quarta-feira, 9 de abril de 2014

Brasil falha em controle de tráfico de haitianos na fronteira da Amazônia

Cerca de 40 mil imigrantes do Haiti entraram no Brasil desde o terremoto que assolou o país caribenho em 2010, segundo levantamento da agência "Amazônia Real" com base em dados do Ministério das Relações Exteriores, da Polícia Federal, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre e da Pastoral do Migrante de Manaus (AM).
Desse total, pelo menos 28 mil haitianos atravessaram a floresta amazônica, na maioria das vezes apoiados por traficantes humanos, "os coiotes", para entrar de forma ilegal nos estados de Amazonas e Acre.
A rota do tráfico humano do Haiti ao Brasil começa pela República Dominicana e segue por Panamá, Equador, Peru e Bolívia. No Acre, os haitianos entram clandestinamente pela cidade peruana de Iñapari, na divisa com Assis Brasil, ou pela fronteira boliviana entre Cobija, Brasileia e Epitaciolândia. No Amazonas, eles chegam por Tabatinga, na fronteira com Iquitos (Peru).
Como parte da política do governo da presidente Dilma Rousseff para conter a imigração ilegal e o tráfico humano, o Ministério das Relações Exteriores emitiu, a partir de 2012, 10 mil vistos para imigrantes haitianos nas embaixadas do Brasil em Porto Príncipe, capital do Haiti, em Quito, no Equador, e em Lima, no Peru.
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Porém, a medida não conteve o tráfico de pessoas nas fronteiras. A partir de 2013 até março de 2014, a pequena cidade de Brasileia, a 231 quilômetros de Rio Branco, viu chegar uma onda de estrangeiros ilegais. Ingressaram no território brasileiro pela fronteira da Bolívia 1.550 africanos do Senegal e 185 dominicanos. Brasileia, que tem 22 mil habitantes, recebeu 21.385 estrangeiros desde 2010, sendo 19.650 haitianos.
Em entrevista à "Amazônia Real", um dos coordenadores da ação humanitária no Acre, o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, defendeu uma ação diplomática que envolva os países fronteiriços na responsabilidade do fluxo migratório com o Brasil.
No início desde ano, Mourão chegou a sugerir ao governador o fechamento da fronteira como medida emergencial para conter a imigração ilegal, mas o governo de Dilma Rousseff não aceitou a proposta.
Mourão afirma que "o problema da tragédia do Haiti não é só do Brasil". "É problema do Brasil, da República Dominicana, do Equador, do Peru e da Bolívia. Esses países vizinhos têm que se responsabilizar também. Eles têm que ser chamados para dar sua responsabilidade também", disse o secretário.
"Ninguém nesses países consegue espaços, e eles veem no Brasil a terra prometida", completou Mourão.
Devido à entrada descontrolada dos imigrantes no Acre, em outubro de 2013 o governo estadual decretou a situação de emergência social em Brasileia e Epitaciolândia. O estado enfrenta "sérias dificuldades", como diz o decreto, para alimentar e acomodar os estrangeiros.
Para o secretário Nilson Mourão, o Itamaraty precisa encontrar um caminho para facilitar os vistos dos haitianos e desativar a rota ilegal da imigração para Acre.
"Os nossos diplomatas têm que encontrar um caminho para facilitar os vistos dessas pessoas que vêm de modo irregular. Se estão vindo na rota ilegal é porque estão encontrando possibilidade mais ampla. Essa rota ilegal não pode ficar assim porque ela é uma ação dos traficantes de pessoas, que são os coiotes", afirmou o secretário.

 Terra

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