Cerca de 40 mil imigrantes do Haiti entraram no Brasil desde o terremoto
que assolou o país caribenho em 2010, segundo levantamento da agência
"Amazônia Real" com base em dados do Ministério das Relações
Exteriores, da Polícia Federal, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do
Acre e da Pastoral do Migrante de Manaus (AM).
Desse total, pelo menos 28 mil haitianos atravessaram a floresta
amazônica, na maioria das vezes apoiados por traficantes humanos, "os
coiotes", para entrar de forma ilegal nos estados de Amazonas e Acre.
A rota do tráfico humano do Haiti ao Brasil começa pela República
Dominicana e segue por Panamá, Equador, Peru e Bolívia. No Acre, os haitianos
entram clandestinamente pela cidade peruana de Iñapari, na divisa com Assis
Brasil, ou pela fronteira boliviana entre Cobija, Brasileia e Epitaciolândia.
No Amazonas, eles chegam por Tabatinga, na fronteira com Iquitos (Peru).
Como parte da política do governo da presidente Dilma Rousseff para
conter a imigração ilegal e o tráfico humano, o Ministério das Relações
Exteriores emitiu, a partir de 2012, 10 mil vistos para imigrantes haitianos
nas embaixadas do Brasil em Porto Príncipe, capital do Haiti, em Quito, no
Equador, e em Lima, no Peru.
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Porém, a medida não conteve o tráfico de pessoas nas fronteiras. A
partir de 2013 até março de 2014, a pequena cidade de Brasileia, a 231
quilômetros de Rio Branco, viu chegar uma onda de estrangeiros ilegais.
Ingressaram no território brasileiro pela fronteira da Bolívia 1.550 africanos
do Senegal e 185 dominicanos. Brasileia, que tem 22 mil habitantes, recebeu
21.385 estrangeiros desde 2010, sendo 19.650 haitianos.
Em entrevista à "Amazônia Real", um dos coordenadores da ação
humanitária no Acre, o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos,
Nilson Mourão, defendeu uma ação diplomática que envolva os países fronteiriços
na responsabilidade do fluxo migratório com o Brasil.
No início desde ano, Mourão chegou a sugerir ao governador o fechamento
da fronteira como medida emergencial para conter a imigração ilegal, mas o
governo de Dilma Rousseff não aceitou a proposta.
Mourão afirma que "o problema da tragédia do Haiti não é só do
Brasil". "É problema do Brasil, da República Dominicana, do Equador,
do Peru e da Bolívia. Esses países vizinhos têm que se responsabilizar também.
Eles têm que ser chamados para dar sua responsabilidade também", disse o
secretário.
"Ninguém nesses países consegue espaços, e eles veem no Brasil a
terra prometida", completou Mourão.
Devido à entrada descontrolada dos imigrantes no Acre, em outubro de
2013 o governo estadual decretou a situação de emergência social em Brasileia e
Epitaciolândia. O estado enfrenta "sérias dificuldades", como diz o
decreto, para alimentar e acomodar os estrangeiros.
Para o secretário Nilson Mourão, o Itamaraty precisa encontrar um
caminho para facilitar os vistos dos haitianos e desativar a rota ilegal da
imigração para Acre.
"Os nossos diplomatas têm que encontrar um caminho para facilitar
os vistos dessas pessoas que vêm de modo irregular. Se estão vindo na rota
ilegal é porque estão encontrando possibilidade mais ampla. Essa rota ilegal
não pode ficar assim porque ela é uma ação dos traficantes de pessoas, que são
os coiotes", afirmou o secretário.
Terra
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