sábado, 13 de fevereiro de 2016

Crianças refugiadas celebram Carnaval no Rio de Janeiro e desfilam na Marquês de Sapucaí

No Sambódromo do Rio, 35 jovens refugiados que moram no Brasil desfilaram pela primeira vez. Fantasiadas de “Pluft, o fantasminha”, as crianças se juntaram aos integrantes da escola de samba mirim “Mangueira do Amanhã”, que levou o universo das histórias infantis para a Marquês de Sapucaí. A iniciativa, que contou com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), foi promovida em conjunto com a ONG IKMR e o Fluminense Football Club.
“O momento mais inesquecível da minha vida”. Foi como a congolesa Benedita, de 12 anos, descreveu sua passagem pela Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Nesta terça-feira de Carnaval (9), ela e outras 34 crianças refugiadas que moram no Brasil participaram, pela primeira vez, do desfile das escolas de samba mirins da capital fluminense.
Os jovens se divertiram ao lado dos 1,8 mil integrantes da agremiação “Mangueira do Amanhã”, que levou o universo dos contos de fada, das histórias infantis e dos desenhos animados para o Sambódromo.
Vindas de países bastante distintos – como Síria, Angola, Líbia, Sudão, República Democrática do Congo, Palestina e Jordânia –, as crianças viajaram de São Paulo, onde residem atualmente, até o Rio de Janeiro para arriscar seus primeiros passos de samba na Marquês de Sapucaí. “É a primeira vez que eu venho para o Carnaval”, explicava o sorridente Mohamed, um refugiado sírio de apenas oito anos, momentos antes de entrar na Avenida.
Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
O grupo reunia refugiados que já moram há algum tempo no Brasil, como a sudanesa Verônia, há mais de quatro anos no país, mas também recém-chegados, como a congolesa Exaucée, que veio para cá em janeiro desse ano.
Vestidos de “Pluft, o fantasminha”, célebre protagonista da dramaturga Maria Clara Machado, os jovens se juntaram ao cortejo de personagens fantásticos que a “Mangueira do Amanhã” colocou para sambar na Sapucaí, com o enredo “Era uma vez… A Mangueira do Amanhã vai contar para vocês”.
No começo do desfile, as crianças ainda estavam um pouco acanhadas diante da multidão nas arquibancadas. Deslumbradas com a explosão de sons e cores, foram se soltando aos poucos até pularem, baterem palmas e dançarem ao som da bateria. Ao final da festa, as menos tímidas já imitavam os movimentos dos passistas mangueirenses e os olhos brilhavam de emoção nos rostos dos mais novos foliões do Carnaval carioca.

Impressões da festa, já de olho em 2017

“Como se chama aqueles ‘batuques’? Os instrumentos!”, exclamava Benedita para explicar o que mais tinha chamado sua atenção ao longo do desfile. “Nossa, tinha muita gente!”, comentou a jovem congolesa. “Acho que eu nunca vou esquecer esse dia. Meu primeiro desfile”. A menina já está pensando em 2017. “Espero que, ano que vem, a gente venha de novo”, disse, animada.
Hannah, refugiada síria da mesma idade de Benedita, disse que nunca havia ido a uma festa como a da Sapucaí. “Eu fiquei muito feliz”, comentou. Seu compatriota Mohamed estava extasiado e declarava: “Gostei muito!”. Para a angolana Júlia, o desfile foi uma oportunidade de ver, de perto, os carros alegóricos e fantasias já conhecidos por meio dos canais de televisão de Angola, que transmitiam as festividades cariocas.
'Mangueira do Amanhã' levou histórias infantis, desenhos animados e contos de fada para a Marquês de Sapucaí. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
‘Mangueira do Amanhã’ levou histórias infantis, desenhos animados e contos de fada para a Marquês de Sapucaí. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
A participação das crianças e sua vinda ao Rio de Janeiro foram fruto de uma parceria da organização não governamental IKMR (do inglês, ‘I Know My Rights’ – ou Eu Conheço Meus Direitos), com a “Mangueira do Amanhã” e com o Fluminense Football Club, onde os refugiados puderam aproveitar um dia de piscina antes do desfile. A iniciativa contou com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
“É muito importante para a gente estar aqui, na maior festa popular do mundo, que representa tanto o nosso país, que envolve esse universo de cor, de ritmo, de música, de purpurina”, disse a presidente da IKMR, Vivianne Reis. Para a diretora da ONG, que presta assistência aos jovens e às suas famílias em São Paulo, o Carnaval “é uma das formas mais lúdicas de promover essa integração entre elas (os refugiados) e as crianças brasileiras”.
“A gente quer que essas crianças que chegaram no Brasil tenham uma história que comece com ‘Era uma vez…’, que não teve um início feliz, mas pode ter um presente muito feliz”, acrescentou Vivianne.
A presidenta da IKMR, Vivianne Reis, em meio aos refugiados, no Fluminense Football Club. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
A presidenta da IKMR, Vivianne Reis, em meio aos refugiados, no Fluminense Football Club. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
O presidente da “Mangueira do Amanhã”, José Arcindo, também conhecido como Soca, lembrou que a ideia de convidar os jovens para a folia foi uma sugestão de Maria Bethânia. A cantora foi homenageada pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, à qual a agremiação mirim é afiliada. “E nós abrimos os braços (para recebê-los) e ficamos muito felizes”, contou Soca.
Para a felicidade de Benedita e seus companheiros, o líder da escola afirmou também que, em 2017, a “Mangueira do Amanhã” vai receber ainda mais refugiados. A Mangueira foi a campeã do Carnaval 2016, com o enredo “Maria Bethânia – a menina dos olhos de Oyá”.
Para o assistente sênior de Informação Pública do ACNUR, Miguel Pachioni, a participação das crianças no Carnaval é fundamental para que elas, após enfrentarem realidades trágicas em seus países de origem, possam se reconhecer como cidadãs, capazes de contribuir para a construção da nova cultura onde estão inseridos. “Eu acho que, para a criança refugiada, (o Carnaval) tem um apelo muito forte, no sentido de que elas passam a cultivar a sua própria imaginação”, disse.
A ansiedade tomou conta das crianças antes do desfile. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
A ansiedade tomou conta das crianças antes do desfile. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Jovens refugiados se empolgaram com a 'Mangueira do Amanhã' e arriscaram seus primeiros passos de samba durante o desfile. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Jovens refugiados se empolgaram com a ‘Mangueira do Amanhã’ e arriscaram seus primeiros passos de samba durante o desfile. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Vestidos de 'Pluft, o fantasminha', refugiados se divertiram no Sambódromo do Rio de Janeiro. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Vestidos de ‘Pluft, o fantasminha’, refugiados se divertiram no Sambódromo do Rio de Janeiro. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
ACNUR

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