Três anos após um terremoto ter devastado o Haiti, o número de
habitantes que decidem deixar o país à busca de uma oportunidade no Brasil
impressiona. No Acre, cerca de 30 imigrantes cruzam a fronteira todos os dias.
Só em janeiro deste ano, 800 haitianos desembarcaram em Brasiléia, segundo dados
da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Acre.
Abrigados em uma casa no município do interior do Acre, os estrangeiros
que chegam e não conseguem um emprego de imediato vivem um dilema. Muitos
dependem de doações para se alimentar. Atualmente, 400 dividem um espaço com
capacidade para abrigar menos de 30 pessoas.
Com dificuldades para auxiliar os imigrantes, o governo do estado teve
de contar com ajuda federal para mantê-los no abrigo. De acordo com o
secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nílson Mourão, foram enviados em
dezembro, por meio do Fundo da Assistência Social, R$ 270 mil. Quase 1/3 foi
utilizado para pagar os seis meses de aluguel atrasado e da alimentação já
fornecida (cerca de R$ 83 mil).
A dívida contraída fez com que a empresa contratada no ano passado
cortasse o fornecimento das refeições. Hoje, quem vive no abrigo depende
exclusivamente de doações. Igrejas, empresários e parte da comunidade têm
buscado auxiliar os haitianos. Segundo Mourão, a ideia é que o governo consiga,
por meio de uma licitação, fazer um contrato com uma nova empresa já em
fevereiro para distribuir os alimentos. Um novo espaço também deve ser
destinado aos estrangeiros na próxima semana, afirma.
Procura
Apesar dos problemas enfrentados, a busca por mão de obra haitiana tem sido cada vez maior. Empresas de diversas regiões do país têm se interessado em contratá-los. No Ministério do Trabalho, os atendimentos aos estrangeiros multiplicaram. Em Rio Branco, na sede do órgão, há dias em que os estrangeiros são os únicos a serem atendidos.
Apesar dos problemas enfrentados, a busca por mão de obra haitiana tem sido cada vez maior. Empresas de diversas regiões do país têm se interessado em contratá-los. No Ministério do Trabalho, os atendimentos aos estrangeiros multiplicaram. Em Rio Branco, na sede do órgão, há dias em que os estrangeiros são os únicos a serem atendidos.
Parte desta mão de obra já foi absorvida para trabalhar nas construções
das usinas de Jirau e Santo Antônio, no estado vizinho Rondônia,, onde o setor
de construção civil continua aquecido. Empresas do Sul e do Sudeste também têm
enviado representantes para firmar os contratos.
O processo de imigração haitiana para o Brasil teve início pouco depois
do terremoto, que matou mais de 250 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de
desabrigados. Por causa das condições precárias dos acampamentos, uma epidemia
de cólera obrigou parte da população a buscar refúgio no Brasil. Inicialmente
ilegais, os estrangeiros passaram a fazer um périplo para chegar ao país.
Oportunidade
Emanuel Jean, de 39 anos, é um exemplo desta migração desenfreada. Professor de idiomas antes do terremoto, ele deixou os dois filhos com a irmã e saiu do Haiti apenas com a mulher buscando reconstruir a vida em uma empresa brasileira. Para chegar ao Brasil, percorreu um longo caminho, passando por República Dominicana, Equador, Bolívia e Peru até desembarcar em Assis Brasil, município do Acre que faz fronteira com o Peru.
Emanuel Jean, de 39 anos, é um exemplo desta migração desenfreada. Professor de idiomas antes do terremoto, ele deixou os dois filhos com a irmã e saiu do Haiti apenas com a mulher buscando reconstruir a vida em uma empresa brasileira. Para chegar ao Brasil, percorreu um longo caminho, passando por República Dominicana, Equador, Bolívia e Peru até desembarcar em Assis Brasil, município do Acre que faz fronteira com o Peru.
A viagem, segundo ele, dura mais de um mês e apresenta perigos. Há
diversos relatos de extorsão e até assédio sexual por parte de policiais de
países vizinhos. Para o ex-professor, no entanto, não há outra saída. "É
muito difícil deixar a terra onde a gente nasce e a família, mas ou a gente sai
de lá ou morre, porque não tem trabalho."
Nesta semana, Jean foi contratado por uma empresa de construção civil de
Belo Horizonte (MG). Como ele, quase 50 cidadãos do Haiti foram ao Ministério
do Trabalho para retirar a carteira de trabalho e se mudar para o Sudeste.
De acordo com o técnico da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
Aldemir Júnior, isso tem virado rotina. "Os empresários dizem que a mão de
obra haitiana, além de qualificada, é 30% mais eficiente que a encontrada na
região."
No ano passado, o Conselho Nacional de Imigração, órgão ligado ao
Ministério do Trabalho, aprovou a concessão de 1.200 vistos por ano para
haitianos que migram para o Brasil. O documento, válido por cinco anos, dá
direito de o estrangeiro trabalhar e trazer a família para o país pelo mesmo
período.
Haitianos no Brasil
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