sábado, 22 de agosto de 2015

Desejo de criar muros para barrar imigrantes cresce no mundo


A globalização aboliu muitas fronteiras para mercadorias, mas, para os seres humanos, as preocupações com a segurança e o desejo de conter a imigração ilegal fazem subir muros em todo o mundo, apesar de especialistas duvidarem de sua eficácia a longo prazo.

Há um quarto de século, durante a queda do Muro de Berlim, havia 16 muros defendendo as fronteiras do mundo. Existem agora 65, concluídos ou prestes a ser, de acordo com a pesquisadora Elisabeth Vallet, da Universidade de Quebec.

O muro de separação israelense (o "muro do apartheid" para os palestinos), a cerca de arame farpado de 4.000 km que a Índia construiu em sua fronteira com Bangladesh, ou o enorme dique de areia que separa o Marrocos das regiões controladas no Saara pela rebelião da Frente Polisário: os muros e barreiras são cada vez mais procurados pelos políticos ansiosos por parecer firmes nas questões de migração e segurança.

Em julho, o governo conservador húngaro começou a construir uma cerca de quatro metros de altura ao longo de sua fronteira com a Sérvia, em uma tentativa de impedir o fluxo de refugiados da Síria, Iraque e Afeganistão.

"Acabamos de derrubar recentemente os muros na Europa", comentou um porta-voz da União Europeia, "não devemos construir novos".

Três outros países - Quênia, Arábia Saudita e Turquia - estão reforçando as suas fronteiras para evitar a infiltração de jihadistas de países vizinhos como Somália, Iraque e Síria.

Ilusão de segurança

Embora sejam símbolos agressivos, sua eficácia é relativa, segundo os especialistas.

"A única coisa que todos esses muros têm em comum é que fazem parte de um cenário", diz Marcello Di Cintio, autor do livro: "Walls: Travels Along the Barricades" (Muros, viagem ao longo das barricadas, em tradução livre).

"Eles fornecem uma ilusão de segurança, e não uma verdadeira segurança", assegura.

Apesar destes obstáculos, os migrantes acabam por conseguir atravessá-los. A cocaína nunca faltou nas mesas de Manhattan nem os cigarros contrabandeados em Montmartre. E, apesar dos sentinelas que atiravam, mesmo o Muro de Berlim nunca foi selado.

Os defensores dos muros acreditam que vazamentos são melhores do que inundações, mas para Marcello Di Cintio o impacto psicológico da construção de tais barreiras não pode ser ignorado.

Ele cita o exemplo da tribo de indígenas americanos de Tohono O'odham, alguns dois quais morreram, aparentemente de saudade, quando o muro separando o México dos Estados Unidos cortou alguns de seus locais sagrados.

Sua história corrobora o que o psicólogo alemão Dietfried Muller-Hegemann nomeou nos anos 70 "da doença do muro", com altas taxas de depressão, alcoolismo e violência doméstica entre aqueles que viviam nas sombras do muro que separava a cidade de Berlim ao meio.

Pobres, os mais atingidos

Na realidade, os muros não mudam as causas profundas da insegurança ou de imigração: a construção de todas essas barricadas não tiveram impacto algum sobre o aumento dos pedidos de asilo ou ataques terroristas.

Eles simplesmente levaram os grupos a se adaptar.

Segundo Reece Jones, professor da Universidade do Havaí e autor do livro "Border Walls: Security and the War on Terror in the United States, India, and Israel", os muros só são eficazes contra os mais pobres e mais desesperados.

"Os cartéis de drogas e grupos terroristas têm os meios para contorná-los, principalmente graças a documentos falsos", afirma.

"O fechamento das fronteiras apenas desloca o problema, conduzindo os migrantes através de terríveis desertos ou embarcações precárias ​​no Mediterrâneo. Isso só aumenta o número de vítimas", ressalta.

Mais de 40.000 pessoas morreram desde 2000 na tentativa de emigrar, estimou no ano passado a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Para Emmanuel Brunet-Jailly, da universidade canadense de Victoria, "as ondas de migrantes atuais fazem com que os muros sejam provavelmente necessários para os políticos.


Eles se referem aos velhos mitos da fronteira, a linha desenhada na areia. É mais difícil aceitar a ideia de que a cooperação diplomática e partilha de informação é muito mais eficaz a longo prazo".

AFP

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