quarta-feira, 8 de maio de 2013

Despejo põe fim à 'república do Haiti' no centro de SP


Sob o olhar atento de policiais militares e federais, cerca de cem imigrantes haitianos deixaram no início da manhã de ontem um imóvel que, até a semana passada, ocupavam sem saber que estava em situação irregular.
Era o fim, como base numa decisão judicial, de uma espécie de república informal de haitianos instalada no centro de São Paulo. Entre os despejados, há de pedreiros a sociólogos, com idade entre 13 e 40 anos.
Todos estão na cidade em busca de emprego, mas a maioria está sem ocupação e se sustenta com dinheiro enviado pela família. Apenas três deles falam português, mas com o sotaque bem carregado.
Eles receberam a ordem de despejo na quarta-feira passada. Só então ficaram sabendo que o imóvel é alvo de litígio há mais de 15 anos devido a uma ação trabalhista.
Os haitianos pagavam aluguel a um homem identificado apenas como Marcos, responsável por pagar as contas de água e energia.
Foi ele quem instalou divisórias e loteou o espaço, transformando o que era um grande vão em 26 "quartos", e sublocou essas unidades.
Cada inquilino pagava
R$ 350 por um lote, alguns deles um pouco maiores que uma cama de casal. Aqueles que conseguiram mais espaço puderam mobiliá-lo com fogão e geladeira.
"Há dois meses, talvez já sabendo que viria a decisão, Marcos sumiu e deixou de pagar as contas", disse o pedreiro Odaniel Joune, 34, natural de Saint Michel de l'Attalaye
Sem luz e água quente, essa centena de haitianos se revezava para usar dois banheiros, um deles sem a torneira da pia. O forte odor revelava a dificuldade de manter a higiene no local. Um rato cruzou o caminho da reportagem durante uma entrevista.
RETIRADA
Ontem, a polícia chegou ao local no final da madrugada. Todos deixaram o imóvel de forma pacífica e até com bom humor. Os sorrisos e as brincadeiras, no entanto, não escondiam uma apreensão: onde dormiriam naquela noite?
Eles foram encaminhados para abrigos, segundo Mônica Quenca, assistente social da Missão Paz, ONG responsável pelo atendimento aos estrangeiros e pela intermediação com a prefeitura.
Já os móveis foram todos levados para um depósito.
"Eles não serão deportados. Muitos estão com a documentação regularizada, e os que não têm vão receber passaporte humanitário", disse.

Folha

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