quarta-feira, 17 de agosto de 2011

migrantes e refugiados políticos buscam trabalho no Brasil


A expansão da economia brasileira nos últimos anos está atraindo os estrangeiros. Muitos ainda vivem em situação irregular.


A expansão da economia brasileira nos últimos anos está atraindo os estrangeiros. Nesta segunda-feira (15), o Jornal Nacional mostrou o crescimento do número de profissionais que vêm de fora para preencher vagas em que faltam trabalhadores brasileiros especializados. Agora, mostra que o Brasil também recebe imigrantes que desejam recomeçar a vida. Alguns são refugiados políticos.

Parece uma rua de La Paz, capital da Bolívia. Os anúncios, cartazes e as conversas são em espanhol. Mas está a 2,4 mil quilômetros, no Brás, um bairro de São Paulo.

Ester, de Oruro, se sente em casa: chegou há dez anos, sempre trabalhou como ambulante e manda dinheiro para a família que ficou na Bolívia: “Devo tudo ao Brasil. Se não tivesse vindo, meus filhos não teriam estudado”, diz ela.

A rota dos bolivianos e de outros sul-americanos é conhecida. Entram clandestinamente por cidades de fronteira, como Corumbá, Ponta Porã e Foz do Iguaçu. Eles poderiam chegar legalmente, porque o Brasil mantém acordo de livre circulação de pessoas com cinco vizinhos, mas são enganados por máfias que trazem trabalhadores principalmente para a indústria de confecção na Grande São Paulo.

“Já ouvimos que a viagem custa de R$ 800 a R$ 1,2 mil por trabalhador. Ele chega devendo esse dinheiro, assim que ele chega. Ele vai trabalhar para pagar essa divida de trabalho. Isso é o que nós chamamos de escravidão por dívida”, Renato Bignami, subsecretário de inspeção do trabalho.

Renato Bignami diz que os estrangeiros se submetem a essas condições porque o emprego no Brasil é certo e a renda per capita é no mínimo o dobro da de seus países. Foi ele quem comandou em abril deste ano uma blitz em uma confecção que empregava bolivianos clandestinos.

Eles trabalhavam 14 horas por dia, viviam e comiam na oficina e recebiam quase nada: vinte centavos por peça costurada.

“Como estão no país de forma irregular e não registrados, as garantias não existem. É a lei do mais forte, o estado não consegue dar proteção à qual eles fazem jus”, explica Renato Bignami.

No ano passado, o governo anistiou 41,816 mil imigrantes que viviam ilegalmente. Além dos latino-americanos, destaque para chineses, com 5,4 mil que tiveram autorização para residir no país, e coreanos, com pouco mais de 1,1 anistiados.

Mas como ainda há muitos ilegais, o pesquisador José Renato de Campos Araújo, da USP, diz que é difícil saber quantos imigrantes latino-americanos vivem hoje em São Paulo: “Os especialistas trabalham entre 500 mil e 800 mil. É um fenômeno novo em uma cidade como São Paulo, que sempre esteve acostumada com imigrantes da Europa, dos italianos, os espanhóis, os judeus, depois um pouco de coreano, os japoneses, mas latino-americanos é novidade”, afirma.

Bolivianos, paraguaios e peruanos que vivem em São Paulo nem sempre se dão bem, como mostram imagens de violência divulgadas no G1 nesta terça-feira (16). São brigas de jovens imigrantes que estão sendo investigadas por promotores de Justiça. São exceções em um ambiente de calma e solidariedade que prevalece entre estrangeiros.

Os latino-americanos têm suas feiras semanais e um programa de rádio. O bom momento do mercado de trabalho também cria condições para o Brasil receber bem um tipo de imigrante que é acolhido aqui por razões humanitárias, gente que deixou seu país para escapar de guerras e perseguições. São os refugiados.

Quase todos são africanos. Alguns fugiram da República Democrática do Congo. Emana estava preso em seu país por razões políticas. Ele fugiu e, junto com a mulher, cruzou o Atlântico em um porão de navio. Os dois passaram um mês no escuro comendo bolachas. Desceram em Santos, achando que estavam em Angola.

“Vi um rapaz que estava conversando ao telefone em francês, um nigeriano. Perguntei onde estávamos e ele disse Brasil”, lembra Emana.

O acaso deu certo. Em menos de dois anos, montaram uma pequena, mas bem sucedida, firma de reforma de casas.

“Com um pouquinho de estudo, você consegue ganhar dinheiro”, destaca a mulher.

“Com trabalho, você ganha muito dinheiro”, reforça Emana.

O casal tem agora um grande objetivo: trazer os quatro que filhos que ficaram na África. O dinheiro das passagens aéreas já está na conta corrente.

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