segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mais de 100 mil refugiados e migrantes chegam ao Iêmen por via marítima


Apesar da crescente instabilidade e do agravamento das condições de segurança no Iêmen, um número recorde de 103 mil refugiados, solicitantes de refúgio e migrantes partiram da África em uma perigosa travessia marítima para chegar ao país do Oriente Médio.

Em 2011 ocorreu um aumento de 100% em relação a 2010, quando 53 mil pessoas realizaram a mesma viagem através do Golfo do Adem e do Mar Vermelho. O recorde anterior era de 2009, quando 78 mil pessoas fizeram a travessia. Desde 2006 0 Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) está compilando os dados sobre o fluxo de migração mista no Chifre da África.

“Entre os que fizeram a travessia no ano passado, mais de 130 se afogaram”, disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, a jornalistas em Genebra na sexta-feira. “A maior parte dos recém-chegados alcança a costa do Iêmen em condições desesperadoras – desidratados, desnutridos e frequentemente em estado de choque”.

Aqueles que cruzam o Mar Vermelho e o Golfo do Adem a partir da Somália e outros países no Chifre da África enfrentam grandes riscos e desafios em todas as etapas da travessia. Isso inclui violência física e sexual, assim como tráfico de pessoas. Quando chegam ao Iêmen enfrentam novas dificuldades, como o acesso inadequado a serviços básicos, além de limitações à liberdade de movimento e dificuldade para encontrar emprego.

“Os últimos dados mostram um forte aumento no número de Etíopes chegando ao Iêmen – nacionalidade que responde por três de cada quatro recém-chegados”, disse Edwards. Até 2008 a maioria das pessoas que chegava ao Iêmen era formada por somalis fugindo da violência e da violação dos direitos humanos no país. Desde então, os nacionais da Etiópia passaram a ser maioria.

Ao chegar ao Iêmen os somalis são automaticamente reconhecidos como refugiados, tendo garantido acesso à documentação e liberdade de movimento dentro do país. Cerca de 25.500 refugiados somalis chegaram ao Iêmen no ano passado, elevando o número de somalis no país para 200 mil. O ACNUR e seus parceiros gerenciam uma rede de centros de recepção ao longo da costa, provendo proteção e assistência aos recém-chegados.

Para os etíopes a situação no Iêmen é bem mais perigosa e desafiadora. Dos 76 mil que chegaram em 2011, um a cada cinco solicitaram refúgio no país. Isto representa um aumento de 10% em relação a 2010.

Edwards disse que muitos dos etíopes recém-chegados afirmam ter deixado a Etiópia por questões econômicas e veem o Iêmen como um país de trânsito em sua jornada rumo aos países do golfo Pérsico. Temendo detenção e deportação, os etíopes evitam contato com as autoridades, ficando vulneráveis a roubo, abuso e extorsão na mão de contrabandistas e traficantes.

“Estamos particularmente alarmados pelo incidente ocorrido no começo desta semana no qual três etíopes foram assassinados por traficantes que atuam ao longo da costa iemenita no Mar Vermelho”, disse o porta-voz do ACNUR. De acordo com os relatórios iniciais, os etíopes foram baleados enquanto tentavam escapar de traficantes. O incidente aconteceu na localidade de Taiz, no dia 13 de janeiro.

“Essas mortes são trágicas e evidenciam os sérios riscos que refugiados, solicitantes de refúgio e migrantes africanos enfrentam ao cruzar o Golfo do Adem e o Mar Vermelho. Esperamos que as autoridades iemenitas encontrem os culpados e os levem à justiça”, disse Edwards.

A instabilidade e a reduzida atuação da polícia no Iêmen aumentam as oportunidades para a atuação de contrabandistas e traficantes de pessoas. Além disso, impossibilita que organizações humanitárias patrulhem a costa do país na tentativa de encontrar os recém-chegados antes que os traficantes. Os relatos de sequestros de migrantes ou refugiados no momento da chegada ao Iêmen continuam – a maioria com o objetivo de pedir resgate ou extorsão. Enquanto os somalis parecem ser os principais alvos, também foram relatados sequestros de refugiados somalis.

Uma outra tendência preocupante é a ocorrência de violência física e abuso sexual de refugiados e migrante pelos traficantes. O ACNUR registrou no ano passado casos de estupro, assédio sexual e violência física. A agência da ONU para refugiados e seus parceiros estão oferecendo assistência médica e aconselhamento psicológico aos sobreviventes.

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