A Polícia Civil de São Paulo prendeu o
boliviano Efraim Amachi Quisocaba, que mantinha 18 peruanos em regime de
escravidão na zona leste paulistana. Os estrangeiros viviam em uma casa no
bairro da Penha, onde funcionava uma oficina de costura clandestina.
Entre os libertados,
três são adolescentes: um rapaz de 17 anos e duas moças, de 15 e 17 anos,
sobrinhas do responsável pelo local. Dois irmãos do acusado também estavam
entre as vítimas encontradas pela polícia. Entre os adultos, 11 eram homens e
cinco mulheres.
Os policiais chegaram à
oficina após a denúncia de duas das pessoas mantidas no local. Um dos
trabalhadores, de 44 anos, conseguiu escapar com o filho de 17 anos e pocurou a
polícia. Os peruanos eram obrigados a trabalhar 16 horas por dia e recebiam R$
0,60 por peça costurada. Metade da remuneração era retida pelo acusado, como
custeio da moradia e alimentação fornecida aos estrangeiros.
Segundo o delegado César
Camargo, um dos responsáveis pela operação realizada nesta quarta-feira
(15) à tarde, a situação dos alojamentos era extremamente precária e a
alimentação limitada. “Em um banheiro que consegui descobrir, havia uma parede
falsa e um túnel conduzindo aos quartos, que pareciam celas. Um cheiro
insuportável de bolor e nenhuma ventilação”, descreveu.
Os peruanos foram
recrutados por anúncios na província de Puno, fronteira com a Bolívia. De
acordo com o delegado, isso explica as relações de parentesco entre parte das
vítimas e o acusado. Para Camargo, mesmo mantidos sob as mesmas condições, os
dois irmãos de Efraim ajudavam a vigiar as demais vítimas.
Para atrair os
trabalhadores, o responsável pela oficina oferecia salário de R$ 2 mil e pagava
a passagem dos interessados. Os estrangeiros usaram a fronteira com o Acre na
viagem de quatro dias de ônibus até São Paulo. “Vamos pesquisar essa nova
rota”, informou o delegado.
César Camargo explicou
que normalmente os estrangeiros libertados em São Paulo entram pelas fronteira
com o Paraguai ou diretamente da Bolívia, pelo Mato Grosso.
A polícia investiga quem
contratou os serviços da oficina. As peças apreendidas tinham etiquetas de
marcas coreanas. Camargo acrescentou que é preciso apurar se o boliviano era
mesmo o dono do local, uma vez que ele também vivia no ambiente insalubre da
casa.
“Efraim tinha um quarto
um pouco melhor, na parte mais ventilada. Mas será que aquilo ali é do Efraim
ou ele é apenas laranja de alguém? Por que ele também se submetia àquela
situação?”
As vítimas estão
recebendo auxílio da Secretaria de Estado da Justiça de São Paulo e do
consulado peruano.
EBC
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