terça-feira, 10 de maio de 2011

Aumento da hostilidade contra latinos pode afetar reeleição de Obama, diz especialista


A falta de empenho em cumprir sua promessa de campanha de reformar as leis de imigração e, sobretudo, o aumento do número de deportações de imigrantes ilegais durante seu governo pode custar ao presidente Barack Obama o apoio do eleitorado hispânico em 2012. Essa é a análise de Maricela Garcia, diretora de desenvolvimento de capacidades do NCLR (National Council of La Raza), maior organização de defesa dos direitos civis da comunidade latina nos Estados Unidos.

Uma comunidade que, aliás, tende a ganhar cada vez mais espaço no debate político. Segundo dados do recenseamento de 2010 divulgados recentemente, a população hispânica nos EUA aumentou 43% na última década, enquanto a população total cresceu apenas 9,7%. Hoje, cerca de um em cada seis norte-americanos se declara latino. E, segundo o NCLR, mais de 9 em cada 10 latinos com menos de 18 anos são cidadãos americanos, ou seja, uma enorme reserva de novos eleitores que deve pesar cada vez mais na balança política nos próximos anos.

Para Garcia, o crescimento acelerado da comunidade hispânica é um dos fatores que tem provocado uma onda de hostilidade dirigida principalmente contra os imigrantes. Segundo uma estimativa do Pew Hispanic Center, existem cerca de 11,2 milhões de imigrantes ilegais nos EUA. Mais de 80% deles são originários da América Latina.

A ativista participou de um simpósio da Universidade de Chicago sobre os direitos dos imigrantes na era da globalização. Especialista no tema, ela já foi diretora executiva da Coalizão de Illinois para os Direitos de Imigrantes e Refugiados e diretora-executiva do Fórum Político Latino em Illinois. Nascida na Guatemala, a ativista migrou para Chicago no início dos anos 1980 devido à guerra em seu país. Leia a seguir a entrevista que ela concedeu ao Opera Mundi.

Como a senhora vê a situação dos imigrantes ilegais?
Em geral, o que afeta todo imigrante é o ambiente hostil que tem envenenado o debate sobre como encontrar uma solução para os muitos pontos fracos do sistema de imigração. Não é mais uma questão de legais ou ilegais. A questão é como a nossa sociedade desenvolveu uma atitude muito hostil que leva a demonizar a presença de imigrantes em geral. Há uma hostilidade crescente e ataques frequentes à comunidade latina. E, nesse contexto, os trabalhadores imigrantes ficam vulneráveis e enfraquecidos porque a sociedade se sente livre para aceitar violações aos direitos deles.

Nas últimas eleições em novembro, vários candidatos usaram um discurso anti-imigração para conquistar o voto de eleitores conservadores. Como a senhora analisa esse fenômeno?
É muito conveniente para alguns candidatos atacar os imigrantes porque eles são um alvo fácil. Esses políticos fazem dos imigrantes bodes expiatórios porque são os membros mais vulneráveis da sociedade e podem ser acusados de tudo o que está errado. Em muitos casos, eles fazem isso porque não têm nenhum solução para os desafios que afetam a qualidade de vida e o futuro de muitas famílias norte-americanas: a crise econômica, as execuções de hipotecas que deixam tantos sem casa, o fato de que não estamos educando a nova geração com as habilidades necessárias para a nova economia global...

Políticos culpam imigrantes por problemas como o aumento da criminalidade e até por doenças que haviam sido erradicadas. São coisas irracionais, mas eles acabam convencendo que os imigrantes são os responsáveis. E fazem isso porque os imigrantes não são um bloco eleitoral. Então sabem que podem atacá-los e demonizá-los, e os imigrantes não vão retaliar porque não votam.

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