sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Brasileiro denuncia abusos contra filho em prisão nos Estados Unidos


O carioca Karan Pestana Abdalla Auhi, de 23 anos, foi transferido para a penitenciária Garden State Youth Correction Facility, no município de Yardville


O namoro entre uma jovem norte-americana de 15 anos e Karan Pestana Abdalla Auhi, natural do Rio de Janeiro, atualmente com 23 anos de idade, virou caso de polícia e um verdadeiro pesadelo para uma família de imigrantes brasileiros em New Jersey. O drama vivido pelo casal começou quando a jovem passava um dia na residência de uma amiga e ligou para o namorado. Após conversar com Karan, ela decidiu ir à sua casa; quando a mãe da amiga sentiu a sua falta, entrou em pânico, e imediatamente comunicou a polícia.

As autoridades chegaram à residência de Karan e, posteriormente, o levaram à delegacia de polícia local. Dias depois, durante audiência na Corte, o jovem foi condenado a 15 anos de liberdade condicional, sendo os 2 primeiros anos mais rigorosos.

“Meu filho tinha uma namorada que era menor de idade (15 anos na época) e por causa disso foi condenado a 2 anos de liberdade condicional (Probation). Além da liberdade condicional, ele esteve sujeito à inúmeras restrições, entre elas, não acessar alguns sites da Internet”, detalhou o jornalista Jamil Abdalla Auhi, pai de Karan.

“Passados os dois anos, meu filho foi levado ao Departamento de Polícia e, somente chegado lá, foi informado que estava preso, pois seria encaminhado à Imigração para deportação e deveria aguardar detido. Fato absurdo, já que meu filho não cometeu nenhum crime migratório, pois ele possui o Green Card (Residência permanente)”, acrescentou Jamil.

Entretanto, enquanto aguardava a transferência para o centro de detenção do Departamento de Imigração (ICE), detetives vasculharam as informações contidas no aparelho celular de Karan e constataram que ele havia consultado a internet durante o período de liberdade condicional. A violação da lei o condenou automaticamente a 1 ano de reclusão na penitenciária estadual, que abriga criminosos de alta periculosidade.

“Enquanto ele estava na prisão aguardando para ser transferido para o centro da Imigração, os policiais verificaram que meu filho, há tempos atrás, havia acessado a internet pelo telefone celular dele e o condenaram, sem julgamento, sem a presença de um advogado, sem a a família ter sido avisada, sem nada, à pena de um ano de prisão. Entramos em pânico, pois nem mesmo pelo crime de ter namorado uma menina menor de idade ele foi condenado à prisão. Tal fato fere o entendimento de Justiça, o total direito ao acesso à defesa e sobretudo os Direitos Humanos”, disse Jamil.

Os problemas estavam apenas começando para o jovem brasileiro, pois, assim que ele deu entrada na penitenciária, foram espalhados rumores entre os presidiários que ele era um estuprador. Em virtude disso, as ameaças de morte passaram a ser uma constante no cotidiano de Karan. Amedrontado, ele denunciou o fato a um carcereiro, que, segundo Jamil, ignorou completamente o caso e voltou-se contra o jovem.

“Lá chegando, os presos quando souberam que meu filho estava ali por causa de uma menor de idade, presumiram que se tratava de um estuprador e imediatamente, todos os presos começaram a ameaçá-lo que o matariam e que ele seria esfaqueado”, disse Jamil.

“Karan sem conseguir explicar que não era um estuprador, alertou a um guarda, que aqui chamaremos de “AZ”, que estava prestes a ser assassinado, que os outros presos estavam ameaçando-o que o esfaqueariam. O guarda “AZ”, com atitudes agressivas, disse ao Karan: Fica quieto, não crie problemas, senão você vai ter problemas comigo. Karan insistiu, pois o único recurso que tinha para salvar sua própria vida era pedir aos guardas que o transferissem dali imediatamente”, acrescentou.

Mesmo insistindo com o carcereiro “AZ” que sua vida corria perigo, nenhuma providência foi tomada por parte das autoridades de segurança, segundo Jamil.

