Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs
Sobe a temperatura no cenário social e político europeu diante do
recrudescimento da mobilidade humana. O clima torna-se cada vez mais quente
sobre dois aspectos: por um lado, aumenta o número de migrantes que entram no
velho continente, seja pela via do Mediterrâneo em direção ao sul da Itália e à
Grécia, seja pela via balcânica, cruzando a Turquia, a Macedônia e a Sérvia,
para entrar através da Hungria. A estimativas são díspares, mas todas falam em
milhares de pessoas por dia. Grande parte desses migrantes e/ou refugiados tem
como horizonte o norte da Europa, especialmente Alemanha, Inglaterra e países
escandinavos.
Por outro lado, cresce a presença da extrema direita na política
parlamentar de alguns países (Aústria, França e Dinamarca), bem como a força de
movimentos e partidos autoritários, também de direita, em outros (Itália,
Inglaterra, Alemanha). Trata-se de uma combinação historicamente notória e bem
conhecida: o aumento das migrações corre pari
passu com a intolerância e o rechaço do “outro, estrangeiro, diferente”.
Daí o aumento do grau de xenofobia discriminação e preconceito, cada vez mais
presente em manifestações anti-migração.
A melhor ilustração desse quadro explosivo é a construçõo acelerada de um
muro na fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Segundo as autoridades deste
último país, a barreira, com uma extensão de 175 quilômetros, deverá ficar
pronta em uma semana. Ao mesmo tempo, eleva-se o tom das tensões nos cofins entre
a Sérvia e a Macedônia. Aliás, reflexo do clima generalizado de conflitividade,
aberto ou latente, são as turbulências em diversas áreas fronteiriças – em
particular entre Itália e França, entre França e Inglaterra e na zona dos
balcâs.
Tudo isso tende à elaboração de leis migratórias mais retritivas e ao
fechamento das fronteiras, por um lado e, por outro, à clássica estratégia
defensiva que visa fazer dos migrantes um “bode expiatório” para todos os distúrbios
da ordem política ou social. A situação se agrava quando, deliberada ou
inconscientemente, as autoridades e os meios de comunicação mesclam e confundem
o aumento das migrações com o tema do crime organizado em geral e com o
terrorismo em particular. Exemplar a esse respeito é o dircurso do partido italiano
da Lega Nord, segundo o qual o governo, por omissão, “está permitindo que o
país seja invadido por migrantes e terroristas escondidos entre eles”.
Tal cenário, como não poderia deixar de ser, vem acirrando os ânimos nos
debates políticos e sociais e nos espaços e páginas da mídia em geral. Há meses
o tema das migrações está na ordem do dia: ocupa boa parte dos noticiários radiofônicos,
televisivos ou impressos, e entra na pauta política dos os países e do
Parlamento europeu. De outro lado, envolve uma série de organizações não
gvernamentais – igrejas, associações, entidades múltiplas.
Roma,
26 de agosto de 2015
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