sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um mundo difícil


Quase dois terços da população migrante vivem em países ricos do Norte e do Sul, e enviam remessas de dinheiro para familiares no valor de US$ 300 bilhões ao ano, realizando quase sempre trabalhos sujos, perigosos e difíceis. Foi o que explicou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, ao falar na Assembleia Geral a propósito do impacto das migrações sobre o desenvolvimento.

Ban também disse que ele mesmo – nascido na Coreia do sul – é um dos 214 milhões de migrantes internacionais que vivem fora de seus países de origem. “Todos somos parte de uma economia mundial produtiva que beneficia nosso mundo em sua totalidade”, afirmou aos delegados. De todo modo, o clima político não é o melhor – alguns, inclusive, afirmam que é o pior – para a população migrante no mundo. Nos últimos anos, aumentaram os temores de poderem morrer afogados, já que centenas de imigrantes tentam, sem resultado, fugir do caos político em países como Líbia, Tunísia, Costa do Marfim e Somália.

Jean-Philippe Chauzy, porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), com sede em Genebra, disse à IPS que, segundo as estimativas atuais, já morreram aproximadamente 1.500 imigrantes no mar, ou mais. Estas pessoas procedem principalmente da África subsaariana ou da África ocidental, acrescentou. Vários fatores incentivaram a resposta europeia negativa em relação aos imigrantes. Entre eles a propagação da crise econômica e a ascensão política de grupos de direita que se opõem à imigração.

Na Espanha, por exemplo, o auge da construção chegou ao seu fim, seguido de perto por uma recessão. O desemprego juvenil na Espanha está em torno dos 45%, disse Chauzy, o que faz os imigrantes não serem bem-vindos, especialmente quando em um momento em que a prioridade é que a população nacional encontre trabalho.

O colapso econômico e os políticos de direita também fizeram com que a xenofobia se espalhasse pela Europa, incentivando a violência contra os imigrantes. Joseph Chamie, ex-diretor da Divisão de População da ONU e atual diretor de pesquisas do Center for Migration Studies, disse à IPS que o primeiro tem a ver com a brecha existente entre público e governos em matéria de imigração, e o segundo com as crescentes pressões pela deportação dos imigrantes ilegais. As duas forças contribuem para a ascensão de grupos de direita e da xenofobia, ressaltou.

Chamie apresentou uma longa lista de partidos políticos contrários ou críticos das migrações internacionais, seja na Europa ou em outras regiões. Nela incluiu o holandês Partido pela Liberdade, o Partido Nacional Democrático Alemão, o Partido Nacional Britânico, o francês Frente Nacional, a italiana Liga Norte, o Partido Nacional Irlandês, o israelense Israel Beiteinu e o indiano Shiv Sena.

O embaixador da Nigéria, Ositadinma Anaedu, exigiu no mês passado no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, uma investigação sobre a situação dos migrantes africanos presos em revoluções árabes do norte da África. Segundo ele, a população migrante é privada de seus direitos civis, detida, rejeitada e alvo de xenofobia nas fronteiras de alguns países europeus. “A condição humana comum que nos une sob a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos exige que sejam tratados humanamente e com dignidade”, acrescentou.

Em artigo publicado no YaleGlobal Online, Chamie destacou que, embora vários países tenham políticas para reduzir a quantidade de imigrantes que buscam residência permanente, nem uma única nação industrializada tem políticas para reduzir a imigração de trabalhadores altamente qualificados. Pelo contrário, a maioria dos países ricos compete mundialmente para recrutar e reter talentosos trabalhadores altamente qualificados, como cientistas, médicos, enfermeiros, professores e pessoal dedicado à alta tecnologia.

Por exemplo, a Grã-Bretanha expandiu a imigração econômica estendendo vistos a imigrantes altamente qualificados nessa área, para que entrem no país sem uma oferta de trabalho, apenas com base em suas aptidões, disse Chamie. Alguns países europeus, como Alemanha e Holanda, instituíram sistemas de vistos e “cartões verdes” de rápida expedição, semelhantes aos dos Estados Unidos, para atrair imigrantes altamente qualificados, em particular especialistas em tecnologias da informação.

Nos Estados Unidos, segundo Chamie, inclusive os distritos escolares locais recorrem cada vez mais a professores qualificados no exterior. Por exemplo, professores recrutados nas Filipinas são mais de 10% da força docente nas Baltimore Public Schools, do Estado de Maryland. Envolverde/IPS

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