“Após tentar conversar com o guarda “AZ” e obter sempre a mesma reposta: ‘que ficasse quieto e não criasse problemas, senão teria problemas com ele’, Karan conseguiu ter acesso a outro guarda que, após escutar os relatos, chamou seu companheiro, o guarda AZ, e perguntou a ele se não faria nada quanto ao fato de um preso estar sendo ameaçado de morte. O guarda “AZ” respondeu que não faria nada e virando-se para o Karan repetiu a frase que diversas vezes já havia dito: ‘Cara, eu já estou me irritando com você. É melhor você ficar quieto e caladinho e parar de arrumar problemas’, disse Jamil.

Karan foi encaminhado ao Departamento Médico do presídio como rotina dos presos recém-chegados e, quando o médico o perguntou se estava tudo correndo bem, o jovem denunciou que estava sendo ameaçado de morte por outros detentos e que já havia levado o caso ao guarda “AZ” e a outro carcereiro também e que nada havia sido feito no sentido de preservar a sua vida. O médico levou ao conhecimento da chefia que convocou “AZ” e o perguntou sobre o que estava acontecendo. Ele alegou ser invenção de Karan e que ‘estava indo tudo bem’.

“O guarda “AZ” foi liberado e recebeu a ordem que levasse Karan de volta à sua à cela, nada sendo feito mais uma vez. Quando conduzia Karan para sua cela, ele parou em um ponto da galeria, colocou uma luva, dizendo-lhe: ‘Eu não te avisei para você não criar problemas para mim?!’ O guarda AZ começou a espancar Karan, que teve a boca cortada, esvaindo-se em sangue e com um dos tantos socos que levou no rosto, teve sua lente de contato arrancada de seus olhos”, detalhou Jamil.

“Outros guardas se aproximaram imediatamente dizendo: ‘Já sei, este preso tentou te agredir e você teve que contê-lo’, caracterizando uma situação covarde e já combinada entre os guardas”, acrescentou.

Como consequência do incidente, Karan foi transferido para a penitenciária ADTC – Adult Diagnostic And Treatment Center, 8 Production Way, Avenel (NJ), tudo a revelia da família e do advogado e aguarda ainda essa semana um novo julgamento, sobre o qual o guarda “AZ” disse: ‘Você vai ser condenado a mais um ano de prisão para aprender a ficar calado quando a gente mandar’, conforme Jamil.

O jovem enfrentará essa semana um julgamento interno, pois, segundo o relato do guarda “AZ”, ele teria se ‘indisciplinado e, portanto, teve que contê-lo à força’, e a pena para esse crime pode chegar até 1 ano de prisão, explicou o jornalista.

“Queremos saber quem serão as testemunhas nesse novo ‘julgamento interno’ que ocorrerá esta semana. Os guardas que o espancaram ou os presos que queriam matá-lo?! Onde estão as filmagens das câmaras de segurança do presídio que devem ter registrado tudo?! Ou tudo aconteceu, por coincidência, em um ponto cego das câmeras?! Meu filho Karan não pode ser vítima de tamanha covardia, pois a ele o guarda “AZ” deu apenas duas opções: ou é esfaqueado e morto pelos outros presos ou é espancado por pelos guardas e pega mais um ano de prisão”, questionou Jamil.

Recentemente, Karan foi transferido para a penitenciária Garden State Youth Correction Facility, no município de Yardville (NJ), sob o registro nº SBI234443E. Apesar de ter sido criado nos Estados Unidos, os familiares do jovem lutam para que ele retorne ao Brasil e fizeram um apelo às autoridades competentes e veículos de comunicação.

“Queremos o Karan de volta ao Brasil, ainda que seja por deportação, antes que ele seja assassinado ou os guardas o transformem em um prisioneiro com anos de prisão à cumprir. O Karan é um brasileiro e tem que voltar imediatamente ao seu país, o Brasil, e pedimos as autoridades brasileiras, órgãos e a imprensa para intervirem imediatamente. Não temos tempo. Estamos (lutando) contra o relógio. Meu filho Karan pode estar sendo assassinado em uma penitenciária neste momento”, desabafou Jamil.

Segundo ele, o advogado contratado para defender seu filho disse que não está tendo acesso ao caso.

Leonardo Ferreira

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