Ahmd Midalac, de 25 anos, era
militar do governo de Bashar Al Assad e se negou a matar uma família. Ele está
abrigado em São Paulo há quatro meses.
Por Edgar Maciel
Para
entender um pouco por que os sírios estão virando refugiados por todo o mundo é
preciso conhecer um pouco da história recente do Oriente Médio. Há quase
50 anos, a Síria é governada pelo mesmo partido, o BAATH. Hafez Al-Assad
governou o país por três décadas. Desde julho de 2000, a Síria é liderada pelo
filho Bashar Al-Assad.
O
levante contra o regime de Bashar começou em março de 2011. A chamada Primavera
Árabe foi a revolta dos países árabes contra os governos
totalitários. Tudo começou em paz na Síria, mas meses depois os
manifestantes foram reprimidos e o confronto entre rebeldes e as tropas de
Bashar tomou o país.
Os
rebeldes ainda enfrentam desde 2014 os jihadistas do Estado Islâmico. Ahmd
Midalac chegou ao Brasil em maio. Sozinho, sem família. Saiu às pressas da
Síria com medo de ser morto. Tudo por um motivo: Ahmd era militar de
Bashar e estava jurado de morte.
"Antes
da guerra, trabalhava como militar para Bashar. Nunca tive problema e ganhava
bem. Depois da Primavera Árabe, trabalhei três anos na guerra contra os
rebeldes", conta. "Nunca precisei matar ninguém, mas no começo
do ano me obrigaram a matar uma família. Não tive coragem e fugi."
Ele
está hospedado na Missão da Paz, famosa por acolher centenas de haitianos em
São Paulo. Vive de doações. Não consegue emprego por causa da língua e
sonha com o dia que Bashar deixará o poder. "Não tenho medo de voltar
para a Síria. É o país que nasci, cresci e que amo. Mas se voltar agora, eu
morro. Vou refazer minha vida no Brasil, tentar trabalhar aqui e quando Bashar
sair do governo, eu volto para minha família. Volto para Halab."
Em
Damasco, Hala vivia feliz com o marido e os três filhos. Tinha uma loja de
tecidos que fazia sucesso no centro da capital síria. Ela apoiava a saída
do presidente do poder. "Minha vida era horrível. Não descia mais para
minha loja. Fechei toda a minha casa e todo dia quando acordava pensava: eu vou
morrer, eu vou morrer", afirma.
Em
2012, uma bomba destruiu seu apartamento e seu comércio. "Eu considerava
Bashar um bom presidente antes da guerra. Mas depois, minha vida virou um
inferno. Perdi minha casa, perdi minha família e me sentia perseguida pelo
governo", explica.
Hala
deixou o marido e as filhas na Síria por falta de dinheiro. Se mudou para São
Paulo com o filho mais velho e já se conformou em não voltar mais pra
casa. "Não tem jeito.. Eu vou ficar no Brasil. Para Síria só volto de
visita. Para reconstruir minha casa e minha loja demoraria mais de 50
anos. Até lá já vou estar morta".
Ahmd e
Hala preferiram trocar de identidade. Mesmo longe da Síria, os dois ainda
têm medo da morte.
Radio
CBN
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