A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez um
chamado para que a sociedade se conscientize da importância de combater o
tráfico de pessoas, ao lançar a Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é
Fraternidade e Tráfico Humano e o lema "É para a liberdade que Cristo nos
libertou".
No início do evento, foi
lida uma mensagem do papa Francisco, na qual ele afirma que "não é
possível ficar impassível, sabendo que seres humanos são tratados como
mercadoria". O papa lembrou que crianças são traficadas para a remoção de
órgãos, mulheres submetidas à exploração sexual e trabalhadores mantidos em
condição de escravidão. Estas são algumas das situações de tráfico de pessoas
que a campanha vai abordar.
Durante a solenidade de
lançamento, o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, disse que o crime
viola a dignidade das pessoas submetidas e que a prática é fruto da sociedade
em que vivemos. "Queremos com a campanha identificar essa realidade e,
junto com o Estado, realizar este trabalho para que as pessoas deixem de ser
exploradas", exortou. "O tráfico de pessoas é fruto da cultura em que
vivemos, atualmente quase nos habituamos ao sofrimento do outro e é preciso se
compadecer pelas pessoas traficadas", disse.
A secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
(Conic), pastora Romi Márcia Bencke, reiterou que esta dificuldade se deve
também à vulnerabilidade econômica das pessoas traficadas. "O tema toca em
raízes profundas na forma como a nossa sociedade se estrutura e [o tráfico
humano] se capilariza em vários setores da economia", disse. Os religiosos
também ressaltaram a necessidade de superar divergências religiosas para
combater esse tipo de crime.
A solenidade contou
ainda com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que elogiou
a iniciativa e classificou o tráfico de pessoas como uma prática subterrânea,
devido à dificuldade de verificar sua ocorrência. "É inaceitável que
pessoas sejam tratadas como escravas", disse Cardozo para quem o crime tem
que ser combatido de forma conjunta com a sociedade. "Temos esta
oportunidade de junção de forças com a sociedade, através da Campanha da
Fraternidade e da formação de um comitê conjunto para aprimorar as políticas de
Estado, receber sugestões e ao mesmo tempo enraizar atuações na
sociedade", complementou.
Cardozo lembrou que não existem dados precisos sobre a quantidade de pessoas
traficadas já que, muitas vezes, vítimas e familiares têm vergonha de revelar a
situação de exploração. "Infelizmente o número de inquéritos policiais
abertos relativos ao tráfico de pessoas ainda é pequeno em comparação ao volume
da realização desse crime. Isto acontece porque as pessoas não noticiam o tráfico.
Às vezes as pessoas têm vergonha de falar que foram vítimas desse crime, os
familiares também não denunciam e muitas vezes as pessoas imaginam que estão
sendo ajudadas por aqueles que são os verdadeiros autores e mentores deste tipo
de crime", disse.
A pesquisa Diagnóstico
sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de Fronteira no Brasil, divulgada pelo governo federal em outubro do ano passado, aponta que,
entre 2005 e 2011, um terço dos indiciados por tráfico de pessoas foi preso em
região de fronteira. Dos 384 indiciamentos, 128 foram registrados na fronteira
brasileira que tem 15.719 quilômetros de extensão ao longo de 11 estados –
Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio
Grande do Sul, Roraima, Rondônia e Santa Catarina.
O levantamento constatou
que as pessoas geralmente são traficadas para fins de exploração sexual e
trabalho escravo. Também detectou situações como pessoas traficadas para a
prática de mendicância e de crianças e adolescentes para servidão doméstica. A
maioria dos casos de tráfico para exploração sexual foi identificada nos
estados de Roraima, Rondônia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
do Pará, Amapá e Acre.
A maioria das vítimas
são mulheres, na faixa etária de 18 a 29 anos. Além das mulheres, também são
vítimas do tráfico humano crianças e adolescentes, travestis e transgêneros,
geralmente em condição de vulnerabilidade, seja pelas condições
socioeconômicas, seja pela presença de conflitos familiares, seja pela
violência sofrida na família de origem.
A Campanha da
Fraternidade é lançada no primeiro dia da Quaresma (período do ano litúrgico
que antecede a Páscoa). Para os cristãos, a Quarta-Feira de Cinzas simboliza o
dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a fragilidade da vida
humana, sujeita à morte. De acordo com a CNBB, os recursos arrecadados com a campanha
serão utilizados em projetos de identificação e combate de situações de tráfico
humano.
Agencia Brasil
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