quarta-feira, 15 de julho de 2015

Os muros que nos separam e iludem

O muro na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, construido em 2014 

Nos últimos dias muita gente consumidora apenas do generalismo informativo parece ter acordado e constatado que são cada vez mais os muros que nos separam e iludem. Em vários territórios. Em vários continentes. E quase todos por uma só razão. Para impedir a circulação de pessoas. De (i)migrantes. Sim. Parece que a generalidade das pessoas acordou para uma realidade que infelizmente se tem vindo a impor já há algum tempo.

Provavelmente vão voltar a encolher os ombros em relação ao fenômeno migratório, deixando um espaço vazio para uma minoria que teima em não assumir que no domínio das migrações o mundo está a adiar as decisões corretas ao nível das políticas públicas adequadas para a (i)migração.

É pois urgente que as opiniões públicas não se alheiem da vergonhosa existência em pleno século xxi (o século do movimento dos povos), sucessor do século do povo (que foi o século xx), de cada vez mais muros a separar-nos. O alheamento em relação ao fenômeno migratório alimenta todos quantos têm uma atitude fechada, securitária, desconforme com a realidade, no que diz respeito à (i)migração.

Alimentando assim sentimentos e decisões que em cada vez mais países e territórios desembocam na vergonha da construção de cada vez mais muros. E que nos levam a um mundo de muros quase sempre só para as pessoas, mas não para os capitais, as armas e as empresas. Não destacando diferenças e semelhanças e motivações para a sua edificação. Seja entre Israel e a Jordânia, seja entre a Tunísia e a Líbia ou entre Marrocos e a Mauritânia, ou entre os EUA e o México, ou entre a Índia e o Bangladesh, ou entre a Turquia e a Bulgária, ou entre o Zimbábue e o Botsuana. Muros com muitas diferenças em relação à Muralha da China e ao Muro de Berlim. 

O muro na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, construído em 2014  © Dimitar Dilkoff/AFP
Mas o mais grave é o novo muro que será construído numa das fronteiras externas da União Europeia, entre a Hungria e a Sérvia, e direi também um outro que existe e que a tal indiferença e alheamento vão alimentando, que é na prática o existente entre Espanha e Marrocos.
Estes muros são o exemplo de como já nem verdadeiras democracias conseguem lidar com o fenômeno migratório com base em princípios e valores de vida que sustentam os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Infelizmente são mais um exemplo do estado da nossa democracia, que vive muito prisioneira da ortodoxia dos números e pouco interessada em inspirar-se em valores de vida humanistas, que estão na sua origem. 

Isto um dia vai ter de mudar. Não é possível continuarmos a alimentar tantos muros que nos dividem. E iludem. Porque estes muros não são a solução. Pelo contrário. Só adiam, e mal, os problemas. Este tipo de desnorte e de manifestação gratuita de força, que tem estado na base das decisões da edificação destes muros, são um a somar a outros exemplos de como não existe uma capacidade de resposta coerente para os desafios que as migrações estão a apresentar a países de vários continentes. De má-fé muitas vezes utilizam-se quer o desemprego quer o terrorismo como pretextos destas decisões.

É um erro fazê-lo, porquanto as migrações não são um problema mas sim uma oportunidade, no domínio da demografia, do desenvolvimento, da democracia e da segurança. Nós, na Europa, esquecemos o que vários estudos e várias das suas propostas, sempre em nome da sustentabilidade econômica e social da União Europeia, nos têm dito – a imigração é necessária para a Europa e para o seu futuro em termos econômicos e sociais.

Não esquecendo do ponto de vista cultural, religioso e político, que a Europa se construiu de baixo para cima com base em valores de vida assentes na nossa herança judaico-cristã. Somos uma minoria aqueles que, perante os erros que vão sendo cometidos nestas matérias, teimamos em sugerir que entremos num caminho completamente diferente. A ilusão de que a imigração se trata assim vai ter de acabar a bem o

Jornal I

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