quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

GUERRA, VIOLÊNCIA E MIGRAÇÃO


Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs


São cada vez mais numerosas e brutais as cenas de violência, particularmente no que se refere aos conflitos armados. Merecem ser destacados países como Iraque, Síria, Líbia, Nigéria... Mas não são os únicos. Além disso, por trás do palco da guerra, do fogo cruzado das armas, ao mesmo tempo revelam-se e escondem-se outras duas guerras: por um lado, a guerra de imagens, costurada através de fatos, boatos e interpretações contrastantes, e que aumenta em proporção direta ao desenvolvimento vertiginoso das telecomunicações. Por outro lado, a guerra da fabricação das próprias armas, bem como sua comercialização e consumo, onde a sofisticada indústria bélica faz crescer de forma considerável a “paz e a prosperidade” de uns em detrimento da “morte, mutilação ou fuga” de outros. Ambas movimentam diariamente cifras exorbitantes em lucros e capital, desfilando sem escrúpulos pelo painel das bolsas de valores.

Mas o quadro da violência apresenta outras faces não menos dramáticas e brutais. A mais visível, cuja gravidade vem exibindo neste ano números sem precedentes, consiste no fenômeno das migrações forçadas. Verdadeiras ondas tsunâmicas de um terremoto ideológico e político, não sobterrâneo, mas sobre a face da terra. O mar Mediterrâneo, cenário de conflitos históricos em épocas passadas, volta a ser uma “encruzilhada” para onde convergem, aos milhares, migrantes, refugiados, prófugos... Gente que, tentando escapar da fúria dos combates no solo pátrio, em não poucos casos encontra a morte em sua travessia. Multiplicam-se tanto as embarcações que procuram fazer uma ponte entre as suas margens – Oriente Próximo, África e Europa – quanto o número de desaparecidos em meio às águas indiferentes e impiedosas. Fuga, esperança e sonho convertem-se em pesadelo.

Que faz a comunidade internacional? Proliferam as promessas, discursos e econtros, ao passo que escasseiam as medidas eficazes, preventivas ou corretivas. Enquanto as facções em guerra continuam à mercê do ódio, do fanatismo religioso, da intolerância e da vingança recíproca, os fugitivos desse fogo sem trégua amargam um destino incerto e inseguro. Famílias, histórias e laços de parentesco se rompem irremediavelmente, sem que, muitas vezes, os que ficaram sequer saibam o que ocorreu com os que tiveram de partir. Voltando às relações internacionais, onde está a força da ONU, da ACNUR, dos países do G8 ou do G20? Onde foi parar a defesa dos direitos humanos de migrantes, prófugos e refugiados? O que pensar da dignidade da pessoa humana em tais situações e circunstâncias? Não custa perguntar, por exemplo, que repercussão concreta teve o apelo do Papa Francisco em Lampedusa (julho de 2013), em primeiro lugar no interior das próprias igrejas e religiões, e depois na sociedade em geral?

A verdade é que tanques, metralhadoras, fuzis, bandeiras, homens encapuzados e progéteis assassinos, por uma parte, e rostos desfigurados pelo pânico e pela incertaza, pelo o frio e pela fome, por outra, parecem não ter mais o poder de sensibilizar as autoridades, os meios de comunicação e a opinião pública. A violência, pelo seu próprio execesso, acaba por banalizar-se no noticiário televisivo do dia-a-dia; naturaliza-se os crimes mais horrendos, como decapitar ou queimar pessoas vivas; a vida perde o valor diante das câmeras, holofotes e microfones, bem como diante dos telespectadores; como numa tragédia na exibição fictícia de uma peça no palco, normaliza-se qualquer tipo de violência – só que neste caso o teatro é a própria sociedade. E, enquanto milhares de pessoas fogem do inferno, os cidadãos “de bem” e “de “bens” acompanham as notícias, emitem qualquer suspiro ou setença de desaprovação, e se retiram aos seus aposentos privados!... Isto para sequer mencionar os magnatas da indústria armamentista ou os pretensos responsáveis pela paz mundial.



Roma 26 de fevereiro de 2015

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