O portal do Memorial Digital do Refugiado (MemoRef) foi
lançado nesta quinta-feira (10), em Guarulhos (SP). O trabalho reúne um acervo
com relatos escritos, audiovisuais, sonoras, fotografias e entrevistas feitas
com refugiados.A iniciativa é de um grupo de estudantes de letras da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O
site é resultado de um projeto desenvolvido pelos alunos de ministrar aulas de
português para 20 refugiados, entre sírios, camaroneses e nigerianos,
desde o final de agosto deste ano. O material disponibilizado no portal é
baseado nas experiências vivenciadas por esses alunos.
“Hoje
nós lançamos o memorial, com a intenção de transformá-lo em um acervo para
pesquisa estudantil e acadêmica”, disse Ana Flávia Ercolini Ferreira, uma das
organizadoras do MemoRef. “Nesse memorial, você encontra as nossas fotos, as
atividades [realizadas]
e o áudio dos alunos contando um pouco da história deles, suas expectativas e
as produções escritas. O acervo está sendo lançado com alguns documentos que
temos e, ao longo do curso, nos próximos anos, vamos alimentar com novos dados”.
A
estudante Marina Reinoldes, uma das organizadoras do MemoRef, lembrou que a
barreira linguística é a primeira que os imigrantes enfrentam. "Sem a
língua, não conseguem ir ao mercado, comprar comida, não conseguem pedir
ajudar, não conseguem trabalhar. Sem trabalhar, não conseguem dinheiro, nem
trazer a família”, afirmou.
O
curso de português agradou à comunidade em situação de refúgio que mora em
Guarulhos. “[O curso]
ajuda para falar português, ler e escrever um pouco. Esse curso é muito
importante para nós porque, quando chegamos aqui, não falávamos nada de
português”, disse Hany, 24 anos, sírio que está no Brasil há um ano.
Há
cinco meses, ele conseguiu trazer a família e tirá-la do meio da guerra em seu
país. Questionado se pretende continuar o curso, ele diz: “Claro!” e
explica que quando chegaram aqui não sabiam falar nada em português. Na Síria,
estudava economia e agora quer aperfeiçoar o idioma para terminar o curso aqui
no Brasil.
Também
vinda da Síria para fugir da guerra, a advogada Alaa, 27 anos, veio com a
família, ao todo, 15 pessoas, há um ano. “Agora [após
o curso] nós entendemos o que as outras pessoas falam. Eu sou
advogada e preciso estudar a língua da academia, não só do dia a dia. Eu falo
inglês, mas aqui as pessoas não usam essa língua”, disse, sobre o aprendizado
no curso. Ela ressaltou que, depois das aulas, está mais fácil procurar
trabalho: “Agora entendo o que as pessoas falam, eu consigo falar o que quero e
entender o que você quer”.
Assistente social da
Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, Adelaide Pereira trabalha no Centro de
Referência para Refugiados. Segundo ela, o MemoRef contribuiu para que os
refugiados começassem a dar seus passos e se integrarem aqui no Brasil.
“Aprender português é o segundo problema da população refugiada, o primeiro é
moradia. Porque quando chega, não sabe onde vai ficar. O segundo grande
problema é o português para ajudar na integração, na busca de trabalho, na
revalidação de títulos, no retorno aos estudos”, acrescentou.
Adelaide destacou a particularidade
do projeto, criado e desenvolvido por estudantes. “É extremamente importante o
projeto do curso de português e, especialmente, o MemoRef, que foi um trabalho
criado pela juventude já sensibilizada pela questão do refugiado e que abraçou
esse projeto na universidade, que trouxe para dentro da universidade a
realidade do refúgio e que pode distribuir e divulgar essa realidade para
tantos jovens”, completou.
Agencia Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário