segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Em busca do bem comum



O Vaticano, através do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz publicou no início desta semana uma nota sobre a reforma do sistema financeiro internacional. Tal documento, apresentado aos jornalistas pelo presidente desse organismo vaticano, Cardeal Peter Turkson pede a “criação de uma autoridade pública mundial, a serviço do bem comum”, afirmando que é o único horizonte compatível com as novas realidades do nosso tempo diante da atual crise econômica e financeira mundial.

Esse documento pede a elaboração de formas de controle monetário global, pois o tão questionado Fundo Monetário Internacional, o FMI, perdeu “a sua capacidade de garantir a estabilidade das finanças mundiais”. Mas por que tal documento? Tudo nasce da exigência de um organismo que desenvolva as funções de uma espécie de Banco Central mundial, e que assim regule o fluxo e o sistema das trocas monetárias, como atuam hoje os Bancos Centrais nacionais. Em causa estão os sistemas de câmbio existentes.

O mercado financeiro global, que cresceu muito mais rapidamente do que a economia geral, deve ser colocado sob o controle de um “número mínimo de regras partilhadas”, entende o Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, que lamenta a falta de controle sobre movimentos de capitais e a “desregulamentação das atividades bancárias e financeiras”.

O olhar do Vaticano fixa-se naquele bilhão de pessoas que vivem em pleno século 21 com pouco mais de um dólar por dia, uma realidade que apesar das Metas do milênio de reduzir a pobreza mundial continua a registrar o aumento das desigualdades. O mundo ainda gera enormes injustiças, deixando à margem bilhões de seres humanos que ainda dependem de ajudas humanitárias para sobreviver.

Se essas injustiças não forem sanadas os “efeitos negativos” que delas derivam para o plano social, político e econômico, poderão gerar cada vez mais uma clima de crescente hostilidade, levando à violência, violência que pode minar as próprias bases das instituições democráticas – como afirma a nota – até mesmo as que se consideram mais sólidas.

Aponta-se entre as causas da atual crise o “liberalismo econômico sem regras e sem controle”, uma situação já enunciada em 1967, pelo Papa Paulo VI, com a sua encíclica ‘Populorum progressio’. No documento destacam-se ainda “três ideologias devastadoras”: “utilitarismo, individualismo e tecnocracia”. Uma situação econômica e financeira que se deve a “comportamentos de egoísmo, avareza coletiva e acúmulos de bens em larga escala”.

Entre as possíveis medidas a serem tomadas: “medidas de taxação das transações financeiras” destinadas também a “contribuir para a constituição de uma reserva mundial, destinada a apoiar as economias dos países atingidos pela crise, bem como para o controle do seu sistema financeiro e monetário”.

O drama da fome e com como conseqüência a crise econômica, só poderão ser combatidos com a eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento e com a garantia de desenvolvimento a todas as regiões do planeta, destacou certa vez Bento XVI. “O acesso à comida, mais do que uma necessidade elementar, é um direito fundamental das pessoas e dos povos".

A crise financeira mundial demonstrou a fragilidade do sistema econômico atual e das instituições a ela ligadas, e quem paga são as economias mais fracas e o seu povo que tem direito a uma vida digna. É hora de parar e rever os rumos para que o barco da humanidade não continue à deriva.

Editorial do Vaticano

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