Um plano a 25 anos, “políticos com coragem”
e uma abordagem de controle de danos são os ingredientes da receita do relator
especial das Nações Unidas François Crépeau para enfrentar o desafio dos fluxos
migratórios.
Segundo a Organização Internacional
para as Migrações, quase cinco mil imigrantes morreram à procura de melhores
condições de vida ao longo de 2014 – o ano mais mortífero desde que há
registros.
A julgar pelo início do novo ano, a
tendência parece ter vindo para ficar. Na sexta-feira, as autoridades italianas
resgataram mais um cargueiro, com quatro centenas de imigrantes a bordo.
“Não podemos esperar que os três
milhões de pessoas à espera nas nossas fronteiras não tentem atravessá-las”,
comenta o relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos dos
Migrantes.
François Crépeau diz que a resolução do
problema exige “ideias criativas" e “não vai acontecer de um momento para
o outro”. Mas arrisca uma receita. Primeiro, um plano a longo prazo, para os
próximos 25 anos, assente numa maior mobilidade.
“É extremamente paradoxal que, hoje, em
nome de medidas para controle de fronteiras, os Estados tenham perdido o
controlo dessas mesmas fronteiras, agora controladas por traficantes”, critica,
considerando que a política de tolerância zero demonstrou ser “a abordagem
errada”.
Daí que o segundo ingrediente passe por
políticas de “redução de danos”, retirando poder às redes de traficantes.
“Proibir as pessoas de entrarem apenas cria um mercado para as máfias que
prometem ultrapassar a proibição. Se queremos controlar o fluxo de pessoas,
temos de autorizar a passagem para a maioria delas”, contrapõe o professor
canadiano, considerando que é aqui que a União Europeia pode “demonstrar
liderança”, como já o fez com os acordos de Schengen, por exemplo.
Lutar contra a exploração laboral dos
imigrantes passa por reconhecer que eles são necessários e por lhes dar poder
para denunciarem os abusos e reivindicarem os seus direitos. O que leva ao
terceiro ingrediente: “políticos com coragem”.
Três anos após o início do conflito na
Síria, “a Europa nada fez para acolher” os três milhões de refugiados sírios.
“Liderança” – diz François Crépeau – seria um programa conjunto dos países
desenvolvidos para os acolher, ao longo dos próximos três anos.
Jornal
I
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