Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
São cada vez mais
numerosas e brutais as cenas de violência, particularmente no que se refere aos
conflitos armados. Merecem ser destacados países como Iraque, Síria, Líbia,
Nigéria... Mas não são os únicos. Além disso, por trás do palco da guerra, do
fogo cruzado das armas, ao mesmo tempo revelam-se e escondem-se outras duas
guerras: por um lado, a guerra de imagens,
costurada através de fatos, boatos e interpretações contrastantes, e que
aumenta em proporção direta ao desenvolvimento vertiginoso das
telecomunicações. Por outro lado, a guerra
da fabricação das próprias armas, bem como sua comercialização e consumo,
onde a sofisticada indústria bélica faz crescer de forma considerável a “paz e
a prosperidade” de uns em detrimento da “morte, mutilação ou fuga” de outros.
Ambas movimentam diariamente cifras exorbitantes em lucros e capital,
desfilando sem escrúpulos pelo painel das bolsas de valores.
Mas o quadro da
violência apresenta outras faces não menos dramáticas e brutais. A mais
visível, cuja gravidade vem exibindo neste ano números sem precedentes,
consiste no fenômeno das migrações forçadas. Verdadeiras ondas tsunâmicas de um
terremoto ideológico e político, não sobterrâneo, mas sobre a face da terra. O mar
Mediterrâneo, cenário de conflitos históricos em épocas passadas, volta a ser
uma “encruzilhada” para onde convergem, aos milhares, migrantes, refugiados,
prófugos... Gente que, tentando escapar da fúria dos combates no solo pátrio,
em não poucos casos encontra a morte em sua travessia. Multiplicam-se tanto as
embarcações que procuram fazer uma ponte entre as suas margens – Oriente
Próximo, África e Europa – quanto o número de desaparecidos em meio às águas
indiferentes e impiedosas. Fuga, esperança e sonho convertem-se em pesadelo.
Que faz a comunidade
internacional? Proliferam as promessas, discursos e econtros, ao passo que
escasseiam as medidas eficazes, preventivas ou corretivas. Enquanto as facções
em guerra continuam à mercê do ódio, do fanatismo religioso, da intolerância e
da vingança recíproca, os fugitivos desse fogo sem trégua amargam um destino
incerto e inseguro. Famílias, histórias e laços de parentesco se rompem
irremediavelmente, sem que, muitas vezes, os que ficaram sequer saibam o que
ocorreu com os que tiveram de partir. Voltando às relações internacionais, onde
está a força da ONU, da ACNUR, dos países do G8 ou do G20? Onde foi parar a
defesa dos direitos humanos de migrantes, prófugos e refugiados? O que pensar
da dignidade da pessoa humana em tais situações e circunstâncias? Não custa
perguntar, por exemplo, que repercussão concreta teve o apelo do Papa Francisco
em Lampedusa (julho de 2013), em primeiro lugar no interior das próprias igrejas
e religiões, e depois na sociedade em geral?
A verdade é que tanques,
metralhadoras, fuzis, bandeiras, homens encapuzados e progéteis assassinos, por
uma parte, e rostos desfigurados pelo pânico e pela incertaza, pelo o frio e pela
fome, por outra, parecem não ter mais o poder de sensibilizar as autoridades,
os meios de comunicação e a opinião pública. A violência, pelo seu próprio
execesso, acaba por banalizar-se no noticiário televisivo do dia-a-dia;
naturaliza-se os crimes mais horrendos, como decapitar ou queimar pessoas
vivas; a vida perde o valor diante das câmeras, holofotes e microfones, bem
como diante dos telespectadores; como numa tragédia na exibição fictícia de uma
peça no palco, normaliza-se qualquer tipo de violência – só que neste caso o
teatro é a própria sociedade. E, enquanto milhares de pessoas fogem do inferno,
os cidadãos “de bem” e “de “bens” acompanham as notícias, emitem qualquer
suspiro ou setença de desaprovação, e se retiram aos seus aposentos
privados!... Isto para sequer mencionar os magnatas da indústria armamentista
ou os pretensos responsáveis pela paz mundial.
Roma 26 de fevereiro de 2015
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