Em Brasileia, além dos riscos de doenças para os
próprios estrangeiros que buscam o abrigo superlotado
Cerca de 700 haitianos, senegaleses e dominicanos
que ficaram retidos em um abrigo de Brasileia (AC) devido à cheia do Rio
Madeira já foram levados até Rio Branco (AC) a bordo dos aviões fretados pelo
governo estadual para assegurar o transporte de mantimentos à pequena cidade da
fronteira brasileira com o Peru e a Bolívia. Da capital do estado, essas
pessoas poderão seguir para outras regiões do país onde receberam ofertas de
trabalho.
Segundo o representante da Secretaria Estadual de
Justiça e Direitos Humanos em Brasileia, Damião Borges de Melo, mais 118
estrangeiros vão embarcar ainda hoje (6), com destino a Rio Branco. A
expectativa é, de acordo com Melo, retirar outras 700 pessoas da cidade até a
próxima sexta-feira (11), totalizando mais de 1,5 mil haitianos,
senegaleses e dominicanos transportados.
Ainda assim - e embora muitos dos estrangeiros que
se concentram em Brasileia sigam viagem por conta própria -, há cerca de 1,5
mil estrangeiros vivendo na cidade fronteiriça, à espera de uma oportunidade de
trabalho nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Segundo Damião, em
Brasileia pelo menos mil dessas pessoas dependem do auxílio do Estado
brasileiro e vivem no abrigo. Criado pela União e mantido em parceria com o
governo estadual, o abrigo deveria receber 450 pessoas.
“E o problema é que continua chegando gente. Em
média 50 estrangeiros chegavam por dia, mas, nos últimos tempos, esse número
caiu um pouco em razão da própria situação local”, explicou Damião,
referindo-se à alta do Rio Madeira que bloqueou a rodovia federal BR-364,
deixando o estado isolado do restante do país por meio das vias terrestres.
Entre dezembro de 2010 e a última sexta-feira (4),
ao menos 18 mil imigrantes entraram no Brasil de forma irregular, cruzando as
fronteiras com a Bolívia e com o Peru. Quantidade que Damião acredita que,
mantido o atual cenário, deverá aumentar já que, enquanto em todo o ano passado
10.779 estrangeiros cruzaram as fronteiras de forma ilegal, só no primeiro
trimestre deste ano já foram registrados 3.818 novos imigrantes em Brasileia.
“Essa gente é atraída pela falsa notícia de que, no
Brasil, vão ganhar muito bem e em dólar. E de que, uma vez documentados, podem
conseguir seguir viagem mais facilmente para a Europa. Ou ingressar na Guiana
Francesa e de lá seguir para a França”, comentou Damião. De posse dos
documentos necessários para permanecer no Brasil e buscar trabalho, os
senegaleses seguem principalmente para as cidades de São Paulo, Porto Alegre e
Caxias do Sul (RS). Os haitianos vão para Santa Catarina, Mato Grosso e
Curitiba (PR), enquanto os dominicanos se espalham pelo país.
Em Brasileia, além dos riscos de doenças para os
próprios estrangeiros que buscam o abrigo superlotado, o afluxo de pessoas
acabou por sobrecarregar os serviços públicos da pequena cidade que, até 2010,
contava com 21.438 habitantes
“O esforço que o Acre está fazendo é por
respeitarmos a questão humanitária. Brasileia não tem estrutura para cuidar
dessas pessoas, precisamos nos unir para resolver essa problemática”, disse o
governador Tião Viana no final de março, quando anunciou o esquema de retirada
de Brasileia dos estrangeiros ilhados pela alta do Rio Madeira.
Agência Brasil
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