segunda-feira, 28 de maio de 2012

Texto de abertura do Seminário Mudanças Ambientais e Migrações


Bom dia aos meus colegas de mesa, Dom Tomás Balduino, Érika Pires, Pe. José Oscar Beozzo, Prof. Paulo Artaxo, bom dia a todas e todos presentes.
            Quero registrar nossos agradecimentos aos parceiros que, junto com o SPM, viabilizaram a realização desse seminário. Agradeço ao CEM – Centro de Estudos Migratórios, ao CSEM – Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios pelo fundamental apoio na organização e realização do evento, ao ITESP – Instituto Teológico de São Paulo e ao Cetesp – Comissão de Estudantes de Teologia e Ciências da Religião por nos acolher, mais uma vez, no debate sobre questões e temas relevantes para a compreensão e transformação da história e realidade social que vivemos. Queremos agradecer também à Fundação Rosa Luxemburg que tem nos apoiado e tem se tornado referência no apoio às organizações populares que lutam pela democracia e pela cidadania ativa. Quero agradecer a todos vocês por sua importante presença e quero convidá-los a participar do debate com questões e reflexões, que, certamente, contribuirão para enriquecer ainda mais a nossa compreensão e intervenção sobre o tema que vamos debater.
            No ano passado, aqui nesse mesmo auditório realizamos o Seminário Grandes Obras e Migrações. Foi um seminário a quatro vozes que contou com a participação de representantes da Igreja, das Universidades, do Movimento Social através do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, e, do Governo através do Ministério do Meio Ambiente. O seminário foi muito importante e nos ajudou a mapear a extensão das grandes obras no Brasil, o seu significado político, sua íntima conexão com a expansão do capitalismo e suas consequências sociais para as populações atingidas, migrantes, indígenas, camponeses, quilombolas, trabalhadores urbanos através da expropriação dos seus meios de produção e de vida, e, da violação de seus direitos.
            O seminário deste ano, ao focalizar as mudanças ambientais e as migrações, de algum modo, dá continuidade ao debate do ano passado. “Mudanças ambientais e migrações. O que é fato e o que é alarde?”. Trata-se de um questionamento da maior importância não apenas para compreendermos o momento histórico em que vivemos, com seus fatos precursores e os seus desdobramentos, mas, também para orientarmos nossas ações na construção de outro paradigma civilizatório comprometido com o equilíbrio da vida social e ambiental no planeta.
            Atualmente as mudanças ambientais têm alterado significativamente o equilíbrio ecológico do mundo e as condições de vida de milhares de pessoas. Provocam migrações forçadas em âmbito nacional e internacional. É claro que essas mudanças não são provocadas apenas por fenômenos naturais. Suas principais causas são associadas ao padrão de consumo e ao modelo de desenvolvimento capitalista.
            Aqui, podemos fazer uma relação entre as mudanças ambientais e a expansão do agronegócio, e, a realização de grandes obras que provocam superaquecimento, destruição de biomas, redução da biodiversidade, secas, inundações, escassez de água potável, riscos à produção de alimentos, que se tornaram problemas cruciais para a humanidade e, sobretudo, para os grupos sociais diretamente atingidos. Essas transformações impactam também o mundo urbano, onde as maiorias empobrecidas, segregadas nas periferias, lutam pelo direito à cidade.
         Várias pesquisas têm sido feitas por instituições sociais e jurídicas internacionais, como a ONU, a OCDE, e apontam que somente em 2009, os problemas ambientais foram responsáveis pela migração de cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2050, esses desequilíbrios poderão atingir entre 250 milhões a um bilhão de pessoas, se medidas políticas e sociais urgentes não forem adotadas.
         A relação entre grandes obras, agronegócio, modelo de desenvolvimento e mudanças ambientais geram polêmicas, explicitam divergências entre governos, setores das Universidades, movimentos sociais e Igrejas, que alertam para os impactos ambientais e sociais decorrentes, como destruição de floras, faunas, escassez de água potável, deslocamentos populacionais compulsórios e violações de direitos humanos.
            Estes são alguns desafios históricos que a gente precisa considerar para pensar e colocar em prática ações políticas, sociais e culturais que nos permitam construir um novo paradigma civilizatório e modelo de desenvolvimento coerentes com o equilíbrio ambiental, a justiça social, e, a cidadania ativa. Então, considerando estes desafios, a importância e o objetivo deste seminário é pensar criticamente sobre o atual momento histórico, buscar saídas e alternativas concretas, como o Bem Viver, para esses problemas à luz da reflexão “sociológica” e da experiência de vida concreta dos oprimidos e excluídos.
            Desejo a todos um debate fértil e empenho civil na construção do Bem Viver.

ELIZETE SANTANNA
Vicepresidenta Serviço Pastoral do Migrante
Pastoral do Migrante Curitiba

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