terça-feira, 21 de maio de 2013

Frei Betto critica resistência a médicos estrangeiros: 'Medo é a competência'

Escritor afirma que profissionais cubanos levam em conta os direitos do cidadão, e não o mercado, e propõe que alunos de faculdades públicas tenham de atender gratuitamente no início da carreira


O escritor Frei Betto critica os ataques à decisão do governo federal de trazer médicos estrangeiros para o Brasil, que avalia como uma tentativa de melhorar a distribuição dos profissionais da saúde no país. Ele também criticou o sistema médico brasileiro "cada vez mais mercantilizado": "O Conselho Federal de Medicina (CFM) reclama da suposta validação automática, mas em nenhum momento isso foi defendido pelo governo. O temor é encarar a competência de médicos estrangeiros."

Em sua coluna semanal na Rádio Brasil Atual, Betto ressalta que há uma distribuição desigual dos profissionais da saúde no país e cita dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2011, que indicam a concentração de 209 mil médicos (dos 372 mil registrados no Brasil) nas regiões Sul e Sudeste e pouco mais de 15 mil na região Norte. Segundo esses dados, 65% dos médicos brasileiros se encontram em áreas onde reside menos da metade da população brasileira.
"Médico cubano não virá para o Brasil para emitir laudos de ressonância ou atuar em medicina nuclear. Ele vai tratar de verminoses, malária e desidratação, reduzindo casos de mortalidade materna e infantil, aplicando vacinas e ensinando medidas preventivas, como cuidados de higiene", diz Frei Betto.
Segundo estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), o Brasil dispunha de 1,8 médico para cada mil habitantes em 2011, enquanto os índices da Argentina e de Cuba eram de 3,16 e 6,39 médicos por cada mil habitantes, respectivamente.

Betto indica algumas iniciativas para tentar reverter o quadro, como a proposta do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) de fazer os médicos formados em universidades públicas trabalharem durante 2 anos em áreas carentes, a fim de ter seus registros profissionais validados.
Outra iniciativa é o programa de valorização do profissional de saúde de atenção básica, que oferece salário inicial de 8 mil reais e pontos de progressão de carreira para médicos que realizarem serviços de atenção primária à população de 1.407 municípios.
Na semana passada, o governo federal anunciou a possibilidade de trazer de seis mil médicos cubanos para trabalhar no interior do Brasil. Em seguida, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acrescentou que o governo busca fechar parcerias também com Portugal e Espanha. O porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumman, anunciou hoje (20) que o Brasil oferecerá vistos de trabalho entre 2 e 3 anos para profissionais dos três país que queiram realizar atendimento em cidades do país carentes na área da saúde.
"A ideia do programa é concentrar os médicos em cidadãos onde não há ou onde há um índice de profissionais muito abaixo da média mundial e em subúrbios", disse durante evento promovido pela Agência EFE. Traumman disse ainda que o governo negocia esse programa com os três países desde o ano passado e esclareceu que o número de médicos que poderão vir ao Brasil ainda não foi definido.

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