quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Jovens americanos querem mostrar ascendências e assumir raças

Nova safra de estudantes universitários fazem questão de dizer que são herdeiros de mais de uma etnia

Em outro tempo ou lugar, a brincadeira "O que você é?", que foi jogada em uma noite do outono passado na Universidade de Maryland poderia ter sido maldosa, ou ameaçadora: para responder à pergunta, os colegas de Laura Wood analisavam suas feições em um esforço para adivinhar sua raça.

"Quantas misturas você tem?" perguntou um dos cerca de 50 jovens presentes. Com sua pele bronzeada e cabelos castanhos encaracolados, a ascendência de Wood poderia ser de qualquer lugar do mundo. "Eu sou a mistura de duas raças", disse ela educadamente.

Mudança

A nova safra de estudantes universitários inclui o maior grupo de mestiços a chegar à idade adulta nos Estados Unidos, e eles são a vanguarda: o país está no meio de uma mudança demográfica impulsionada pela imigração e pelos casamentos.

Um em cada sete novos casamentos acontece entre cônjuges de diferentes raças ou etnias, de acordo com dados de 2008 e 2009, que foram analisados pelo Centro de Pesquisas Pew. Americanos multirraciais e multiétnicos (geralmente agrupados como "raça mista") são um dos grupos demográficos que mais crescem no país. E os especialistas esperam que os resultados raciais do Censo de 2010, que começarão a ser divulgados no próximo mês, mostrem continuidade ou aceleração dessa tendência.

Muitos jovens adultos de origens diversas estão rejeitando as definições de cor que marcaram os americanos por muitas gerações em favor de um sentido muito mais fluido de identidade. Pergunte a Michelle Lopez-Mullins, uma caloura de 20 anos e presidente da Associação de Estudantes Multirraciais e Biraciais, como ela seleciona sua raça em formulários como o censo, e ela diz: "Depende do dia, e depende das opções".

Eles também estão usando a força do seu número crescente para afirmar as raízes que já foram retratadas como trágicas ou miseráveis. "Eu acho que é muito importante reconhecer quem você é e tudo o que faz de você o quê é", disse Wood, 19 anos, vice-presidente do grupo. "Se alguém tenta me chamar de negra eu digo sim - e branca também. As pessoas têm o direito de não reconhecer tudo, mas elas o fazem porque a sociedade diz que não podem".

Como nós éramos

Os americanos pensam em si mesmos em termos de uma raça singular. Veja a resposta do presidente Barack Obama para a questão racial no censo de 2010: apesar de sua mãe ser branca e seu pai negro, Obama marcou apenas uma opção no questionário, negro, embora pudesse ter optado por ambas.

Alguma proporção da população do país tem sido mestiça desde que os primeiros colonos brancos tiveram filhos com os nativos americanos. O que mudou é como os americanos de raça mista são definidos e contados.

Há muito tempo atrás, o país via-se em tons mais variados do que apenas preto e branco: o censo de 1890 incluía categorias de misturas raciais, como "quadroon" (um quarto negro) e "octoroon" (um oitavo negro). Com exceção de um levantamento entre 1850 e 1920, o censo incluía uma categoria mulata, que era para as pessoas que tinham qualquer traço de sangue africano.

Mas, no censo de 1930, os termos para as pessoas de raça mista haviam desaparecido, substituídos pela regra de uma gota, uma convenção de antes da guerra que considerava que qualquer pessoa com um traço de ascendência africana era apenas negra. (Da mesma forma, as pessoas que eram "brancas e índias" eram, em geral, consideradas indígenas.)

Começando com o censo de 2000, os americanos foram autorizados a optar por mais de uma raça. A opção multirracial veio depois de anos de reclamações e pressão, principalmente das mães brancas de crianças birraciais que se opunham aos seus filhos serem obrigados a optar por apenas uma raça. Em 2000, 7 milhões de pessoas – cerca de 2,4% da população – foram relatadas como raça mista.

De acordo com estimativas do Bureau do Censo, a população mestiça cresceu cerca de 35% desde 2000. E os pesquisadores acreditam que o recenseamento e outros levantamentos subestimam a população mista.

As estatísticas de 2010 sobre a população mestiça será divulgada, Estado por Estado, durante o primeiro semestre do ano. “Pode haver algumas grandes surpresas”, disse Jeffrey S. Passel, demógrafo sênior do Centro Hispânico Pew, o que significa que o número de americanos de raça mista pode ser alto. "Além de haver menos estigma de pertencer a esses grupos, há um certo tom positivo".

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