MENSAGEM DA PASTORAL DO MIGRANTE -
DIA DO MIGRANTE
Sociedade e Migração.
Não ao preconceito, por direitos e participação!
Que relações há entre a imigração contemporânea no
Brasil e as migrações de cerca de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive
as da costa do mar mediterrâneo em direção a Europa?
Podemos considerar ao menos três aspectos comuns à imigração
no Brasil e no mundo: O primeiro é que muitos imigrantes são fugitivos da
pobreza; da vergonhosa desigualdade social; de perseguições políticas,
religiosas; preconceitos; de violências contra minorias étnicas; etc. O segundo
aspecto tem a ver com as mudanças climáticas aceleradas pelo intenso ritmo de
produção e consumo que está levando o planeta ao colapso ecológico e ameaça a
vida na Terra; do não acesso à água potável; de catástrofes naturais, como
tsunamis, terremotos. E o terceiro aspecto relaciona as migrações às crises
econômicas; guerras; grandes obras, grandes eventos; à impunidade de crimes
como tráfico de pessoas e trabalho escravo que, de acordo com a ONU
(2013), logo atrás do tráfico de drogas e de armas, são o terceiro crime mais
praticado no mundo e movimentam cerca de 32 bilhões de dólares por ano, o que os
coloca entre as atividades criminosas mais lucrativas da economia globalizada; à escassez de políticas
migratórias que viabilizem a promoção do migrante como pessoa de direitos, de
saberes que contribuem para o bem estar das comunidades que o acolhem. A
maioria dos 240 milhões de migrantes no mundo atual vivencia problemas sociais
semelhantes aos vividos por muitos imigrantes que tentam melhorar ou recomeçar
suas vidas em terras brasileiras.
Há motivos reais para alardes sobre uma “invasão de estrangeiros” no Brasil?
Segundo o Eurostat Statistic (2015),
em 2012 havia 33,3 milhões de imigrantes na Europa, ou 6,6% da população do
continente. A Alemanha e a França tinham, respectivamente, cerca de 12% e 11%
de imigrantes. Em 2013, os EUA tinham 46 milhões de imigrantes, 15% de sua
população. Já os brasileiros que vivem e trabalham em outros países chegam a
2,8 milhões de pessoas. Ora, os imigrantes que vivem e trabalham no Brasil são
cerca de 1,8 milhão de pessoas, ou, 1% de nossa população. É falso falar em
“invasão de estrangeiros” no Brasil. Isto só estimula o preconceito e a
xenofobia. Na verdade, a sociedade brasileira formada por imigrantes pode ou
deve buscar compreender a realidade da imigração; discutir e pressionar os
governos para implementar políticas migratórias humanitárias, como o direito
universal a acolhida.
Para além da xenofobia, preconceito étnico e racial: No final do Séc. XIX e início do Séc. XX, a
imigração no Brasil era branca, de origem europeia, voltada para o colonato e o
trabalho assalariado. Hoje, como antes, a imigração permanece voltada para o
trabalho; a condição social e econômica dos imigrantes de antes e dos de hoje
se caracteriza pela vulnerabilidade. Hoje, como antes, eles fogem da pobreza e
trazem a esperança de conquistar respeito, dignidade, e, também trazem a
capacidade de contribuir, a partir do seu trabalho, da sua cultura, para
alcançar melhor padrão de vida para todas as pessoas. O que mudou então para
que a xenofobia e o preconceito sejam tão acintosos como vemos nas redes
sociais e nas ruas? Mudou a cor da pele e procedência dos imigrantes. Antes
eram brancos europeus. Hoje são negros africanos e caribenhos destinados a
postos de trabalho de baixa remuneração, como babás, frentistas, caixas de
supermercados, açougueiros, ajudantes gerais, faxineiros, etc.
Há que se
considerar também a migração interna no
Brasil. Apesar de não constar na agenda política, ela é intensa e suas
causas não são diferentes daquelas que motivam a imigração internacional. Em
geral, os migrantes internos fogem de violências; da pobreza; conflitos
agrários; de enchentes devastadoras; da falta de água potável; etc. Se antes as
migrações internas eram percebidas através dos fluxos de nordestinos para a
Região Sudeste, de sulistas para as respectivas Regiões Norte e Centro Oeste,
hoje o mapa das migrações internas mostra fluxos migratórios mais complexos e
voláteis entre todas as regiões brasileiras. De acordo com o IBGE (2010), a
expansão do agronegócio e das grandes obras contribuiu para diversificar as
rotas migratórias e os rostos dos migrantes. Em sua maioria eles são Indígenas,
quilombolas, camponeses, ribeirinhos, operários, jovens (moças e rapazes) que
buscam trabalho, estudo, tratamento de saúde e trazem esperanças, saberes
vitais às nossas necessidades básicas, como alimentação, diversão, estudos,
serviços, etc.
Políticas públicas
e imigração: a
imigração não é um fato isolado, nem exclusivo de um país. Então, como tratá-la de forma articulada e com
foco na garantia de direitos? Não há fórmulas prontas e o caminho é sinuoso.
Porém, não há dúvida da urgência de políticas de gestão humanitária da
imigração, articuladas entre regiões de origem, trânsito e destino dos
migrantes. E nesse aspecto o Brasil precisa dar passos concretos e ágeis. Essas
políticas devem viabilizar processos justos e acessíveis de documentação,
acesso ao trabalho decente, à moradia, à saúde, ao aprendizado da língua, a
programas culturais e pedagógicos, como formas de inculturação, prevenção e
enfrentamento ao preconceito e à xenofobia.
Ao
abordar o tema sociedade e migração,
a Pastoral dos Migrantes convida todas as pessoas e instituições a considerar
os migrantes como dons e oportunidades de novos caminhos para a humanidade. Eles
nos convidam a abrir a mente, as economias, as políticas; a vencer o medo; a
enriquecer nossas culturas; estimulam-nos a derrubar fronteiras e revelam-nos
que somos filhos e filhas da mesma pachamama
(Mãe Terra). Trata-se de respeitar suas visões de mundo, saberes e
experiências fundamentais para a construção de outros mundos possíveis. E
possíveis porque já existentes nas práticas cotidianas de pessoas e
comunidades. Possamos assim recriar uma nova sociedade, na qual a pátria de
todos seja o mundo e o idioma seja o amor, que é sempre capaz de fazer novas
todas as coisas.
Serviço
Pastoral dos Migrantes – SPM- 30 anos rompendo
fronteiras com os migrantes!
21 de
junho/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário