segunda-feira, 31 de março de 2014

Imigração e refúgio: caminhando no escuro pela sobrevivência


Existe um milhão de refugiados, hoje, no mundo, um milhão de almas, seres humanos, histórias e destinos não contados em meio a Iphones, carros e tantos outros fetiches capitalistas, assim como estes 'ciganos do planeta terra', de consumo e descarte fáceis.
Os números relatam a estatística e Censo do que é o movimento do cidadão refugiado, migrante no mundo e pelo globo afora. Como direito inerente às liberdades estampadas em constituições nacionais e internacionais, cartas e seminários, o mais importante e cruel, a fuga é o carimbo que mancha de vermelho seus Passaportes. A fome, a guerra, o abuso e estupro de corpos, almas e dignidade humana do incauto cigano, afugentado de casa por questões políticas ou causas naturais resultantes da matança ' natural' da bola azul.
Antes, europeus migravam para a América do Norte, o Novo Mundo e até a África. Hoje, estes imigrantes, viajantes do presente com o mesmo estigma do passado, na América Latina, Leste Europeu, na Ásia ou África, rumam aos EUA, Canadá, Europa e Japão. Como prega o ditado, tema de filme: "Assim caminha a humanidade." E caminha a que passos, calçando que marca de sapatos e em que chão caminham os destinatários sem destino?
Os Estados Unidos recebem um milhão de imigrantes, ao ano, a mesma população, em transe, gênero e número de um século atrás. Somente na última década, o aumento neste quantitativo pulou de 20 para 29 milhões de imigrantes/ano, ou seja, 10% de demanda para mais. Número relato a imigrantes que planejam a expectativa de aumento de renda e melhoria da qualidade de vida, o que caracteriza a chamada migração espontânea. 
Já  migração forçada é retratada na coação e medo, perseguição política ou devido a opção sexual, religiosa. Há ainda o aspecto antropológico, expressão social, segundo a categoria do Serviço Social resultante das tragédias naturais como maremotos, terremotos, inundações, seca, causas da erodização e devastação da natureza que levam o homem, parte integrante deste sistema de vida contínua e infindável, à humilhação da fome. 
A emigração no Brasil se realiza por terra, água e/ou ar, levando ao exterior - por vários motivos, - gente que busca melhor escolaridade; a troca do corpo pelo dinheiro, via prostituição; envolvimento com o tráfico de drogas; breve visita a parentes; emprego com Visto de Trabalho ou sem o documento; por motivo de casamento com estrangeiro; devido às relações religiosas e outros motivos nobres, mas em sua maioria torpe. 
Já a imigração com destino à Terra de Cabral traz bolivianos, 'a mala de roupa suja' da indústria da confecção, no Estado de São Paulo, onde colombianos entram para a construção civil, paraguaios trabalham na agricultura e chilenos destacam-se no comércio e serviços. Mais recentemente os haitianos chegaram ao Brasil, em sua maioria, trabalhadores sem formação de mão de obra especializada. 
Segundo o papa Francisco: "A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que na sua origem há uma profunda crise antropológica." O Brasil é o terceiro em abrigamento de imigrantes, mas com a ocupação em número mínimo, cerca de 2,9 milhões de habitantes, bolivianos em sua maior parte, número menor que 1% da população total do País. Os imigrantes legais somam em torno de um milhão de pessoas, enquanto os ilegais denotam a estatística dos dois milhões. 
Um caso particular os bolivianos, os quais migram, ainda em seu território, do campo para as cidades, e de lá para o Brasil. A partir dos anos 80, mais de 30% da população boliviana, três milhões deles, se encontram fora do país de origem, expulsos do campo por empresas de grande capital ou estatais, expressão e fator social do aumento da precarização trabalho e da população inativa local que se expande para países melhor estruturados e, 'em destaque', na conjuntura econômica mundial. Neste caso, o Brasil ganha preferência enquanto região de destaque na janela da economia mundial e proximidade geográfica com los hermanos latino-americanos.
Imigrantes atraídos para cá são abduzidos por aliciadores, amigos, conhecidos em busca de melhor renda, educação e qualidade de vida, além da exoticidade e animais, riqueza natural do lugar que possui culinárias infinitas, samba e claro, as mulatas.
