nos personagens tomados pelo ódio. Os ótimos atores japoneses escalados são outro trunfo. Tsuyoshi Ihara, protagonista de Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood, interpreta o protagonista Takahashi; enquanto Takako Tokiwa faz o papel de Miyuki. Noboru
Watanabe, líder do bando justiceiro que tenta convencer a todos da supremacia japonesa, é o personagem de Eiji Okuda, um dos atores e diretores de cinema mais premiados do Japão. Quando bom elenco, roteiro e direção consistente se juntam num projeto como este, o resultado só poderia ser ótimo entretenimento. 

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