Sob o olhar atento de policiais militares e federais, cerca de cem
imigrantes haitianos deixaram no início da manhã de ontem um imóvel que, até a
semana passada, ocupavam sem saber que estava em situação irregular.
Era
o fim, como base numa decisão judicial, de uma espécie de república informal de
haitianos instalada no centro de São Paulo. Entre os despejados, há de
pedreiros a sociólogos, com idade entre 13 e 40 anos.
Todos
estão na cidade em busca de emprego, mas a maioria está sem ocupação e se
sustenta com dinheiro enviado pela família. Apenas três deles falam português,
mas com o sotaque bem carregado.
Eles
receberam a ordem de despejo na quarta-feira passada. Só então ficaram sabendo
que o imóvel é alvo de litígio há mais de 15 anos devido a uma ação
trabalhista.
Os
haitianos pagavam aluguel a um homem identificado apenas como Marcos,
responsável por pagar as contas de água e energia.
Foi
ele quem instalou divisórias e loteou o espaço, transformando o que era um
grande vão em 26 "quartos", e sublocou essas unidades.
Cada inquilino pagava
Cada inquilino pagava
R$
350 por um lote, alguns deles um pouco maiores que uma cama de casal. Aqueles
que conseguiram mais espaço puderam mobiliá-lo com fogão e geladeira.
"Há
dois meses, talvez já sabendo que viria a decisão, Marcos sumiu e deixou de
pagar as contas", disse o pedreiro Odaniel Joune, 34, natural de Saint
Michel de l'Attalaye
Sem
luz e água quente, essa centena de haitianos se revezava para usar dois
banheiros, um deles sem a torneira da pia. O forte odor revelava a dificuldade
de manter a higiene no local. Um rato cruzou o caminho da reportagem durante
uma entrevista.
RETIRADA
Ontem,
a polícia chegou ao local no final da madrugada. Todos deixaram o imóvel de
forma pacífica e até com bom humor. Os sorrisos e as brincadeiras, no entanto,
não escondiam uma apreensão: onde dormiriam naquela noite?
Eles
foram encaminhados para abrigos, segundo Mônica Quenca, assistente social da
Missão Paz, ONG responsável pelo atendimento aos estrangeiros e pela
intermediação com a prefeitura.
Já
os móveis foram todos levados para um depósito.
"Eles
não serão deportados. Muitos estão com a documentação regularizada, e os que
não têm vão receber passaporte humanitário", disse.
Folha
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