terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Governo elabora programa para repatriar brasileiros qualificados que trabalham no exterior


O governo prepara um programa de estímulo para que parte dos quase três milhões de brasileiros que vivem no exterior retornem ao país e sejam aproveitados por empresas nacionais e estrangeiras. Essa é uma das medidas em estudo para atrair mão de obra especializada. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNI), Paulo Sérgio de Almeida, uma das vantagens de trazer esses brasileiros é o procedimento de contratação, que para estrangeiros pode demorar meses. As propostas serão debatidas no âmbito de uma comissão especial, que será criada este mês, envolvendo os ministérios do Trabalho, da Justiça e das Relações Exteriores.
Almeida explicou que o fluxo migratório mais recente de brasileiros para o exterior foi para empregos de baixa qualificação. Hoje, há estudantes e especialistas que se formaram lá fora e, com a crise global, poderiam voltar para o Brasil. Por enquanto, não há dados estatísticos ou um cadastro com nomes e qualificações. Uma proposta é o cidadão brasileiro lá fora se candidatar a uma vaga em uma firma que está no país.
— Em visitas que fazemos a brasileiros que vivem em outros países, é comum ouvirmos que, após anos de trabalho e já com os filhos crescidos, muitos estão desempregados. E são pessoas altamente capacitadas — disse Almeida. — O Brasil oferece condições para que essas pessoas possam retornar e trabalhar.
Para os especialistas em mercado de trabalho José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, e Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a medida é positiva. Ambos consideram que a situação pode ser resolvida com a divulgação de informes sobre vagas e outros dados aos brasileiros no exterior.
— Há muita gente voltando, inclusive professores universitários. O papel da política pública é informar — disse Castelar.
Concessão de vistos saltou 137% em três anos
O Ministério das Relações Exteriores estima que, em 2012, havia cerca de 2,5 milhões de brasileiros no exterior, mas o número pode ser maior. Segundo o Itamaraty, a projeção tem por base os relatórios consulares (RCNs), elaborados anualmente. Mas muitos brasileiros estão em situação irregular e evitam se submeter a sondagens e censos.
Especialistas dizem que não há como dimensionar o déficit de mão de obra especializada no Brasil, em um momento em que grandes obras de infraestrutura, logística e construção civil estão em andamento. No país, os profissionais mais demandados são engenheiros e técnicos nas áreas de petróleo, gás e tecnologia. Só que a legislação em vigor cria muitas dificuldades. Se um estrangeiro que está no Brasil com visto de turista, por exemplo, for convidado a trabalhar em uma empresa aqui instalada, ele terá de voltar a seu país e seguir todos os trâmites exigidos.
— Temos uma lei de 1980, que já está absolutamente desatualizada, defasada e se constitui em um estorvo — disse Almeida, do CNI.
Ele destacou que as discussões sobre o aperfeiçoamento do atual sistema de imigração brasileiro vão se basear em um projeto do Executivo, que tramita no Congresso desde 2009. E observou que a demanda vem crescendo ano a ano. Entre vistos de trabalho temporários e permanentes, passou-se de 25 mil autorizações em 2005 para 73 mil em 2012, um salto de 192%. Nos últimos três anos, o crescimento foi de 137%.
Segundo Almeida, quando o pedido chega ao Ministério do Trabalho, o visto sai, em média, em 22 dias. Mas antes é preciso apresentar diplomas, certificados e comprovação de experiência profissional nos consulados do Brasil no exterior. Apesar das dificuldades do sistema, o presidente do CNI reconhece que, em relação a outros países, a lei brasileira tem algumas vantagens. Na União Europeia, há um sistema de cotas, ou seja, o número de trabalhadores é limitado, enquanto no Brasil o que determina o fluxo é a demanda. Nos Estados Unidos, a empresa precisa publicar anúncios de convocação nos jornais e provar que não há nativos qualificados para a função. No Canadá, um sistema de pontuação leva em conta a fluência no idioma, a titulação e outros fatores.
— Tem-se de pensar em uma legislação que facilite a concessão de visto permanente de trabalho. Por exemplo, permitir que determinadas categorias entrem com mais rapidez no país — afirmou Hélio Zylberstajn, professor de economia da USP.

Globo Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário