O
Alto Comissariado da ONU para Refugiados, António Guterres, fez um apelo para
intensificar o apoio financeiro aos refugiados sírios e aos países que os
acolhem. Um novo relatório do ACNUR revela que um grande número de sírios está
entrando na faixa da extrema pobreza.
Intitulado “Living in the Shadows" ("Vivendo na
Sombra”, em português), o relatório mostra que dois terços dos refugiados
sírios em toda a Jordânia vivem abaixo da linha de pobreza no país, e que um em
cada seis refugiados vive em situação de extrema pobreza, com recursos de
apenas US $ 1,30 por dia. As conclusões baseiam-se na maior pesquisa já feita
sobre as condições de vida dos refugiados, envolvendo cerca de 150 mil pessoas.
"O problema é que a assistência dada hoje não é suficiente
para garantir uma vida digna para todos os sírios que vivem na Jordânia, bem
como no Líbano ou em qualquer dos países vizinhos", disse Guterres durante
sua visita a Amã.
"Isso cria uma situação em que o povo sírio está sofrendo
um risco duplo, em primeiro lugar, como vítima de um conflito sem um fim no
horizonte - e o desespero que isso gera - e, então, é forçado a viver em
condições de extrema pobreza", acrescentou Guterres.
Com a crise na Síria prestes a entrar em seu quinto ano, o
relatório constatou que a maioria dos refugiados está se tornando cada vez mais
dependente de ajuda humanitária para sobreviver, com consequente deterioração
de sua qualidade de vida.
Quase a metade dos domicílios analisados pela pesquisa não tinha
aquecimento, um quarto tinha fornecimento constante de eletricidade e 20% não
tinham banheiro funcionando adequadamente. Para muitos deles, esta terrível
situação está sendo agravada pelas tempestades de inverno que assolaram a
região na semana passada, trazendo neve e temperaturas abaixo de zero e
danificando os abrigos.
Guterres visitou também uma família síria em Amã que depende da
ajuda financeira de agências humanitária para sobreviver. Mohammed e sua esposa
Um Ahmed pagam 70 dinares jordanianos por mês (US $ 98) por um apartamento
úmido no centro da cidade, com pintura descascada e paredes desmoronando.
Eles recebem do ACNUR 100 dinares (US $ 140) por mês em
dinheiro. Mas, depois de pagar as contas de eletricidade e gás, dependem
inteiramente da assistência do Programa Mundial de Alimentos para cobrir todas
as outras despesas da família. O casal tem três filhos, dois deles têm
necessidades especiais, mas só é possível pagar o tratamento médico para um
deles.
"Gostaria de poder dar o tratamento adequado aos meus
filhos e de vê-los com mais saúde, mas não temos recursos porque o tratamento é
muito caro", disse Um Ahmed. "Amo muito meus filhos e os aceito como
são, mas eu gostaria de poder dar um tratamento melhor para eles."
Com 3,8 milhões de sírios já registados como refugiados pelo
ACNUR e outras 12 milhões de pessoas deslocadas precisando de assistência
dentro da Síria, no mês passado as agências da ONU e seus parceiros
humanitários lançaram um apelo por mais de US $ 8,4 bilhões para distribuir
ajuda aos sírios em 2015.
O Alto Comissário Guterres advertiu que as necessidades
humanitárias consequentes da crise aumentam em ritmo maior do que as
contribuições da comunidade internacional, e instou os doadores a elevar
maciçamente seu apoio aos refugiados e às comunidades de acolhida.
"Nós ainda não temos ideia de quanto será o financiamento
para 2015. Esperamos que seja maior do que em 2014, porque no ano passado
pudemos responder a apenas 50% das necessidades", disse Guterres. Como
mostra o relatório “Living in the Shadows", qualquer outra redução de
assistência teria consequências graves e imediatas para milhões de sírios,
acrescentou Guterres.
Acnur
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