Estigmatizados pela não formação e situações de trabalho análogas à escravidão, e em sua maioria ilegal, estes imigrantes não alcançam os direitos estabelecidos pela CLT ou aqueles estampados na Constituição do País. 
Costureiras, empregados na construção civil, carpinteiros, ambulantes, são aliciados nas redes sociais e praças - ainda no centro das cidades bolivianas - traficados ao Brasil por coiotes que fomentam o subemprego e a máfia da indústria irregular, instalada a 'portas fechadas', a qual produz produtos baratos, famosos por copiar e piratear grandes marcas e souvenirs de R$ 1,99. Tudo isso aliado a enormes custos sociais para estas redes do comércio, muitas de destaque internacional, as quais pagam impostos. Estas violações não endossam os Direitos Humanos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, ao contrário, os direcionam ao espúrio social o qual estampa o retrato moldurado, na era colonial, lembrando que o fato se dá em pleno século XXI.
Tal e qual mercadoria, bolivianos são 'vendidos' em praça pública, tal qual em seu próprio país - no Centro de São Paulo, em troca pelo valor de custo dispendido no transporte e traslado deste imigrante até o Brasil, na planta da indústria de confecção, com valor estipulado, hoje, em cerca de R$ 1 mil, cada imigrante, fato denunciado nas redes sociais e levado a público e distritos policiais na capital paulistana.
Verdadeiros restos da humanidade que perambula e coexiste, reclamam de salários baixos, trabalho duro e longas jornadas. Mesmo com diploma ou qualificação, não detém contratos de trabalho regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. A dificuldade em expressar e aprender a Língua Portuguesa, para muitos imigrantes, uma das mais difíceis de aprendizado no mundo, o recrutamento ilegal e escravo, em troca de baixa renda, estrutura semi-escrava de trabalho, acumula entraves à árdua realidade à qual se submetem para enviar às suas famílias, nos países de origem, a altas taxas de extorção, parcas remessas de moeda corrente, o Real.
A política de imigração no Brasil, ainda hoje, é de Segurança Nacional, ultrapassada, reza e preza pela entrada no País, de imigrante que possa ser 'útil' por aqui. Quem é, que textura de pele possui, qual cor de olhos tem este imigrante? E mais, qual perfil de imigrante o País quer? Importante lembrar que o maior número de vistos, no Brasil, é dado a americanos, seguidos de europeus. Colonização e relações sociais de poder, reforçam as dificuldades do imigrante o qual não consegue se restabelecer ou estabelecer por estas plagas caracterizadas por estigmas culturais que ainda no século XXI perpetuam a expropriação étnica do ser social. 
Estes fatores sociais propiciam e levam à exploração infantil, ao tráfico de pessoas, as quais deixam seus lugares e por aqui não encontram abrigo das políticas públicas destinadas a imigrantes estão intimamente relacionados à máfia do tráfico humano, gente refugiada da guerra, focada na luta pela sobrevivência, na forma fria e concreta de uma pitada de sal ou um pedaço de pão. Muitos deles perdem a inocência, em idade tenra, quando ainda jogam bola ou brincam de boneca, encardidos pela pólvora ou vitimados por estilhaços de granada e canhão, sujeitos destinados a produto (des) humano, sem nenhum valor ético-moral, em pleno ano de Copa do Mundo, quando marcas internacionais confundem, dentro do nosso quintal, esporte com turismo sexual. 
Quando se tira o ser humano de seu meio e o coloca em ambiente desconhecido, aumenta-se, vertiginosamente, sua vulnerabilidade social. Nos EUA, até 2050, 80% da população será constituída de imigrantes, filhos da miscigenação de raças e culturas. Hoje temos o dobro de brasileiros 'lá fora' que o número de imigrantes estrangeiros que labutam pela vida 'aqui dentro'.
Enquanto isso e refugiados em quatro paredes, nos 'aquários sociais' ou convivendo com as expressões sociais da pobreza infraestrutural na periferia, seguimos vivos enquanto há tempo, tentando burlar as fatídicas estatísticas denunciadas pelo cidadão brasileiro Ricardo Freire, da cidade do Rio de Janeiro, que perdeu o filho para mais uma bala perdida, no País do futebol, que segundo a História, é um País abençoado e sem guerra: "Meu filho é só mais uma estatística do governo."
E o pulso... ainda pulsa!
(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)
DIÁRIO DA MANHÃ
ANTÔNIO LOPES

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