quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aumento da natalidade não é suficiente para acabar com imigração


Os fluxos migratórios do sul para o norte vão se acelerar? A taxa de fecundidade dos países desenvolvidos conseguirá aumentar de forma constante? Algumas respostas na segunda parte da entrevista com o demógrafo suíço Philippe Wanner.
Durante o século XX, a população mundial explodiu de 1,6 bilhões em 1900 para 6,1 bilhões em 2000. O crescimento deverá continuar durante todo o século XXI.

O fenômeno da transição demográfica não deve acontecer tão rapidamente como o esperado em algumas partes do globo. Segundo as projeções da ONU, em 2011, oficialmente no dia 31 de outubro, seremos 7 bilhões a morar no planeta.

Na segunda parte da entrevista concedida à swissinfo.ch, o demógrafo suíço Philippe Wanner, professor da Universidade de Genebra, garante que a imigração é inevitável para frear a despovoação nos países desenvolvidos.

swissinfo.ch: Será que vamos ver um aumento significativo na imigração dos países com altas taxas de fecundidade aos países com taxas baixas?
PW: A Europa está fechando suas fronteiras, mas há uma forte pressão migratória no continente. Por enquanto, essa migração não atende a lógica demográfica, mas sim política e econômica. A Suíça precisa de enfermeiros, que ela irá recrutar no Canadá, que por sua vez, vai contratar no Marrocos, que irá busca-los na Mauritânia, e assim por diante. Não existe um fluxo migratório único do sul para o norte, mas uma imigração feita em várias etapas. Mais do que um fluxo migratório, é uma espécie de equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho.

swissinfo.ch: A demografia não é um fator determinante da migração?
PW: A demografia pode ser um fator, mas as barreiras postas em prática são tais que a migração não é feita em um contexto liberal.

swissinfo.ch: A Europa deverá necessariamente fazer uma escolha entre uma política pró-natalidade e um aumento da imigração para compensar a não renovação natural de sua população?
PW: Não é nem mesmo uma escolha, uma vez que as políticas pró-natalidade têm efeito limitado. Devemos investir muitos meios para obter resultados significativos. Os países europeus, incluindo a Suíça, precisam, ao mesmo tempo, de incentivar as famílias e contar com um saldo migratório positivo.

swissinfo.ch: O exemplo francês, no entanto, tende a mostrar que políticas familiares têm um impacto positivo sobre as taxas de fecundidade.
PW: As políticas pró-natalidade não-coercitivas, humanamente aceitáveis, permitem alcançar uma fecundidade geralmente correspondente ao desejo dos casais. No caso da Suíça, os casais dizem que gostariam de ter dois filhos em média, enquanto a taxa de fecundidade atual é de 1,5 filhos por mulher. Através de uma política familiar bem engajada conseguiremos alcançar 1,8 ou 1,9 filhos por mulher, o que corresponderia à vontade dos indivíduos. Mas, qualquer que seja a política familiar empregada, não conseguiremos ultrapassar o limite dessa vontade.

" As políticas familiares mais avançadas não são capazes de garantir a renovação natural das gerações nos países desenvolvidos. "

swissinfo.ch: Você quer dizer então que a imigração é o único caminho para alcançar um crescimento vegetativo positivo?
PW: Sim, a imigração é essencial para frear o despovoamento dos países ricos.

swissinfo.ch: Parece que a taxa de fecundidade dos países desenvolvidos voltou a subir. Essa inversão da tendência vai durar muito tempo?
PW: Nos Estados Unidos e na França, por exemplo, há um ligeiro aumento da taxa de fecundidade. Mas isso não deve durar muito. Estes aumentos são devidos principalmente a maior taxa de fecundidade da população imigrante. Se, por enquanto, essa categoria tem tido mais crianças do que a população nativa, a taxa de fecundidade também vem diminuindo nos países de origem dos imigrantes, penso particularmente no Magrebe.

Este aumento temporário também é devido ao reescalonamento de partos de mulheres nascidas nos anos 70 e que estão agora com 35 e 40 anos. Algumas dessas mulheres não tiveram filhos por motivos profissionais e hoje aproveitam o último momento para realizar esse desejo. É uma espécie de "baby boom", um fenômeno puramente cíclico. Nos encontramos mais em um período de estabilização da fecundidade.

swissinfo.ch: Em termos de fertilidade, o fosso entre ricos e pobres vai ser reduzido?
PW: Ele se resume a nível do país, mas também a nível regional, as diferenças continuam sendo significativas. Em áreas urbanizadas da África, a fertilidade diminuiu. Este é o caso da Costa do Marfim e do Senegal, onde as mulheres urbanas têm, em média, entre 2,5 e 3 crianças. No entanto, as áreas rurais mantêm ainda uma taxa de fecundidade de cerca de 6-7 filhos por mulher.

swissinfo.ch: O fenômeno da "transição demográfica", ou seja, a diminuição conjunta das taxas de mortalidade e natalidade, está acontecendo em todos os lugares?
PPW: Esse fenômeno já terminou nos países industrializados e está em fase final nos países da América Latina. Na África subsaariana, a fertilidade diminui muito lentamente e a mortalidade permanece alta, especialmente por causa da AIDS. Essa transição é muito mais lenta que previsto anteriormente e vai demorar décadas antes de terminar. Isso explica as previsões de crescimento demográfico reatualizadas para cima pela ONU.

Samuel Jaberg, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy

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