Aos 54 anos, Anne Hidalgo
se tornou, neste domingo (30), não apenas a primeira mulher a ser eleita
prefeita de Paris, mas também trouxe consigo o simbolismo de ser uma imigrante
a assumir o comando de uma capital multicultural, repleta de estrangeiros justamente
nos bairros que ajudaram a elegê-la.
Assim como o atual ministro do interior da França, Manuel Valls, a
nova prefeita da Capital nasceu na Espanha. Depois de viver apenas três anos na
sua cidade natal, San Fernando, na Andaluzia, Anne Hidalgo foi viver em Lyon,
no sul da França, onde a família conseguiu lugar em um HLM, como são chamadas
as moradias de aluguel a baixo custo francesas, em geral públicas. Naturalizada
francesa em 1973, Hidalgo estudou Direito e fez carreira no serviço público
como inspetora do trabalho, o que a levou a trabalhar na região parisiense nos
anos 80. Foi quando se integrou ao Partido Socialista da décima quinta
circunscrição de Paris, região rica onde ela vive até hoje e que é justamente
um dos basitões da direita na Capital.
Casada com o deputado socialista Jean-Marc Germain e mãe de três
jovens, Hidalgo foi braço direito do prefeito Bertrand Delanoë desde o início
de sua gestão, em 2001, o que a qualificou para ser a sucessora do socialista
que agora deixa o cargo. A votação obtida ontem foi menor do que as verificadas
nas duas eleições anteriores de Delanoë, mas ainda assim foi considerada uma
vitória excepecional diante dos maus resultados da esquerda ao redor do país.
Como de costume, a vitória dos socialistas foi assegurada pela
região leste da cidade, a mais pobre e com forte presença de imigrantes,
principalmente nas circunscrições de número 18, 19 e 13. A distribuição de
votos entre esquerda e direita pelas 20 circunscrições de Paris manteve-se
quase igual à eleição anterior. A diferença foi o nono distrito que,
tradicionalmente, votava na esquerda, mas, dessa vez, elegeu a UMP. A
"queda do 9ème", no entanto, não foi o suficiente para virar o jogo
contra os socialistas porque a região tem peso pequeno na decisão final. A
eleição para prefeito na cidade não é direta. Cada circunscrição tem um peso
diferente na contagem final, a depender do número de eleitores – em um sistema
parecido com a eleição presidencial nos Estados Unidos, por exemplo.
Paris foi uma exceção
Apesar de manter o poder na capital, o Partido Socialista do
presidente François Hollande perdeu mais de 150 cidades de médio porte,
incluindo redutos históricos como Limoges, que era governada há 102 anos pela
legenda. O consolo para os socialistas foi manter, além de Paris, as
prefeituras de Lyon, Lille e Estrasburgo. A direita, grande vencedora desta
eleição, vai governar a maior parte das cidades francesas com mais de 10 mil
habitantes, o que representa uma vitória histórica para a legenda UMP, do
ex-presidente Nicolas Sarkozy. Outro fato marcante da votação é o
fortalecimento da extrema-direita. A Frente Nacional, da líder Marine Le Pen,
conquistou 13 municípios.
Diante deste cenário, a expectativa é que o presidente Hollande
anuncie ainda hoje uma reforma ministerial. Segundo um senador aliado, Hollande
fará um pronunciamento na TV. A grande incógnita é se o primeiro-ministro,
Jean-Marc Ayrault, será substituído, na liderança de uma equipe ministerial
reduzida. O favorito dos franceses para o cargo de premiê é o ministro do
Interior, Manuel Valls.
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