São cerca de 27 mil os estrangeiros que
estão inscritos nos cadernos eleitorais para as eleições autárquicas deste ano.
Destes, cerca de 44% são cidadãos de países da União Europeia e os restantes
repartem a nacionalidade por países como Cabo Verde, Brasil, Argentina, Chile,
Colômbia, Peru, Uruguai, Venezuela, Islândia, Noruega ou Nova Zelândia (ver
caixa ao lado).
Com a declaração n.o 4/2013, de 24 de
Junho, os cidadãos de estados-membros da União Europeia e do Brasil e Cabo
Verde podem candidatar-se às eleições. Depois de muito procurar, o i foi
falar com três para todas as latitudes e ideologias. Os seus percursos são
diferentes, mas o seu empenhamento na sua nova terra é igual.
HERMANN HANS
JANSSEN Este alemão descobriu o paraíso em Aljezur. Em 1974, Hermann
Hans Janssen visitou Portugal pela primeira vez e desde então nunca parou.
Natural da Alemanha, apaixonou-se pelo local, tendo-o como ponto de referência
para passar as férias todos os anos. Mas isso não era suficiente e Hermann
decidiu fixar-se no país.
"Fiquei fascinado com a alegria das
pessoas e a maneira como viviam, de forma aberta. Isso fez-me muito bem. Quase
todas as férias foram aqui. Comecei a juntar dinheiro e em 1977 decidi comprar
um terreno." Depois de ter chegado a Portugal, foi durante dez anos sócio
gerente de um restaurante e em 2001 começou a trabalhar no sector da construção
civil como trabalhador independente.
Em 1972 fazia parte do Partido Comunista
da Alemanha Federal (DKP) e em 1989 juntou-se ao português. "Não há
grandes diferenças entre os partidos, a ideologia é a mesma, mas aqui acho que
é mais forte e o anticomunismo não é tão brutal como na Alemanha."
Por estar preocupado com a "situação
em Portugal", hoje, com 63 anos, Hermann é candidato a presidente da
câmara de Aljezur - um dos concelhos do país com mais habitantes estrangeiros -
pela CDU e acredita que se nada fizer o país "vai em direcção a uma
catástrofe". Vê de uma forma muito pessimista a evolução da situação
política na sua Alemanha natal: "Vamos todos perder com a vitória da
Angela Merkel."
"Temos de defender os nossos
direitos, os direitos dos trabalhadores e a nossa democracia." Se vencer
as eleições, fará tudo "pela juventude, pelos trabalhadores e pelos
idosos", sem esquecer o investimento no turismo e a criação de postos de
trabalho nesta área.
ALINE GALLASCH
HALL Chora quando ouve o hino e quando recita
alguns poemas de Taras Shevchenco, poeta nacional ucraniano. Sabe todas as
danças típicas do país da mãe, mas nunca pôs os pés na Ucrânia. Aline Gallasch
Hall nasceu em Porto
Alegre , no Rio Grande do Sul, Brasil. Filha de pai português
e mãe de origem ucraniana, com três anos de idade Aline já sabia os três hinos
nacionais. A ligação com o Rio Grande do Sul ainda se mantém, mas a mãe faz
questão de manter a língua ucraniana no seio da família. Aline, porém, sente
que o coração é sem dúvida português. "Vim para Portugal com cinco ou seis
anos e de facto vivi a minha vida toda praticamente em Lisboa." As
misturas de nacionalidade são tantas que os próprios amigos brincam com a
situação. "Costumam dizer que sou Benetton de ADN."
Licenciada em História de Arte, com
mestrado em
História Pré-Clássica , na área de Egiptologia, e com
doutoramento em
História Moderna , Aline sempre se identificou com a história
e a cultura de Portugal, tendo feito de Afonso Henriques o seu herói de
infância.
O percurso político começou em 2009,
quando um amigo a desafiou para se juntar ao Partido Popular Monárquico.
"Ele perguntou: 'Então, Aline, porque não vens?' e eu respondi que era
contra isto e contra aquilo e que não gostava do Nuno da Camara Pereira. E ele
disse: 'Mais um motivo. Assim debates com ele as ideias e dizes aquilo de que
não gostas.' Ele tinha razão. Porque hei-de estar insatisfeita e dizer que as
coisas têm de mudar se eu própria não faço nada para isso?" Em 2009
formalizou pela primeira vez a sua candidatura, voltando a fazê--lo novamente
este ano. "Quero melhorar a vida cultural de Lisboa criando mais emprego.
Chamar a atenção para a ligação entre a cultura e o turismo que acho que está
muito mal aproveitada no nosso país. A Áustria, por exemplo, consegue viver à
custa do turismo cultural." Para isso apresenta-se como cabeça-de--lista à
assembleia municipal na lista apoiada pelos monárquicos.
JOSÉ CARLOS
MOZER Ficou
marcado por ter estado cinco épocas no Benfica e ter sido campeão nacional duas
vezes com Toni. José Carlos Nepomuceno Mozer nasceu no Rio de Janeiro, jogou
pelo Flamengo e em 1987/88 chegou ao nosso país para se impor como
defesa-central. A política nunca foi o seu forte, mas não há nada que não se
faça por um amigo. "Desde que o meu amigo Pedro Pinto se propôs governar
Sintra que abracei também a sua causa." Ambos amantes do desporto, não
havia motivo melhor para se unirem. "É um privilégio gostarmos do mesmo desporto
e, como tal, em Sintra essa vertente está desfavorecida ou é quase nula. Quando
ele me pediu apoio - conheço muito bem as suas capacidades de governante -, não
hesitei."
Hoje treinador e comentador na Bola TV,
apesar de não gostar de falar muito de política, "pois, de uma forma
geral, as pessoas interpretam mal", Mozer está a par de tudo o que
acontece. "Temos uma política de que ninguém gosta, mas o problema não é
de agora? já vem de há anos. Temos de sarar a ferida e, de alguma maneira,
tomar providências para que o futuro seja melhor." Por acreditar nisso, o
ex-jogador, de 53 anos, decidiu juntar-se a Pedro Pinto - candidato pelo PSD à
Câmara Municipal de Sintra.
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