Para debater os desafios e contribuir com propostas para a
integração de migrantes, refugiados, brasileiros retornados e apátridas no
Brasil, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e o Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) realizam até hoje dia 9 , em
Brasília, o IX Encontro Nacional das Redes de Proteção.
O
evento reúne cerca de 50 entidades de todo o país, envolvidas com a atenção a
migrantes e refugiados que vivem no Brasil e associadas à Rede Solidária para
Migrantes e Refugiados, coordenada pelo IMDH.
Com
o tema “Migrantes, Refugiados, Retornados e Apátridas: os Desafios da
Integração”, o encontro busca avaliar a conjuntura e os aportes existentes para
cada uma destas populações e formular propostas para melhorar seu acesso aos
benefícios sociais, além de sua efetiva integração à sociedade brasileira.
Segundo
Rosita Milesi, diretora do IMDH e anfitriã do evento, estes grupos têm suas
especificidades, mas um universo comum de necessidades. “São pessoas em
situação social vulnerável que quando chegam aqui no Brasil precisam de
mecanismos que as ajude a recomeçar”, disse ontem, na abertura do evento.
Para
a diretora do IMDH, a integração supõe quatro dimensões: socioeconômica,
político-jurídica, cultural e acolhimento social. “Vamos aprofundar nosso
conhecimento sobre este cenário para migrantes, refugiados, retornados e
apátridas e pensar na integração especialmente por meio dos direitos
socioassistenciais que já existem, estão regulamentados e podem ser estendidos
a estas populações”, disse Milesi. “Os entraves são muitos, por isso é
importante debater sobre estes direitos e as lacunas que precisam ser
resolvidas”, completou.
Além
do IMDH, a sessão de abertura teve a participação do Representante do ACNUR no
Brasil, Andrés Ramirez, do Presidente do Comitê Nacional para os Refugiados
(CONARE), Paulo Abrão, do Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), D. Leonardo Steiner e do Embaixador do Haiti no Brasil,
Madsen Cherubin.
Para
o Represente do ACNUR, o encontro das redes é uma oportunidade única de “trocar
experiências com as entidades que lá na ponta acolhem e conhecem a realidade
das vítimas de violência e de situações econômicas muito difíceis”. Ele
explicou que ao longo do tempo o mandato do ACNUR – que inicialmente abarcava
somente refugiados – foi alterado para incluir outras categorias de pessoas que
também precisam de proteção, como deslocados internos em razão de conflitos e
apátridas. Estes últimos – cuja situação também é tema do encontro das redes –
são pessoas sem nacionalidade reconhecida por nenhum país e por isso são totalmente
alijadas de seus direitos civis e sociais.
Segundo
o presidente do CONARE, Paulo Abrão, a realidade é sempre mais complexa e
rápida do que a capacidade de ação dos governos, daí a importância de ouvir
quem está na linha de frente da assistência a refugiados e migrantes. “Todos
nós trabalhamos com os mesmos princípios e valores, porém em papéis e esferas
distintos. O que nos dá oportunidade de melhorar nosso trabalho é compartilhar
nossas vivências, porque sem gerar indignação em torno dos problemas não somos
capazes de criar soluções concretas”, disse Abrão.
“Não
poderia perder a oportunidade de agradecer a vocês brasileiros pelo apoio que
têm dado aos cidadãos do meu país”, disse o embaixador do Haiti no Brasil,
Madsen Cherubin, referindo-se às decisões do governo para regularizar a
situação migratória dos haitianos de chegaram ao Brasil após o terremoto de
2010, mas especialmente às entidades que acolhem e apoiam diretamente os
imigrantes haitianos em todo o território nacional.
Os
debates seguiram com o diretor da Revista REMHU, Roberto Marinucci, que
apresentou um panorama global das migrações e, em seguida, o oficial de
Proteção do ACNUR, Gabriel Godoy, fez uma exposição sobre apatridia,
apresentando as convenções internacionais e os principais problemas enfrentados
pelas pessoas que não têm nacionalidade reconhecida por nenhum país.
As
entidades da rede votaram uma moção de apoio ao anteprojeto de lei de
apatridia. Elaborado pelo ACNUR em parceira com a Secretaria Nacional de
Justiça e apoiado pela sociedade civil, o anteprojeto reflete os compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil na proteção de apátridas, propõe
procedimentos para determinação desta condição e um estatuto que estabelece os
direitos e deveres de apátridas no território nacional. O anteprojeto em breve
deverá ser encaminhado pelo poder executivo ao Congresso Nacional.
Nesta
quarta-feira (08/05) haverá o debate “Os direitos sócioassistenciais básicos e
respectivos mecanismos de acesso”, apresentado pelo secretário estadual de Desenvolvimento
Social do Distrito Federal, Daniel Seidel, com a coordenação do presidente do
Conselho Nacional de Imigração (CNIg), Paulo Sérgio de Almeida. A mesa “Tráfico
humano” vai tratar do II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas,
a participação da sociedade civil, além do tema migração haitiana e Direitos
Humanos, com a participação do presidente do CONARE e da advogada do Ministério
da Justiça, Fernanda Anjos. A atenção aos brasileiros e brasileiras que
retornam ao país será abordada pelo presidente do Núcleo de Informação e Apoio
a Trabalhadores Retornados do Exterior (Niatre-Isec), Reimei Yoshioka.
No
último dia de encontro, sexta-feira (09/05), os participantes debaterão a
proteção a crianças imigrantes e refugiadas que chegam ao Brasil
desacompanhadas, além de um levantamento sociodemográfico sobre refugiados que
está sendo feito pelo Instituto de Pesquisas Avançadas (IPEA), em parceria com
o ACNUR e o CONARE.
A
Rede Solidária para Migrantes e Refugiados é um espaço de articulação aberto,
tanto em âmbito nacional quanto internacional, em favor da causa dos migrantes
e dos refugiados. As instituições e organizações associadas estão espalhadas
por todo o Brasil. O propósito da rede é facilitar e favorecer os contatos, a
articulação, o intercâmbio, a localização das entidades, na atuação junto e a
favor dos migrantes e dos refugiados.
Segundo
estatísticas do Governo atualizadas até março deste ano, o Brasil abriga um
total de 4.262 refugiados reconhecidos, vindos de mais de 70 países, sendo a
maior parte de angolanos (1.060), colombianos (738) e congoleses (570). O
debate e a troca de conhecimento entre as entidades da rede são ferramentas
importantes para elaborar ações que atendam às necessidades de acolhimento
deste público tão diverso.
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