Maioria trabalha na construção
civil, mas término de obras da Copa preocupa.
Com fechamento de abrigo no Acre, aumentou número de haitianos em Cuiabá.
Com fechamento de abrigo no Acre, aumentou número de haitianos em Cuiabá.
Pollyana AraújoDo G1 MT
De dois anos para cá, se tornou comum encontrar
haitianos pelas ruas de Cuiabá,
principalmente na região central. Até agora, conforme o Centro de Pastoral para
Migrantes de Cuiabá, são 2,3 mil haitianos morando na capital. A maioria deles
trabalha na construção civil , sendo que boa
parte foi atraída pela oferta de emprego gerada com as obras executadas para a
Copa do Mundo, em junho deste ano. Com a conclusão desses projetos, a redução
do número de empregos já é motivo de preocupação, segundo o diretor da Pastoral
dos Migrantes, padre Olmes Milani.
Nesta semana, com o fechamento de um abrigo que
recebe haitianos no Acre, na semana passada, a Casa do Migrante, instituição
mantida pela Igreja Católica, que fica no Bairro Carumbé, na capital, tem
dobrado o número de imigrantes. "Se antes, chegavam dois, três por dia,
agora está chegando cinco", contou o padre. Porém, segundo ele, a
preferência dos haitianos é pelos estados da região sul e sudeste, mas ficam onde conseguirem emprego.
Em Cuiabá, a média de tempo de espera por trabalho
é de uma semana. Contudo, os salários não são muito atrativos. Variam de R$ 700
a R$ 900. "Eles saem daqui [da Casa do Migrante] só quando tiverem
arrumado emprego e casa para morar, seja fornecida pela empresa que irão
trabalhar, seja alugada por eles", explicou Milani. A faixa etária desses haitianos é de 21 a 40 anos. Porém, já
chegaram na cidade pessoas acima de 50.
Eles deixaram o Haiti depois do terremoto que
deixou 1,5 milhão de pessoas desabrigadas naquele país em 2010. A tragédia
matou mais de 250 mil pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),
das vítimas, 18 eram militares brasileiros. Além disso, 40 mil pessoas tiveram
os membros amputados.
Duas crianças de um casal haitiano nasceram em
Cuiabá no mês passado, mas acabaram falecendo. O motivo da morte dos gêmeos
seria a falta de cuidado da mãe durante a gravidez. De acordo com o padre, ela não teria feito o pré-natal e a falta
de condições físicas da mãe para ter os filhos. Mas são poucos que se mudam
para o Brasil a
família. A maioria se muda com o intuito de trabalhar para mandar dinheiro às
famílias que permaneceram naquele país.
Pelo menos 90% desses imigrantes são homens. Alguns
deles têm curso superior, mas não têm autorização para trabalhar no Brasil. O
processo de regularização pode demorar até três anos. Desse modo, têm que atuar
em outros serviços em que não se exige curso superior, como na construção
civil, por exemplo.
Embora, no ano passado, um grupo de mais de 100
haitianos concluíram cursos gratuitos de pedreiro e aplicação de revestimento
cerâmico, oferecido pelo governo do estado, por meio do programa 'Copa em Ação, da Secretaria Estadual de Trabalho e
Assistência Social (Setas).
Quando chegam em Cuiabá, eles passam por um curso
básico de portugues para conseguirem se virar com a língua, já que o idioma
oficial do Haiti é o francês. Entretanto, a maioria se comunica apenas pela
língua crioulo. A dificuldade na comunicação é uma das dificuldades que eles
enfrentam no país. "Na Casa do Migrante temos um curso bem rudimentar de
português básico", contou Milani.
Na tentativa de amenizar esse problema, um projeto
vem sendo desenvolvido pela Pastoral do Migrante em parceria com outras
instituições, entre elas a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para
oferecer um curso de português gratuitamente aos haitianos. A coordenadora
desse trabalho, professora Cláudia Paes de Barros, disse ao G1 que a intenção é reinserir os haitianos na
sociedade cuiabana.
"Muitos têm vindo para cá depois de ficarem
sabendo que no Brasil tem emprego por causa da Copa, mas a barreira da língua
tem dificultado bastante", avaliou. Segundo ela, as aulas devem começar na
próxima semana. Serão duas turmas, sendo que cada uma tem 50 alunos. Ela contou
que o fato deles estarem espalhados pela cidade tem dificultado a divulgação.
"A Casa do Migrante é só o lugar de chegada, porque depois eles se mudam
para outros locais".
A tendência, no entanto, conforme explicou o padre
Olmes Milani, é que eles acabem se unindo novamente, por grau de parentesco ou
por região de onde vieram. "Eles são muito grupais e acabam se juntando de
acordo com o local de origem e parentesco", afirmou.
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