A necessidade de melhorar a situação económica e humanitária nos países do Terceiro Mundo não interessa menos à Europa que aos habitantes desses países. Mais uma corrente de refugiados constituiria um verdadeiro desastre para o Velho Continente. O aumento da ajuda aos países africanos é um tema a tratar em novembro durante a cimeira do “Grupo dos Vinte” na cidade francesa de Cannes.
Nos últimos meses, os problemas económicos da Europa têm sido uma constante nas páginas dos jornais dos dois lados do Atlântico. As dívidas multibilionárias de muitos países tornaram-se o problema principal da União Europeia, mas não o único. Depois das agitações populares seguidas de revoluções no Norte de África, a ameaça real de nova onda de imigração está pendendo sobre a Europa. E o fato de altos políticos sentados em Bruxelas estarem calculando variantes capazes de salvar a Grécia e manter a saúde económica da Itália não significa que as lideranças do Velho Continente não tenham que se ocupar desses problemas. Igualmente, o reconhecimento do fracasso da política de multiculturalismo pela Grã-Bretanha, Alemanha e França não significa que as multidões de pessoas oriundas de países africanos tenham deixado de buscar a felicidade, subsídios e cidadania na Europa.
A França, outrora senhora de colónias em África, já havia insistido na necessidade de apoiar ativamente os países do Continente Negro. O presidente Nicolas Sarkozy sublinhou que essa política deve ser levada adiante, apesar da crise económica. Quanto pior é a situação nos países africanos, tanto mais pessoas usarão o roteiro mediterrânico com destino à Europa através da ilha de Lampedusa, a qual ganhou triste fama com as dezenas de milhares de líbios desembarcados. Porém, mesmo um auxílio económico eficiente dificilmente poderá deter essa corrente, – diz Serguei Utkin, diretor do Setor dos Problemas Políticos da Integração Europeia no Instituto de Relações Internacionais e Economia Mundial da Academia de Ciências da Rússia. E continua:
É muito fácil dizer que é necessário apoiar os países donde esses imigrantes são provenientes para que eles não sejam tentados a emigrar. Porém, nenhum dinheiro será suficiente para elevar tais países até um nível comparável com o alcançado pelos países europeus mediante simples injeções financeiras.
Todavia, as lideranças económicas mundiais realmente não têm dinheiro para um cenário de desenvolvimento extraordinário da África, tampouco para o evolutivo, – diz o analista Serguei Khestanov. E continua:
Dada a atual situação económica na Europa e nos Estados Unidos, os países africanos não têm motivos para esperar uma ajuda vultosa. Por isso, o mais provável é que a ajuda se limite ao envio de um grupo de missionários para aculturarem e disseminarem certos conhecimentos.
Na ausência do Ocidente, a África só poderia viver à beira da fome. Muitos especialistas coincidem em que daqui a meados do século a população do continente se duplicará de 1 para 2 biliões de pessoas. Já a produção agropecuária deverá aumentar até lá 70 por cento. O incremento da população africana poderá também influenciar diretamente a população europeia.
Segundo as estatísticas europeias, já se estabeleceram no Velho Continente mais de 15 milhões de imigrantes. Na realidade, porém, seu número é muito maior. Porque, conforme estipula a lei de reagrupamento familiar, se uma pessoa obteve o visto de residência, pode trazer para a Europa todos os seus parentes mais próximos.
Entretanto, a União Europeia irá cerceando as possibilidades da imigração legal. Bruxelas está a elaborar uma política comum para concessão de refúgio. Doravante, será cada vez mais difícil gastar na mesma proporção recursos destinados a abonos sociais e outras formas de apoio aos imigrantes que fixaram residência na Europa. Consequentemente, os futuros imigrantes desejosos de entrar na Europa irão enfrentar cada vez mais dificuldades.
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