sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Reunião na UE sobre imigração dura 6h e não chega a acordo

Após seis horas de um tensa reunião em Bruxelas, na noite desta quinta-feira (18), os líderes da União Europeia não apresentaram nenhuma solução concreta para lidar com a crise imigratória que atinge o continente.  

No entanto, segundo fontes europeias, houve a reprovação geral da postura da Áustria e as ameaças do primeiro-italiano, Matteo Renzi, aos países do leste europeu - do chamado grupo Viségraad (V4) - que se recusarem a entrar na divisão de cotas de realocação de imigrantes.  

"Caros amigos, basta de ficar rodando no mesmo lugar. A solidariedade não pode ser somente utilizada quando precisamos receber, mas também quando precisamos dar. Inicia agora a fase de programação dos fundos até 2020. Ou vocês são solidários no dar e receber ou nós, os países contribuidores, deixaremos de ser solidários com vocês. E depois vemos o que acontece", afirmou um furioso Renzi.  

De acordo com participantes do encontro, os líderes da Alemanha, França e da Grécia apoiaram a fala do italiano. Basicamente, Renzi ameaçou a bloquear o rateio do dinheiro da União Europeia para quem não ajudar na questão imigratória. O porta-voz do governo da Hungria, Zoltan Kovacc, classificou a ameaça da Itália de "uma chantagem política".  

Apesar da crise, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que houve uma "unanimidade em reconhecer que precisamos dar uma resposta europeia à crise dos refugiados e não tomar ações unilaterais".  

Porém, um dos temas que roubaram a cena no jantar, foi a imposição da Áustria de permitir apenas 80 pedidos de asilo por dia e de limitar a presença de 3,2 mil imigrantes em seu território de deslocados que estejam buscando refúgio em países vizinhos.  

Segundo fontes, discutiu-se "as consequências em cascata que serão vistas com as medidas da Áustria na região dos Balcãs e, entre as quais, os riscos humanitários". Viena, mesmo com as críticas recebidas pelos outros membros da União Europeia, afirmou que vai começar a aplicar as novas regras a partir desta sexta-feira (18). Outro temor é que essa restrição ainda cause mais problemas para a Grécia, que é o país que mais recebe estrangeiros em suas fronteiras marítimas.  

Ontem mesmo, antes da reunião, o comissário europeu para a Imigração, Dimitris Avramopoulos, informou que a decisão austríaca era "incompatível" com as regras internacionais tanto das Nações Unidas como da própria UE. O novo plano de Viena ainda deve modificar o documento final do encontro de dois dias, com uma menção de reprovação específica ao país. A Áustria, ao lado da Alemanha, é a nação que mais recebe pedidos de refúgio e asilo no ano de 2015.  

Para Renzi, a posição dos austríacos é delicada. "A Áustria tem uma posição que é compreensivelmente muito difícil porque, pensem bem, eles tem mais solicitantes de asilo em termos absolutos do que a Itália e é, definitivamente, um país bem mais pequeno que o nosso e menos populoso. Mas, não podemos pensar em fechar fronteiras. Aqui teremos que trabalhar unidos", destacou.  

- Reunião com a Turquia: Ao fim do encontro, a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou uma "reunião extraordinária" com a Turquia sobre a crise imigratória para o início de março, provavelmente entre os dias 5 e 7.  

Em nota, a Comissão Europeia afirmou que a "plena e rápida atuação do plano de ação entre UE e Turquia permanece uma prioridade ao fim de conter os fluxos imigratórios e combater os traficantes". O território turco, além de receber mais de dois milhões de refugiados sírios, é o principal ponto de partida dos deslocados ilegais para a Grécia e para a Itália.  

A ideia de Merkel, especialmente, é reforçar o dinheiro enviado para Ancara para que o governo local consiga gerenciar de maneira mais "adequada" a crise imigratória, evitando assim que uma enorme quantidade de pessoas saia dos campos de refugiados para a Europa.  

Ainda de acordo com o comunicado final, é necessário "chegar a uma redução sustentável e substancial" no fluxo de pessoas e para isso é "necessário esforços decisivos além dos programados, também por parte da Turquia, para garantir a eficácia do plano de ação".  

- Grécia apresenta avanços: Durante sua intervenção na reunião, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, apresentou que seu governo construiu quatro dos cinco centros de acolhimentos de imigrantes - os chamados "hotspots" - e "bateu os punhos" sobre a mesa de negociações para defender que o rascunho final do encontro tivesse o compromisso de todos sobre o realocamento de refugiados.  

O italiano Matteo Renzi também foi favorável ao colega grego e pediu um reforço na ajuda ao país no planejamento para o período de 2014-2020.  

- Números: Segundo dados da Organização Mundial para a Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), mais de um milhão de imigrantes chegaram à Europa em 2015.  


Mais de 844 mil chegaram ao continente através da Grécia e 152,7 mil foram pela Itália. Já até o dia 16 de fevereiro de 2016, mais de 84 mil pessoas já fizeram a travessia, mesmo com o pior período climático para a travessia. Mais de 78,3 mil foram à Grécia e 5,9 mil à Itália, sendo que 410 já morreram ou desapareceram no mar. O maior problema do V4 com a Grécia ocorre após a chegada dos estrangeiros às suas ilhas. A conhecida "Rota dos Balcãs" é a que conta com maior deslocamento de pessoas, sendo que depois que saem do país, elas partem a pé em uma rota pela Macedônia, Sérvia, Croácia, Eslovênia para chegar à Áustria ou a Alemanha. 

(ANSA)

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