quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Madagascar: Outra forma de escravidão



A história de Madagascar, a quarta maior ilha do mundo, registra como momentos culminantes as migrações que de tempos remotos povoaram o território e as lutas do povo malgaxe contra o jugo colonialista da França.

Esta grande ilha, com uma fauna e flora impressionantes, possui 595.800 quilômetros quadrados e está situada no oceano Índico a 400 quilômetros da costa sudeste do continente africano do qual está separada pelo canal de Moçambique.

Alguns historiadores consideram que os primeiros povoadores chegaram a Madagascar durante o século III a.C. e já sabiam obter e trabalhar o ferro, ainda que sejam escassos os vestígios que sustentam essas considerações.

Marinheiros malaios, indonésios e inclusive polinésios realizavam viagens de milhares de milhas ao longo da costa do oceano Índico em suas frágeis embarcações, antes de chegar a uma grande ilha desabitada, de um clima magnífico, férteis planícies, planaltos e bosques com abundante caça.

Os imigrantes das tribos bantus da costa africana tiveram que atravessar uma distância mais curta para chegar a Madagascar do sentido oposto. Esse grupo étnico tinha avançado da África Central até a região do Cone Sul Africano.

Os árabes também começaram a chegar à ilha mais tarde. A partir do século VII e em decorrência da Idade Média, a costa do Madagascar foi visitadas por navegantes árabes. As migrações de diferentes nacionalidades contribuíram para o mosaico étnico que prevalece no país: malaios, negros, indonésios, árabes e índios, entre os principais.

Portugal e outros europeus

A historiografia ocidental atribui como descobridores da ilha os portugueses. O navegante Diego Diaz chegou a sua costa a 10 de agosto de 1500, denominando-a Ilha de São Lourenço. Viajantes dessa nação também foram os primeiros a explorarem zonas do interior.

Um século mais tarde, em 1600, os portugueses, holandeses e franceses tentaram estabelecer colônias. A França instalou-se no século XVII no norte da ilha, mas sua esfera de influência foi limitada à ascendência da monarquia dos hovas no altiplano central.

O Rei Radana (1810-1828) favoreceu os ingleses e permitiu que se implantasse o cristianismo, mas a rainha Ranavolona I (1835), proibiu a prática da religião cristã e pôs fim ao comércio com a Europa.

As dissensões na cúpula dirigente malgaxe abririam fendas que só favoreciam às potências coloniais, em especial a França e a Grã-Bretanha. Ambas nações disputavam a hegemonia na região do Índico com ambições sobre as ilhas Mauricio e o arquipélago de Seychelles, palcos de agudas confrontações.

Depois do fim do comércio com a Europa, iniciou-se um período de relações tirantes. Radama II outorgou concessões a uma companhia francesa, mas foi assassinado em 1863, e sucedeu-lhe sua esposa Rasoherina, quem recusou ratificar o acordo com os franceses.

Colônia francesa

O governo de Paris reconheceu em 1886 Ranavalona II como rainha do Madagascar e enviou um cônsul, igual à Grã-Bretanha e os Estados Unidos.

Anteriormente, França se arrogou pela força um mandato de protetorado, reconhecido pela Grã-Bretanha em 1890 em troca de concessões no Zanzíbar, uma ilha do Oceano Índico (depois de sua independência em 1963 uniu-se a Tangañika para formar a atual República da Tanzânia).

Em 1895, quando a França exigiu um domínio total por meio de um ultimato, os malgaxes insurgiram-se, mas foram derrotados por sua inexperiência em ações militares, e pela superioridade em armas dos galos e seu treinamento em questões bélicas.

Não obstante, a partir desse momento iniciou-se uma constante e valente luta do povo para estabelecer sua soberania nacional. Apesar da repressão, as autoridades coloniais governavam um país em permanente tensão.

Um ano mais tarde, em 1896, estourou outra sublevação popular. De Paris, o governo deu ordens para que as tropas atuassem com mão de ferro e como resultado o levantamento foi afogado em sangue.

Madagascar e todas suas dependências passaram a ser oficialmente colônias. A França aboliu a monarquia e iniciou uma dita pacificação que custou a vida de 700 mil malgaxes num espaço de 20 anos e deportou a rainha Ranavalona III à ilha Reunião e depois à Argélia. As autoridades coloniais tentavam castigar com maior rigor a ousadia de lutar pela soberania do país.

Século XX

O povo malgaxe nunca se conformou com o status colonial aplicado pela metrópole francesa e com a chegada do novo século continuaram as lutas por independência. Essas lutas algumas vezes eram políticas e outras verdadeiras sublevações.

Os movimentos progressistas de 1916 e 1929 foram esmagados e em resposta o povo insurgiu-se novamente contra o domínio estrangeiro. Como conseqüência da repressão desatada pelas tropas de Paris contra outra sublevação em 1947, morreram cerca de 100 mil pessoas.

Desde a instalação da França em solo malgaxe no século XVII, o povo viu morrer mais de 800 mil de seus filhos vítimas de sangrentas repressões. Na ordem econômica a metrópole saqueou sem piedade as riquezas naturais.

Mas as lutas de dois séculos dariam seus frutos. As autoridades francesas viram-se obrigadas a fazer concessões, e em consequência a ilha conheceu vários estatutos: Estado associado da União Francesa; República Autônoma dentro da Comunidade francesa; e independência em 1960.

Com o pleno gozo de sua soberania, Madagascar incorporava-se ao concerto das nações africanas que se livraram da outra forma de escravidão.

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