Todo dia, às 17h30, Papa Bá, de 28 anos, se reúne com outros 30
muçulmanos para rezar em direção a Meca, na Arábia Saudita. Esse é um dos
únicos momentos em que encontra alguma familiaridade com os costumes de casa.
Senegalês, Bá está em São Paulo há menos de uma semana e já se juntou a uma
comunidade que cresce a cada dia na cidade.
De
janeiro a outubro de 2014, os senegaleses foram o povo que mais solicitou
refúgio no País - 1.687 de 8.302 pedidos. Apesar disso, o Comitê Nacional de
Refugiados (Conare) não aceitou no ano passado nenhum pedido de senegalês. Sem
ser considerados refugiados, o que garante direitos iguais aos de qualquer
estrangeiro legalizado, os senegaleses enfrentam dificuldades para se manter no
País.
Bá
fez uma viagem de nove dias até o Brasil. Com o custo de cerca de US$ 3,5 mil,
ele teve "escalas" em Madri, na Espanha; Quito, no Equador; e Lima,
no Peru. Só depois conseguiu entrar no Brasil, pelo Acre, e, então, de Rio
Branco seguir para São Paulo.
Nilson
Mourão, secretário de Direitos Humanos do Acre, disse que os senegaleses são,
atrás dos haitianos, o segundo maior grupo de estrangeiros
"agenciados" por duas equipes de coiotes para entrar no Brasil - uma
que os ajuda a chegar ao Equador e outra que os encaminha até Rio Branco.
Bá
é formado em Línguas Estrangeiras em uma universidade pública do Senegal e
disse que todo o sacrifício da viagem foi válido para fugir da pobreza de seu
país. Desde que se formou, há dois anos, ele não conseguia emprego. Agora, ele
espera continuar os estudos em uma universidade brasileira e trabalhar com
tradução.
De
acordo com o Conare, o refúgio não é concedido se não for comprovado "o
temor de perseguição por motivos de raça, religião, grupo social ou opiniões
políticas, pelo qual o solicitante se viu obrigado a deixar o seu país de
origem" ou quando não é verificada uma situação grave e generalizada de
violação dos direitos humanos.
Esse
seria o caso dos senegaleses. O país, apesar de ter uma situação de miséria e
pouca oferta de empregos (está entre os 25 países com mais baixo Índice de
Desenvolvimento Humano), não sofre com guerras civis e tem uma democracia
considerada consolidada.
Grávida
Foi
pela falta de oportunidades em seu país que a senegalesa Astu Culibaly, de 28
anos, decidiu, mesmo grávida de cinco meses, vir ao Brasil. "Estava sem
emprego há mais de um ano e queria dar melhores condições à minha filha."
Mesmo
a viagem de nove dias pareceu mais fácil que a realidade que ela encontrou no
Brasil. Grávida, não arrumava emprego e, depois, sem ter onde deixar a filha,
também não conseguia trabalhar.
Agora,
três anos depois e com mais uma filha de seis meses, Astu foi empregada por uma
senegalesa que vende marmitex na Liberdade. "Consegui vaga na creche para
as duas e, agora, posso trabalhar. Mas é difícil, ganho R$ 700 e só de aluguel
por um quarto pago R$ 400."
Com
maioria da população muçulmana, os senegaleses que chegam a São Paulo costumam
procurar abrigo em uma mesquita, na Rua Guaianases, no centro. Moruf Lawal,
presidente da mesquita, disse que o local acolhe por dia cerca de 70 a 80
imigrantes. Ele estima que um terço seja de senegaleses.
"Eles
não tinham esperança de conseguir emprego no Senegal. Mesmo sendo difícil, aqui
há oportunidades", disse Lawal. Muitos se juntaram aos vendedores
ambulantes do centro.
O Estado de S. Paulo.
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