A travessia do Mediterrâneo é traiçoeira, o risco de afogamento
é constante. Mas os refugiados continuam a chegar, dia após dia, em uma frota
de botes que se espalham pelas margens das ilhas gregas próximas à Turquia,
totalizando quase 800 mil pessoas somente em 2015.
A maioria está fugindo
do conflito na Síria. Em termos de nível educacional, eles representam o
potencial produtivo de seu país: 86% dizem que têm o ensino secundário ou
universitário. Metade do grupo pesquisado tem estudado em universidades.
Mas eles carregam as
feridas da guerra da Síria consigo. Um a cada cinco pesquisado ainda está à
procura de um membro de sua família que ficou no país.
Estes
são alguns dos resultados de uma pesquisa (dados em inglês) recém-publicada
pelo ACNUR Inspirada em entrevistas realizadas pelas equipes de proteção do ACNUR nas
fronteiras greco-turca, ao total foram entrevistados 1.245 sírios entre abril e
setembro de 2015.
A grande maioria dos
entrevistados (78%) tinha menos de 35 anos. A profissão mais frequentemente
mencionada foi a de estudante: 16 % dos desse total disseram que estavam
estudando antes de fugirem. As demais profissões mais citadas foram:
comerciantes – 9%; carpinteiros, eletricistas, encanadores – 7%; engenheiros,
arquitetos – 5%; médicos ou farmacêuticos – 4%.
No geral, o perfil da
população em fuga é pessoas altamente qualificadas.
Quase dois terços dos
entrevistados (63%) disseram que eles deixaram a Síria em 2015. E cerca de 85%
afirmaram que chegaram a uma das ilhas gregas em sua primeira tentativa. A
maioria dos que responderam ao questionário (65%) disseram não ter necessidades
especiais. Cerca 5% disseram ainda que foram torturados.
A maioria passou menos
de três meses em um terceiro país antes de atravessar o Mediterrâneo. Poucos,
apenas 13%, tinham os documentos necessários para ficar em um terceiro país.
Entre essas pessoas, quase a totalidade (91%) das que viviam em um terceiro
país por mais de um mês estavam hospedados em alojamentos particulares. Apenas
uma minoria, apenas 3%, estavam alojados em acampamentos.
As principais razões
para deixar um terceiro país e cruzar o Mediterrâneo foram as dificuldades de
encontrar trabalho e os temores sobre sua própria segurança.
"Este estudo é o
primeiro de uma série de avaliações que o ACNUR está realizando para entender
quem são esses refugiados, de onde vêm, o que já passaram", disse Diane
Goodman, Chefe do Escritório do ACNUR na Europa. "Somente quando os
governos, o ACNUR e seus parceiros possuírem estas informações que nós podemos verdadeiramente
satisfazer as necessidades de assistência e de proteção à estas famílias".
Dentre os entrevistados,
cerca de 58% disseram que sua intenção era a de tentar trazer posteriormente
outros membros da família ao seu país de refúgio.
À medida que o conflito
na Síria se aproxima do quinto ano da eclosão do conflito, a maioria daqueles
que desembarcaram nas costas europeias disseram que estavam esperando para
obter refúgio na Alemanha, seguido pela Suécia. As principais razões que os
entrevistados deram foram a reunificação familiar, a assistência aos
refugiados, as possibilidades de emprego e oportunidades educacionais.
"Sírios arriscam
suas vidas e as vidas de seus filhos para tentar chegar na Europa em busca de
oportunidades de educação e emprego, pela chance de viver em paz e
segurança", disse Goodman. "No entanto, poderia haver formas legais
de vir para a Europa - através de reunião familiar, vistos de estudante ou de
trabalho, de patrocínios privados ou mais vagas para o reassentamento - o que
seria mais seguro, mais regulado e infinitamente mais humano."
A pesquisa do ACNUR não
representa toda a população de refugiados sírios que chegam à Grécia e a
metodologia usada não era uma amostragem aleatória.
Mas a análise propicia
uma visão geral do 'perfil' de sírios que chegaram na Grécia entre abril e
setembro de 2015.
Acnur
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