Em reunião aberta com entidades da sociedade civil e autoridades
no prédio da Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São
Paulo (Sejudc), representantes das três esferas de governo (municipal, estadual
e federal) começaram a discutir, nesta quinta-feira (31), medidas para elaborar
um plano de erradicação do trabalho escravo para a prefeitura de São Paulo.
Essa medida faz parte da carta-compromisso assinada no ano passado pelo então candidato a
prefeito Fernando Haddad (PT), que à época assumiu a
responsabilidade de desenvolver políticas municipais de erradicação da
escravidão contemporânea.
Segundo a
secretária-adjunta da pasta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São
Paulo, Larissa Beltramin, em breve a prefeitura deve começar a preparar uma
série de políticas públicas para promover o combate ao trabalho escravo no
decorrer da gestão. “Isso ainda não foi discutido no interior do governo,
porque só temos um mês, mas precisamos tratar dessa questão nos próximos
meses”, afirmou.
Sobre a situação de
trabalho escravo em São Paulo, Roque Patussi, coordenador do Centro de Apoio ao
Migrante (Cami), lembrou que é importante salientar que se trata de um problema
com pouca visibilidade. “Precisamos da criação de estruturas de atendimento às
pessoas submetidas à escravidão”, destacou. Segundo ele, não se pode tratar do
problema sem pensar no acolhimento das vítimas desse tipo de crime. “Precisamos
de um abrigamento que não seja o modelo de um albergue.”
Apesar de não haver um
plano propriamente em discussão, algumas medidas de combate ao trabalho
escravo, no entanto, já foram sinalizadas por outros representantes da gestão
municipal. Manoel Carvalheiro, assessor da Secretaria do Trabalho e do
Empreendedorismo de São Paulo, informou que a pauta da escravidão contemporânea
deverá ser incluída nos cursos de formação e capacitação profissional
oferecidos pela prefeitura.
De acordo com ele, o
órgão também está estudando a criação de um balcão de dúvidas para pequenos ou
médios empresários sobre o prejuízo econômico gerado a quem empregar pessoas em
condições análogas às de escravo. Além disso, os representantes da gestão
revelaram que a prefeitura está planejando incluir a pauta do trabalho escravo
no currículo das escolas municipais de ensino.
Interlocução e impessoalidade
Na avaliação de José Guerra, coordenador da Comissão Nacional de Combate ao Trabalho Escravo (Conatrae) e membro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é importante que as estruturas da administração municipal saibam criar políticas públicas que permitam a interação entre diferentes áreas de governo. “Para uma atuação mais efetiva, os órgãos da prefeitura precisam ter interlocução entre eles. É importante pensar as políticas públicas a partir da transversalidade”, destacou.
Na avaliação de José Guerra, coordenador da Comissão Nacional de Combate ao Trabalho Escravo (Conatrae) e membro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é importante que as estruturas da administração municipal saibam criar políticas públicas que permitam a interação entre diferentes áreas de governo. “Para uma atuação mais efetiva, os órgãos da prefeitura precisam ter interlocução entre eles. É importante pensar as políticas públicas a partir da transversalidade”, destacou.
Citada durante a reunião, a criação da Comissão Estadual para
Erradicação do Trabalho Escravo de São Paulo (Coetrae-SP) apareceu como um
exemplo bem-sucedido de trabalho em conjunto das diferentes áreas de governo.
Segundo Eloísa Arruda, que está à frente da Sejudc, somente essa articulação
entre diferentes órgãos do Poder Executivo estadual possibilitou a criação da
comissão. “Agregamos órgãos do Executivo com outros órgãos de governo e,
depois, com órgãos do Poder Judiciário”, explicou, referindo-se à participação de juízes do
trabalho nas fiscalizações trabalhistas em São Paulo.
Também apareceram como
pontos importantes na formulação de um plano municipal de combate à escravidão
a continuidade das atividades sobre o tema e a promoção de políticas
públicas nesse sentido, com base também no exemplo da Coetrae-SP. “Uma lição
que aprendemos na Comissão estadual é que precisamos despersonalizar o
trabalho, para que ele continue independentemente de quem estiver no governo.
Precisamos fortalecer sua impessoalidade e institucionalização”, defendeu
Juliana Armede, coordenadora do núcleo de enfrentamento ao tráfico de pessoas
da Sejudc.
“A sociedade já evoluiu para que o tema não seja apenas uma
questão de governo, mas principalmente uma questão de Estado”, lembrou o
coordenador-geral da Repórter Brasil,Leonardo Sakamoto, concordando com
a afirmação de Juliana.
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