segunda-feira, 14 de setembro de 2015

‘Meus amigos brasileiros me queimaram’, disse senegalês queimado em Santa Maria

Cheikh Oumar Foutyou Diba, 25 anos, pediu ajuda em uma padaria depois de ser assaltado. O colchão onde ele dormia foi queimado
 (Foto: Matheus Cavalheiro / Arquivo pessoal)

O grupo Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (Migraidh), da UFSM, assumiu os cuidados pela saúde e bem-estar de Cheikh Oumar Foutyou Diba. Por volta das 8h30min de sábado, o jovem senegalês de 25 anos foi vítima de um assalto e teve parte do corpo incendiado, enquanto dormia, na Avenida Rio Branco, na área central de Santa Maria.
Três homens que o atacaram colocaram fogo no colchão do rapaz, que sofreu queimaduras nas pernas e em um dos braços. Os suspeitos fugiram, levando uma maleta com as bijuterias que ele costuma vender pelas ruas da cidade, R$ 500 e os tênis que ele usava.
De acordo com Lidiane Silveira Rocha, funcionária da Padaria Shalom, localizada na Avenida Rio Branco, Diba procurou o local para comer. Devido às queixas de dor e ao choro do jovem, ela e outras funcionárias perceberam que ele estava machucado.
Dioneia Beck, proprietária do estabelecimento, tentou ajudar Diba com medicamentos para dor e com comida. Mas, ao perceberem que as queimaduras eram graves, elas entraram em contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e foram informadas que eles não atendiam a esse tipo de ocorrência, sem gravidade.
O passo seguinte foi ligar para a Brigada Militar (BM), onde atendentes acionaram o Corpo de Bombeiros. Em seguida, o imigrante foi levado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), onde recebeu os curativos necessários.
A Lidiane, Diba disse “meus amigos brasileiros me queimaram”.
Como o caso não foi considerado de alta gravidade, ele teve alta no fim da tarde de sábado, tendo sido acolhido por integrantes do Migraidh, que ofereceram hospedagem e demais cuidados.
Segundo informações da professora Giuliana Redin, coordenadora do Migraidh, Diba está “muito assustado e até um pouco constrangido” com as ofertas de ajuda.
— Ele está bem fechado. Soube que ele falou pouco e chorou muito — comenta.
Uma caminhada, a marcação de uma audiência pública na Câmara de Vereadores e o encaminhamento do caso a órgãos federais e estaduais foram algumas das medidas decididas em uma reunião do grupo Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (Migraidh) — ligado ao curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).  Uma vaquinha também foi criada para arrecadar recursos para o jovem.
No domingo, o Ministério da Justiça divulgou uma nota lamentando o fato.
Imigrante legal
O jovem informou ao Migraidh que veio de Sapucaia para Santa Maria há cinco dias, e que estava hospedado no Albergue Municipal – porém, na sexta-feira, não conseguiu chegar na instituição antes do horário de fechamento.
Segundo informações da Polícia Federal – que deve abrir investigação nesta segunda-feira – Cheikh Oumar Foutyou Diba está regularizado no país e que tem passaporte.
Mas a professora Giuliana Redin, coordenadora do Migraidh, esclarece que é dever do Estado assegurar a integridade dos imigrantes, independentemente de estarem “legalizados”.
– A condição de documentação é absolutamente irrelevante em se tratando do compromisso do Estado com a proteção dos direitos humanos do imigrante. O ato de migrar não é crime, então não existe imigração legal ou ilegal – explica.
Fonte: Zero Hora


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