Para vergonha do mundo desenvolvido, o contrabando de seres humanos tem
vindo a fazer cada vez mais vítimas. Só desde janeiro de 2013, cerca de 2000
pessoas afogaram-se junto à costa Sul da União Europeia – mais do que em todo o
ano passado. O contrabando de emigrantes também se tornou um risco de segurança
para os países de destino, que perderam o controlo das suas fronteiras. Por
último, a imigração ilegal está a alimentar o sentimento de
xenofobia, um fenómeno que é crescentemente explorado por políticos
cínicos.
Os governos europeus gastam milhares de milhões de euros por ano, no
combate ao problema. Vários Estados-membros da UE criaram agências especiais
para lidar com a imigração ilegal. A Frontex, a agência de proteção das
fronteiras da UE, está em funcionamento desde 2004. Tanto na UE como nos
Estados Unidos, as fronteiras são
patrulhadas e vigiadas com recurso às tecnologias mais recentes e mais
avançadas, incluindo drones e satélites. Só na UE, trabalham
na área da imigração ilegal mais de 300 ONG, em muitos casos subsidiadas por
fundos públicos. Quais os efeitos? Praticamente nenhuns. O número de imigrantes
ilegais que chegam ao continente continua a aumentar.
No seu livro sobre o contrabando de seres humanos, o autor marroquino
Mehdi Lahlou descreve aquilo a que chama o “círculo vicioso” das políticas
anti-imigração europeias. Os políticos, e também os órgãos de comunicação
social, exploram as tragédias como o desastre de Lampedusa de 3 de outubro para
empolar o problema da imigração, levando os governos a reduzir ainda mais as
possibilidades de imigração legal. Por seu turno, esse facto obriga os
emigrantes a procurar vias de acesso cada vez mais perigosas, aumentando a sua
dependência dos passadores. Lahlou salienta que foi precisamente isso que
aconteceu, quando a Espanha e a Itália introduziram os vistos para os cidadãos
do Magrebe, no começo dos anos de 1990, e os britânicos conseguiram bloquear a
rota do contrabando através de Gibraltar. Quase de imediato, foram ativadas
novas rotas mais longas e mais perigosas: do Sara Ocidental para as Ilhas
Canárias e através do Mediterrâneo para Itália.
A relação entre o
passador e a pessoa contrabandeada termina no país de destino, ou seja, no
local onde a relação traficante/escravo começa
O insucesso da Europa na resolução do problema do contrabando de seres
humanos deve-se, em grande parte, a um entendimento errado. Para começar,
existe uma confusão de terminologia, porque as expressões “tráfico de seres
humanos” e “contrabando de seres humanos” são muitas vezes usadas
indiferenciadamente no debate público europeu, quando, na realidade, refletem
dois fenómenos completamente diferentes. O tráfico é uma forma de escravatura e
o contrabando é voluntário. A relação entre o passador e a pessoa
contrabandeada termina no país de destino, ou seja, no local onde a relação
traficante/escravo começa.
Press
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