Os refugiados que vivem no Rio de
Janeiro têm agora um novo espaço de acolhida. O Estádio do Maracanã abriu suas
portas a pessoas que foram vítimas de guerras e perseguições em seus países e
passa a oferecer oficinas semanais que utilizam o futebol como instrumento de
transformação social.
No palco da final da Copa do Mundo de
2014, os refugiados não são torcedores ou meros visitantes, mas jogadores,
protagonistas do “Futebol das Nações”. O projeto é desenvolvido em parceria com
a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro com o objetivo de promover a
integração dessas pessoas no Brasil e proporcionar um espaço de debate a respeito
de temas como preconceito, acesso ao mercado de trabalho, igualdade de gênero e
violência.
Para celebrar o lançamento do projeto,
nesta terça-feira, os refugiados tiveram um dia de craques no Maracanã.
Ganharam uniforme, puderam se trocar no vestiário oficial dos jogadores,
entraram em campo enfileirados e ainda deram entrevistas para um mar de
jornalistas à beira do gramado. De quebra, foram convidados pelo presidente do
Maracanã, Sinval Andrade, para assistir de camarote à partida entre Flamengo e
Vasco, pela Copa do Brasil.
As duas partidas inaugurais do “Futebol
das Nações” – que terá atividades até o final do ano –foram disputadas atrás de
um dos gols e utilizaram a metodologia do Futebol3, desenvolvida pela ONG
streetfootballworld Brasil. No Futebol3, as regras são construídas
coletivamente antes de a bola rolar. Em seguida, ocorre a disputa em si e, em
um terceiro momento, os jogadores se reúnem novamente para debater o que
aconteceu em campo. É nessa discussão que se trabalham as diferenças, expectativas
e sentimentos dos participantes. No Futebol3, os gols valem tanto quanto o
respeito às regras determinadas, o fair play e o espírito de grupo.
O lançamento foi prestigiado pelo
Representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, e pelaconsultora sênior da
ONU Mulheres Brasil, Júnia Puglia. Durante os jogos, os refugiados trabalharão
com os temas da campanha “O Valente não é Violento”, que visa a conscientizar
homens e meninos para o tema da violência contra as mulheres e meninas,
alertando para a importância da desconstrução dos estereótipos de gênero.
Em seu discurso, Ramirez elogiou a
iniciativa da ONU Mulheres em promover o debate da violência com os refugiados.
"A aproximação da campanha O Valente não é Violento das atividades com
refugiados no Maracanã é muito oportuna, pois os refugiados são a prova de que
valentia não é sinônimo de violência. Eles passaram por situações difíceis e as
enfrentaram com coragem para escapar da violência", disse o Representante
do ACNUR.
Cercados pelas míticas arquibancadas do
Maracanã, refugiados da República Democrática do Congo, Síria, Colômbia, Togo,
Nigéria e Guiné correram, driblaram, marcaram gols e comemoraram com danças
divertidas, inspiradas em seus países de origem. Ao final, debateram sobre
preconceito, inclusão e diferenças culturais.
No templo do futebol brasileiro, cabiam
todas as religiões em harmonia. O sírio Abdulrahman Hajjar, único muçulmano do
grupo, se sentia mais acolhido pelos outros refugiados. "Gosto de jogar
com eles. Esta é uma chance única. Desde que a guerra na Síria começou, não há
mais futebol. É melhor jogar bola aqui do que lutar uma guerra lá",
afirmou.
Uma das
idealizadoras do projeto, a psicóloga Gabriela Azevedo, do setor de
Responsabilidade Social/ Sustentabilidade do Maracanã, sonhava em trabalhar com
refugiados desde os 14 anos. "Pensamos neste projeto em conjunto com a
Cáritas RJ não só como uma forma de aproximar o Maracanã do seu entorno, já que
eles são nossos vizinhos, mas também de utilizar o estádio para acolher pessoas
que passaram por diversas violações de direitos até chegarem ao Brasil. Vê-los
aqui todas as semanas é uma alegria. Aos poucos os sorrisos vão ficando mais
constantes e deixando as cicatrizes, pelo menos por algumas horas, um pouco
mais toleráveis."
Sorrisos eram, de
fato, o que mais se via no rosto do congolês Achille Landa. "Estou muito
feliz de poder jogar no Maracanã. É um momento inesquecível para mim. Fiquei
emocionado como se fosse um jogo de verdade. Nós, refugiados, chegamos com o
moral baixo. Esta é uma oportunidade para relaxarmos e esquecermos os nossos
problemas."
Antes de voltar para o vestiário,
Achille soltou a voz, entoando uma música "que os congoleses cantam quando
estão contentes". Em seguida, virou-se para Gabriela e agradeceu:
"Nunca vou esquecer o que aconteceu aqui hoje."
Por Diogo Félix, do Rio de
Janeiro.
Por: ACNUR
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