quinta-feira, 17 de março de 2016

O desafio da imigração na África do Sul


De acordo com estatísticas da Organização Mundial das Migrações (OIM), cerca de 34 por cento dos imigrantes africanos buscam na África do Sul uma resposta para os seus problemas, dividindo-se os restantes 66 por cento por destinos diversos, uns no interior do continente outros em paragens mais distantes e, por isso mesmo, também mais difíceis de atingir.

No que respeita especificamente aos que chegam à África do Sul, temos os malawianos e os moçambicanos, que optam por ficar nos subúrbios das grandes cidades, onde se oferecem para o desempenho de funções que os sul-africanos, habitualmente, se recusam a fazer.

Os somalis misturam-se com os etíopes e sempre que podem abrem pequenas lojas onde se comercializa de tudo um pouco ao som de música árabe envolta num ambiente onde os cheiros se confundem dando uma estranha sensação de inebriante intimidade. Os congoleses juntam-se aos imigrantes que chegam dos Camarões e enveredam, habitualmente, pelo comércio de bebidas caseiras e de ervas com as quais prometem curar as mais complicadas maleitas de quem a eles ocorre ou em desespero de causa ou já sem dinheiro para recorrer à habitual medicina ocidental.

Os zimbabueanos, na sua maioria possuidores de estudos mais avançados devido ao sistema de ensino em vigor no seu país, aglomeram-se também nos subúrbios de Joanesburgo e encontram facilmente trabalho nas minas de ouro e de diamantes, onde muitos chegam a desempenhar importantes cargos de chefia.

Outros empregam-se como contabilistas e passeiam-se pela cidade, o que motiva a inveja e por vezes a reacção mais musculada de alguns sul-africanos menos dados aos estudos e que julgam que a sua desgraça começou com a chegada destes estrangeiros que falam um inglês imaculado e arranjam facilmente companheiras com as quais constituem famílias.
Assim explicado corre-se o risco de transmitir a ideia de que para esses imigrantes tudo é um mar de rosas quando, na verdade, a sua esmagadora maioria vive num autêntico turbilhão de problemas, ameaças e perigos.

Por razões económicas, os africanos que escolhem a África do Sul como destino para tentar resolver os seus problemas de pobreza, por vezes extrema, optam quase sempre por viver nos subúrbios onde a violência anda mais à solta pelo facto de a polícia ter que disputar com grupos de marginais, quase a pulso, a manutenção da ordem.
Umas vezes a polícia está mais forte e vence, mas noutras ocasiões são esses grupos de marginais que dominam a situação, o que equivale dizer que nessas ocasiões a violência se faz sentir de forma mais vigorosa.

Quando isso sucede – infelizmente acontece que bastante frequência – esses imigrantes são apontados como “indesejáveis intrusos” e, por isso, tratados com a violência própria para tentar justificar esse exacerbado orgulho nacionalista a que a comunidade se habituou a chamar de “ataques xenófobos”, condenando-os com o vigor que essa acção merece.
Na África do Sul, sobretudo nos subúrbios das grandes cidades, esses ataques xenófobos acontecem com uma crescente frequência e beneficiam de alguma passividade, não superiormente orientada, por parte das forças de segurança e do próprio sistema político em vigor no país.

Um dos grandes problemas e uma das principais razões para que essa passividade seja um facto prende-se com a realidade da esmagadora maioria dos agentes e mesmo oficiais dessas forças de segurança viverem, também eles, nos subúrbios das grandes cidades, sentindo por isso na pele o mesmo que sentem aqueles que protagonizam e participam nesses ataques xenófobos.

Há sensivelmente dois meses, uma oficial superior da polícia sul-africana foi expulsa da corporação por, comprovadamente, agir em cumplicidade com esses grupos de marginais que tentam limpar com sangue a honra que sentem ofendida pelos estrangeiros que chegam ao país e que, no seu entender, lhes roubam o trabalho, as casas e as mulheres.
Recentemente, o Governo sul-africano deu uma moratória para a entrada em vigor de uma nova lei que condiciona fortemente
 a atribuição de vistos de trabalho e de residência a cidadãos estrangeiros.

Essa moratória visa dar mais tempo aos imigrantes e aos governos dos seus países de origem para que preparem as condições para abandonar a África do Sul a todos aqueles que não consigam apresentar todos os inúmeros documentos que agora são necessários para a sua legalização.
Não se trata de um trabalho fácil aquele a que se propõem as autoridades sul-africanas, uma vez que se torna extremamente difícil controlar quem está, ou não, legalmente no país, uma vez que existem assinados com quase todos os países da SADC acordos de isenção de vistos de entrada.

Trata-se de uma problemática que coloca em lados opostos os interesses políticos e os da segurança nacional e, por isso mesmo, se tornam extremamente difícil de resolver.Apesar das barreiras anunciadas pelas autoridades sul-africanas, quase diariamente continuam a chegar ao país cidadãos africanos em busca de melhores condições de vida, o que equivale dizer que, em vez de diminuir, apenas aumentam os problemas relacionados com os imigrantes.


Jornal de Angola

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