Pelo
menos noventa imigrantes haitianos despachados pelo governo do Acre estão
amontoados no salão de festas da Missão Paz, entidade religiosa que
administra a Casa do Imigrante, no bairro do Glicério, no Centro de São
Paulo. Inaugurado em agosto do ano passado como a principal ação da prefeitura
de São Paulo para abrigar a onda imigratória que chega a São Paulo vinda
do Acre, o Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI) não tem
dado conta da demanda – somente nesta semana, seis ônibus repletos de haitianos
chegaram em menos de cinco dias. Os veículos são fretados pelo governador Tião
Viana (PT). Por causa disso, os imigrantes acabam sendo levados à Missão da
Paz.
De acordo com o
padre Paolo Parise, que administra a entidade, dois haitianos chegaram
desidratados, pois faltou água de comida ao longo do trajeto. Muitos,
segundo o padre, chegam sem a carteira de trabalho, documento que tem demorado
mais de um mês para ser expedido e deve ser emitido no local de chegada dos
imigrantes ao país – ou seja, o Acre. A falta do documento coloca os haitianos em risco. O padre relata já
ter presenciado assédio por parte de empresas que desejam contratá-los sem
garantir os direitos trabalhistas. Um grupo chegou a ir trabalhar no Rio de
Janeiro, mas voltou ao abrigo da Missão Paz afirmando que não
recebeu salário.
A crise
provocada pelo envio irresponsável de imigrantes que entram no país pela
fronteira no Acre foi deflagrada no início do ano passado, impulsionada pela
cheia do rio Madeira. Com as estradas interditadas, o Acre transportou os
imigrantes de Brasileia, onde funcionava um abrigo, para a capital Rio Branco,
de onde embarcaram em ônibus fretados a São Paulo. O secretário de Justiça e
Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, nega que tenha aumentado o envio de
ônibus na última semana. "Mantemos a mesmo ritmo, de fretar de dois a três
ônibus por semana."
A Secretaria
Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo afirma que a oferta
de vagas para imigrantes não se restringe apenas ao CRAI. E que hoje
há mais de 600 imigrantes acolhidos na rede da Assistência Social, com
destaque ao Arsenal da Esperança, que abriga 300 pessoas.
Veja
Mariana Zylberkan
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