segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cidades estão montando estrutura própria para receber migrantes

Quando se deitou para dormir em um colchão, no chão de uma das salas improvisadas da Vila da Cidadania, em Piraquara, o haitiano Junior Nelson, de 30 anos, enfim, se sentiu seguro e cheio de expectativas. Ele é um dos 76 migrantes do Haiti e Senegal que nos últimos dias foram mandados a Curitiba pelo governo do Acre– por onde entraram no Brasil. Essas novas “levas” foram as primeiras a contar com uma estrutura de acolhimento, que começa a ser esboçada no Paraná. Apesar de ainda estar em articulação, este centro de orientação na Vila garante um mínimo respaldo aos forasteiros, o que lhes permite sonhar. “Como sou jardineiro, quando vi a cidade cheia de jardins e flores, fiquei feliz. Com o meu trabalho, vou poder deixar Curitiba mais bonita”, disse Nelson, em bom espanhol. “Pensamos que os brasileiros amam o Haiti. Por isso, quero ficar aqui”, completou.

Os ônibus fretados pelo governo do Acre vieram diariamente entre 26 de abril a 1º de junho. Assim que chegam à Vila da Cidadania, os migrantes passam por uma triagem. A equipe os cadastra de acordo com o perfil profissional, tenta providenciar documentos que faltam – principalmente carteira de trabalho – e localizar parentes que estejam estabelecidos no país.
Nem todos fincam raízes por aqui. Apenas 16 dos migrantes que chegaram nas últimas levas permanecem provisoriamente alojados na Vila da Cidadania. São os que mais precisam de apoio, porque não têm conhecidos no Brasil ou perspectivas de emprego a curto prazo. Outros 18 permanecem no Paraná, mas estão e morando na casa de parentes e trabalhando. A maioria – 42 pessoas – seguiu para outros estados, principalmente Santa Catarina e São Paulo.

“A estrutura ainda é improvisada. Pegamos salas que estavam ociosas e adaptamos de forma a atender os migrantes que chegam, enquanto discutimos a implantação de uma estrutura consolidada”, conta o professor Lúcio Sérgio Ferracin, coordenador da Vila da Cidadania. “O importante é prestarmos esse primeiro acolhimento e orientação”, complementa.

Os migrantes chegam à Vila da Cidadania à beira da exaustão, depois de enfrentarem cerca de dez dias de viagem. A rota de entrada no Brasil inclui a ação de “coiotes”, o cruzamento clandestino de fronteiras e o pagamento de propinas. A maioria chega sem dinheiro e só com a roupa do corpo – já que muitos tiveram a mala roubada na viagem.


Apenas dois dos haitianos que aportaram no Paraná falam algumas palavras em português. Assim, a língua deve ser outro entrave que os migrantes terão que superar. No acolhimento, professores voluntários fazem as vezes de intérpretes. A Vila também oferece cursos gratuitos. “Este acolhimento é o começo, mas precisamos saber como vai ficar após, porque precisamos assegurar as condições de permanência”, pondera a professora Daiane Regina Stolberg Wzorek.

Gazeta do Povo

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