terça-feira, 15 de março de 2016

Já não somos mais os mesmos: há gritos (in)visíveis que vêm de longe e ecoam em nosso silenciamento acadêmico!


Maria de Lourdes Bernartt e Sandra de Avila Farias Bordignon (GEIROSC – Grupo de Estudos sobre Imigrações para a Região Oeste de Santa Catarina)

Atualmente no cenário brasileiro há cerca de 1.4 milhão de migrantes, o que representa 
1% da população brasileira e 0,6% da população mundial de migrantes (ZAMBERLAM et al, 2014)1, caracterizando-se como o maior fenômeno dos últimos 100 anos. Esse novo movimento revela que, de um lado ocorre o fluxo de retorno dos que viviam no exterior e, de outro, o país passa a ser uma das novas rotas de migrantes de países do Hemisfério Norte, principalmente da Europa, e mais recentemente do Continente Africano e do Caribe. Somos hoje um país de imigração e emigração, trânsito e retorno de brasileiros..”. (ZAMBERLAN et al, 2014, p. 5).
Diuturnamente nossos olhos têm presenciado cenas chocantes que ficarão para sempre incrustradas em nossa alma - como a imagem do corpo do menino Aylan Kurdi em uma praia turca, cuja família estava em situação de travessia. E, ao mesmo tempo, parece que nos acostumamos com as tragédias humanas (são os outros, estão longe, o que tenho a ver com isso?...), parece que essas situações se naturalizam, e aos, poucos, já não nos atingem tanto...nossa couraça é maior! Tal fenômeno, na contemporaneidade, consiste em um grande desafio para TODOS no que tange a seu entendimento, em todas as suas faces.
Nesse cenário, a luta pela sobrevivência, principalmente entre os que se encontram em situação de extrema vulnerabilidade social, a luta pela esperança de viver com dignidade, materializada por vidas em trânsito em escala transnacional, estão nos obrigando a ouvir os gritos e os apelos (in)visíveis de migrantes – haitianos, senegaleses, ganeses, congoleses, dominicanos, indianos, paquistaneses, sírios, dentre outras tantas nacionalidades.
Entretanto, esse panorama tem também provocado diferentes reações na população brasileiar - desde a demonstração de solidariedade, ajuda legal até a barbárie, como agressões físicas, morais, gestuais e simbólicas, como atravessar a rua ao deparar-se com um migrante, atear fogo, matar. A barbárie e o caos social estão estabelecidos em escala mundial.
Com efeito, o espaço da academia consiste também em arena para incluir, discutir e entender tal temática, bem como para se pensar em estratégias que contribuam para a inserção social, educacional e profissional dos migrantes da atualidade. Contudo, ainda não é o que se presencia na universidade; impera, pois, a inércia, a pouca atenção e o raro comprometimento efetivo diante dessa situação.

O Grupo de Estudos sobre Imigrações para a Região Oeste de Santa Catarina (GEIROSC) não se omite e não silencia...e manifesta aqui a sua postura em defesa à vida, aos direitos humanos, à solidariedade, ao acolhimento e à amizade aos migrantes brasileiros. Manifesta indignação em relação a TODA a forma de preconceito – de agressões físicas, verbais a simbólicas – como o ato espúrio da banana encontrada na mochila de um estudante universitário, ocorrido recentemente em Chapecó-SC. O que sentiu o migrante atingido? O que historicamente simboliza tal gesto? Como estamos educando nossos jovens na universidade? Podemos ignorar os ensinamentos dos valores humanos na universidade? O que pode desencadear esse ato tão vil, em um contexto universitário e na sociedade? Afinal, o que temos a ver com isso? De fato, já não somos mais os mesmos!!!

1 ZAMBERLAM, Jurandir et al. Os novos rostos da imigração no Brasil: haitianos no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Solidus, 2014.

miguelimigrante.blogspot.com

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