Em carta
aberta, vice-chanceler federal alemão e ministro do Exterior criticam
inoperância da UE e pleiteiam por distribuição justa dos migrantes. Crise
migratória segue controversa entre os 28 Estados-membros.
A crise
dos refugiados é também uma crise do sistema europeu de asilo. Enquanto a
impaciência por uma solução segue crescendo em Berlim, Bruxelas ainda está
lutando para definir o caminho certo a ser seguido. Demora que está irritando
até mesmo o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
"Precisamos
de uma abordagem europeia forte. E para agora", disse Juncker, em
publicação do jornal alemão Welt am Sonntag, acrescentando que nenhum
Estado-membro da União Europeia (UE) pode lidar sozinho com o fluxo migratório
e que a Europa possui os padrões de asilo mais altos do mundo.
"Isto
está consagrado em nossas leis e acordos. No entanto, estou preocupado que isso
está cada vez menos ancorado em nossos corações", lamentou Juncker,
ressaltando que incitações de ódio e declarações imprudentes poderiam colocar a
liberdade de viajar dentro do espaço de Schengen - convenção que permite livre
trânsito dentro da EU.
Na
Alemanha, o vice-chanceler federal, Sigmar Gabriel, e o ministro do Exterior,
Frank-Walter Steinmeier, escreveram uma carta conjunta publicada na edição
dominical do jornal alemão Frankfurter Allgemeine. Nela, os dois
social-democratas afirmam que a Europa está perante uma "tarefa de uma
geração", mas que a "resposta dada até então não condiz com as
ambições que a própria Europa deve ter".
"Quotas
de admissão para todos os membros"
Ambos
alegam que uma distribuição justa dos refugiados seja necessária. "A
situação, como a que temos atualmente, onde apenas alguns Estados-membros
carregam a responsabilidade, é tão pouco sustentável como um sistema que
distribui encargos unilateralmente aos países que, por acaso, são a fronteira
externa da EU", escreveram Gabriel e Steinmeier.
O
vice-chanceler federal e o ministro do Exterior formularam um plano de dez pontos
para lidar com a crise de refugiados. Para tal, segundo os dois
social-democratas, é preciso estabelecer critérios vinculativos e objetivamente
perceptíveis para quotas de admissão para todos os Estados-membros, de acordo
com a capacidade de cada país.
De fato,
a participação na crise migratória entre os 28 Estados-membros da UE é
controversa. Consequentemente, eles não conseguiram chegar a um acordo sobre a
distribuição de 60 mil refugiados ao longo dos próximos dois anos. Há um bom
tempo, uma reunião especial entre líderes da EU para discutirem as questões da
migração está planejada para meados de novembro.
O
ministro da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, Gerd Müller,
reclamou com veemência, no sábado, sobre a "insuportável hesitação da
UE". Ele novamente exigiu de Bruxelas um programa imediato de mais de 10
bilhões de euros para, entre outras medidas, instalar centros de emergência em
países da UE com fronteiras externas do bloco europeu.
Comissão
Europeia rejeita alegações de omissão
A
Comissão Europeia, porém, rejeitou as alegações de omissão. A proposta de
Müller foi discutida em Bruxelas há algumas semanas, mas existem questões
técnicas e jurídicas que precisam ser esclarecidas. A UE e os Estados-membros
já teriam disponibilizado cerca de 3,7 bilhões de euros para ajudar as vítimas
da guerra civil na Síria.
A
entidade tinha apresentado uma agenda para a questão migratória em maio, disse
um porta-voz da Comissão Europeia à agência de notícias DPA. "Só podemos
ter sucesso se trabalharmos em conjunto, não uns contra outros", disse a
Comissão Europeia.
Vice-presidente
da entidade, Frans Timmermans, e o comissário para Migração e Assuntos
Internos, Dimitris Avramopoulos, viajarão em uma semana para Calais, onde
refugiados continuam tentando entrar no Reino Unido através do túnel sob o
Canal da Mancha.
Do ponto
de vista do governo alemão, no entanto, é responsabilidade da Comissão Europeia
assegurar padrões uniformes em como lidar com refugiados. "Na Alemanha,
temos padrões decentes e humanitários de alojamento, cuidados médicos, ajuda
financeira e outras coisas. Muitos outros países da UE possuem padrões muito
baixos. Acomodações humanamente dignas devem estar disponíveis em todos os
países da UE, não só na Alemanha", disse Müller.
Na carta
conjunta, Gabriel e Steinmeier também exigem por condições dignas no
acolhimento de refugiados em toda a Europa. Migrantes que tiveram asilo
concedido num Estado-membro deveriam, consequentemente, ter o seu estado
reconhecido em toda a UE. Pessoas sem direito de asilo, por outro lado,
deveriam ser enviadas de volta aos seus países.
PV/afp/dpa/kna/rtr
Terra
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